Nonato Guedes
Ao sacramentar Lucas Ribeiro (PP) como seu companheiro de chapa na campanha à reeleição, o governador João Azevêdo (PSB) repete estratégia adotada pelo antecessor e ex-aliado Ricardo Coutinho (PT) que, nas duas vezes em que concorreu ao Palácio da Redenção, “privilegiou” Campina Grande na chapa, como reconhecimento à importância do segundo colégio eleitoral do Estado, que também é uma das principais e pujantes cidades do interior do Nordeste. Em 2010, quando foi candidato pela primeira vez, Ricardo teve como vice o então deputado Rômulo Gouveia, que era filiado ao PSDB e em pouco tempo migrou para o PSD. Em 2014, Coutinho teve a doutora Lígia Feliciano (PDT) como candidata a vice. João manteve Lígia na chapa em 2018 e, agora, lançou mão de Lucas, que é vice-prefeito da Rainha da Borborema, em movimento para atrair a senadora Daniella Ribeiro, sua mãe, e agradar ao prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que teve apoio oficial em 2020.
A tradição de prestigiar expoentes de Campina Grande vem desde João Agripino, na década de 70, com Severino Cabral, perdurou em 82, quando Wilson Braga escolheu como vice o empresário José Carlos da Silva Júnior e passou por Tarcísio Burity, na volta em 1986, quando escolheu o tribuno Raymundo Asfora, que foi encontrado morto faltando poucos dias para a investidura. José Maranhão, que foi efetivado como titular por ser vice de Antônio Mariz, que faleceu no exercício do cargo, passou ao largo da dualidade geográfica João Pessoa-Campina Grande no Executivo, e disputou a reeleição em 98 tendo como vice Roberto Paulino, de Guarabira, no Brejo. Em 2006, quando ensaiou mais uma tentativa de retorno, Maranhão lançou como vice Luciano Cartaxo, do PT, com atuação fincada na Capital, apesar da sua origem em Sousa. Maranhão e Cartaxo foram alçados à titularidade no começo de 2009 quando o TSE cassou o mandato de Cássio Cunha Lima (PSDB), que tinha como vice José Lacerda Neto, de notórias origens sertanejas. Em 2010, o vice de maranhão foi Rodrigo Soares, do PT, cuja militância era focada no litoral e, colateralmente, em João Pessoa.
Em 2018, na última tentativa de retomar o governo, José Maranhão teve como vice Bruno Roberto, do PR, ligado a Campina Grande e que, no pleito deste ano, é pré-candidato ao Senado na chapa de Nilvan Ferreira, ambos do PL. Já o candidato Lucélio Cartaxo, que concorreu pelo PV em 2018, teve como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues. Foi a chapa eminentemente doméstica ou familiar, improvisada depois que Luciano e Romero decidiram continuar nos respectivos cargos para os quais haviam sido reeleitos lá atrás, em 2016, apostando na capacidade que julgavam ter de reforçar os nomes de casa. João Azevêdo acabou ganhando por ser novidade política combinada com experiência de gestor e, principalmente, por ter tido como grande cabo eleitoral o ex-governador Ricardo Coutinho, que estava no auge da consagração como líder político, usufruindo popularidade numa conjuntura em que a Operação Calvário era desconhecida da opinião pública.
Não há jurisprudência formada no sentido de que a presença de campinenses em chapas majoritárias como candidatos a vice seja garantia de vitória nas urnas. Mas é fato que não chega a atrapalhar. Há nomes com maior ou menor densidade eleitoral, entre os que foram citados em períodos recentes da política paraibana. De resto, Campina Grande, que é ciosa de seu poderio e da sua independência, passou a alternar candidatos a vice-governador com postulantes ao governo, alcançando êxitos marcantes, desde 1990, com Ronaldo Cunha Lima, sequenciado pelo filho Cássio em 2002 e 2006. Ainda em 2014, Cássio candidatou-se novamente ao governo, junto com outro expoente de Campina Grande – Vital Filho. Mas os ventos da conjuntura sopraram a favor da recondução de Ricardo Coutinho. Os analistas políticos da Borborema costumam dizer que o “meridiano” da sucessão estadual passa por lá – e esta é uma verdade cristalizada.
Agora mesmo, no cenário eleitoral para o governo do Estado em que João Azevêdo pleiteia a reeleição com Lucas Ribeiro a tira-colo, dois outros expoentes de Campina Grande se projetam na corrida pelo Palácio da Redenção – o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que está coligado ao PT com as bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, que optou pelo nome do empresário Domiciano Cabral, filiado ao Cidadania e com base de atuação em João Pessoa, para seu vice. Veneziano luta para emplacar o nome de Maísa Cartaxo, mulher do ex-prefeito Luciano Cartaxo, e filiada ao PT, como sua vice. Um outro postulante ao governo, o comunicador Nilvan Ferreira (PL), já anunciou que seu nome para a vice será originário de Campina Grande. Quer na ante-sala ou no salão principal do Palácio, Campina seguramente estará no poder estadual como saldo da jornada das urnas este ano. Há muita expectativa sobre a performance de Lucas Ribeiro que, no dizer de João Azevêdo, agrega “juventude” à disputa. Lucas está no páreo como trapezista político, já que saltou da vice-prefeitura de Campina, onde foi eleito em oposição ao esquema de Azevêdo, para compor esse esquema e tentar abreviar sua chegada ao governo do Estado.