Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato ao governo da Paraíba pelo MDB, com o apoio do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que figura em sua chapa como pré-candidato ao Senado, apesar de enfrentar situação de inelegibilidade, continua vencendo “rounds” na queda-de-braço com o governador João Azevêdo (PSB) para ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com exclusividade no seu palanque a nível local. A última investida de Veneziano deu certo: arrastar o ex-presidente e líder nas pesquisas para a corrida presidencial para Campina Grande a fim de participar de um ato político, invertendo o roteiro original que previa presença e agenda movimentada de Lula em João Pessoa, a capital do Estado.
Já está tudo certo, como confirmou a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, que postou vídeo nas redes sociais convocando a militância petista para recepcionar o presidenciável na próxima terça-feira, dia 2 de agosto, na cidade Rainha da Borborema, onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem forte penetração. A desculpa arranjada pela cúpula nacional petista para atender ao capricho de Veneziano foi a de que prevaleceram “questões de ordem logística”, seja lá o que isto signifique, já que não há muita transparência nos comunicados à imprensa.
Inicialmente estava programada uma manifestação para 4 de agosto no Busto de Tamandaré, em João Pessoa, na orla marítima, o que desencadeou rumores sobre contra-ofensiva de bolsonaristas na Capital, com possibilidade de registro de incidentes. A coordenação nacional de campanha de Lula tem estado atenta a riscos a que ele pode se expor, e o nível de segurança planejado para o petista é “máximo”, conforme noticiou a mídia nacional.
Para além desses detalhes, pesou a análise de que Veneziano precisa ter sua pré-candidatura ao governo turbinada dentro do seu principal reduto, onde está acossado pelo pré-candidato Pedro Cunha Lima (PSDB), pelo pré-candidato bolsonarista Nilvan Ferreira, do PL e passou a sofrer concorrência direta do governador João Azevêdo, fortalecido com o apoio que fechou com o “clã” Ribeiro, tendo o vice-prefeito Lucas (PP) como pré-candidato a vice-governador e ganhando, finalmente, a adesão da senadora Daniella, mãe do ungido e do deputado federal Aguinaldo, tio do pretendente. Veneziano articula-se com o Partido dos Trabalhadores para assegurar quorum expressivo na visita de Lula a Campina Grande, mobilizando caravanas do MDB e PT de outras regiões do Estado para ilustrar fotografias mostrando o Parque do Povo lotado. É o local que se tornou famoso por atrair multidões em festejos populares, como o maior São João do Mundo de Campina Grande.
A Paraíba é um dos últimos Estados a ser visitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a demora tem sido atribuída ao impasse que foi criado depois que Veneziano, rompido com o governador, lançou-se pré-candidato ao governo em aliança com o PT paraibano. O senador emedebista já bateu recorde de encontros com Lula e de fotografias que são automaticamente publicadas em redes sociais para demonstrar afinidade, na expectativa de transferência de votos para seu projeto, aproveitando a onda que tem favorecido o ex-presidente nas pesquisas de opinião pública em confronto direto com o presidente Jair Bolsonaro. Azevêdo lutou sôfregamente para estar na base de Lula e fez uma verdadeira volta olímpica para conseguir voltar aos quadros do PSB, que participa da chapa de Lula com o candidato a vice, ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A cada semana há um novo capítulo nesse desaguisado político na Paraíba, que é acompanhado com expectativa por observadores e eleitores.
O ex-presidente Lula tem se encontrado com o governador João Azevêdo fortuitamente em eventos oficiais como reunião do Consórcio de Governadores do Nordeste, em Natal, Rio Grande do Norte, ou em atos conjuntos que reúnem PT e PSB, quer em Brasília, quer em São Paulo. O esforço extremamente visível da dupla Veneziano Vital do Rêgo-Ricardo Coutinho é fazer de tudo para impedir a aproximação do governador com o ex-presidente Lula e, sobretudo, evitar que Lula esteja em palanque com Azevêdo. Veneziano conseguiu extrair declaração de Lula, em vídeo, prometendo-lhe apoio no projeto como pré-candidato ao governo local, mas restam duas dúvidas: a primeira, sobre se Lula conseguirá abalar a aparente vantagem de Azevêdo e contribuir para eleger Veneziano; a segunda, se é correta a estratégia de tentar isolar o governador, quando Lula, mais do que nunca, precisa de votos e corteja líderes que, nos Estados, possam agregar apoios à sua ambição de voltar ao Palácio do Planalto, de preferência no primeiro turno, evitando uma batalha encarniçada contra Bolsonaro.