Nonato Guedes
A opção do governador João Azevêdo (PSB) por ter o vice-prefeito de Campina Grande, Lucas Ribeiro (PP) como pré-candidato a vice-governador na sua chapa à reeleição, foi parte da estratégia concebida pelo chefe do Executivo para se reforçar na Rainha da Borborema, segundo colégio eleitoral do Estado, que conta com dois pré-candidatos fortes ao Executivo – o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), além de nome influente para vice na chapa do comunicador Nilvan Ferreira, do PL. Lucas agrega fatores como juventude e dinamismo, além de emprestar densidade por via da atração de partidos como o PSD, presidido pela sua mãe, a senadora Daniella Ribeiro, e outros.
Dentro do PP, o governador João Azevêdo já contava com apoio influente para sustentar a retaguarda eleitoral em João Pessoa, através do prefeito Cícero Lucena, e somava-se a ele em Campina o apoio do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, tio de Bruno e expoente de um “clã” que tem serviços prestados à cidade e ativa tradição política no Estado. Aguinaldo havia sido cogitado como alternativa para compor a chapa majoritária disputando o Senado pelo esquema oficial. Chegou a manter emulação firme com o deputado Efraim Filho, do União Brasil, quando este integrava a base e postulava a mesma indicação. Mas refugou a hipótese de concorrer à única vaga senatorial em jogo, alegando preferir disputar a reeleição à Câmara dos Deputados. Com a confirmação de Lucas para vice, está efetivamente integrado ao esquema.
Os Ribeiro, vale ressaltar, não formaram com a candidatura de João Azevêdo em 2018 e só recentemente se aproximaram da liderança do governador-candidato à reeleição. A própria senadora Daniella Ribeiro foi pródiga em declarações à imprensa em que firmou posição de independência ou de não-alinhamento com João, deixando claro que não se considerava expoente da base, mas evitou atritar-se com o governador, com o qual, agora, dividirá palanque. Atuante nos bastidores, a senadora protagonizou passagem surpreendente no cenário político local ao migrar do PP para o PSD, destronando do comando o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, e investindo-se na presidência com o apoio da direção e de líderes nacionais, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Quando estava no PP, Daniella teve boa interlocução com Ciro Nogueira, titular da Casa Civil do governo Bolsonaro, mas evitou assumir rótulo de “bolsonarista” na Paraíba.
A adesão dos Ribeiro ao esquema do governador João Azevêdo quebrou, naturalmente, o pacto com os Cunha Lima em Campina Grande, o que foi sinalizado pelo prefeito Bruno (PSD) ao confirmar a exoneração iminente de todos os indicados pelo Progressistas em sua gestão. Na verdade, pelo que deram a entender Daniella, Aguinaldo e o próprio Lucas, essa aliança restringia-se mais a Campina Grande, ou seja, ao âmbito municipal, tanto que em João Pessoa, na mesma eleição de 2020 em que Lucas foi consagrado vice, o PP empenhou-se de forma decidida na campanha de Cícero Lucena, aliado do governador João Azevêdo. Foi Cícero o grande artífice para aproximar os Ribeiro da órbita de João, tendo pronta receptividade da parte de Aguinaldo e do seu pai, o ex-prefeito e ex-deputado Enivaldo Ribeiro.
O governador conta com esse reforço para alavancar a candidatura em Campina Grande, ao mesmo tempo em que procura se fortalecer na Capital com o apoio do prefeito Cícero Lucena e de outras lideranças, inclusive, de esquerda. Quanto à senadora Daniella e ao deputado Aguinaldo, vão procurar massificar os dividendos do trabalho parlamentar que têm desenvolvido em favor da cidade. Além de recursos provenientes de emenda, Daniella mostrou ação no terreno dos benefícios, levando obras como a superintendência da Caixa Econômica Federal. Aguinaldo Ribeiro, quando foi ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff, demandou pleitos relevantes como a construção de um dos maiores complexos habitacionais de Campina Grande.
Lucas Ribeiro promete colaborar efetivamente com o governador João Azevêdo, tanto na campanha como no governo, se este for reeleito. A hipótese de reeleição de João encerra, para este, um ciclo no Executivo estadual, abrindo espaço para líderes emergentes, como o próprio Lucas Ribeiro, agora alçado ao cenário paraibano. É nessa perspectiva que Daniella e Aguinaldo consumaram a adesão à liderança de João Azevêdo na atual conjuntura política que se prenuncia acirrada na fase propriamente dita da campanha.