Nonato Guedes
No dia seguinte à visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Campina Grande, onde pediu votos para o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato ao governo, aliados do governador João Azevêdo (PSB) afirmam que o palanque dele continua alinhado com a pré-candidatura do petista ao Planalto, mantendo-se, assim, o compromisso que tem sido reiterado pelo chefe do Executivo paraibano. João Azevêdo já deixou claro que não cobra exclusividade de apoio a presidenciáveis e que o seu interesse é o de agregar votos para a campanha de Lula. Amanhã, na convenção oficial que terá presença do ex-governador Geraldo Alckmin, vice de Lula, os socialistas buscarão demonstrar unidade e força sob a liderança do governador candidato à reeleição.
O deputado federal Gervásio Maia, presidente do PSB, e outros líderes que seguem João, adotaram nas análises e declarações feitas nas últimas horas o tom que foi usado pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, lamentando que Lula tenha prestigiado o “palanque mais fraco” no Estado, que seria o de Veneziano. Não faltaram comparações sobre o público presente à manifestação política em Campina Grande, que teria sido inferior à multidão arrebanhada por Lula em sua última passagem por aquela cidade, anos atrás. Como se sabe, houve mobilização de caravanas por parte do MDB e do PT paraibano em diversas regiões, mas avaliava-se que tal mobilização teria sido insuficiente para juntar público expressivo, à altura do apoio de que carece a pré-campanha de Lula.
A postura de Lula, fugindo de críticas à administração de João Azevêdo e, com isso, destoando da linguagem do senador Veneziano Vital e do ex-governador Ricardo Coutinho, foi considerada respeitosa por liderados do governador socialista. Teria sido, nas entrelinhas, um aceno positivo que, conforme essas análises, facilita a manutenção do alinhamento na disputa eleitoral. Lula repetiu tática usada em Pernambuco e em outros Estados onde adversários locais apoiam sua pré-candidatura, nominando candidatos que têm o seu apoio por força de acordos regionais chancelados a nível nacional mas sem hostilizar concorrentes apoiadores. Em Pernambuco, o ato foi de apoio à pré-candidatura de Danilo Cabral, do PSB, que está lá atrás em pesquisas, mas quem roubou a cena foi a militância pró-Marília Arraes, do Solidariedade, que está fechada com Lula independente de sua preferência nestas eleições.
No círculo do governador da Paraíba o que se diz é que a confirmação de apoio a Lula foi decidida mesmo dentro da perspectiva de declaração de apoio pelo ex-presidente a Veneziano, por causa da manobra deste atraindo o PT para sua chapa e tornando o ex-governador Ricardo Coutinho pré-candidato ao Senado apesar das evidências de inelegibilidade que recaem sobre ele. O governador João Azevêdo, aliás, já demonstrou capacidade proverbial de exercitar a paciência em política. Não age de forma açodada, no calor das pressões emocionais. Da mesma forma, investe em estratégia que pode lhe render dividendos, mesmo que não a curto prazo. Foi essa dinâmica que o levou a ser readmitido com honras no PSB depois de ter sido golpeado por Ricardo Coutinho. E foi graças ao seu estilo metódico que deu a volta por cima e se recolocou na base de Lula, desafiando prognósticos de analistas locais e bravatas de adversários que querem vê-lo pelas costas.
O último gesto de João Azevêdo, indicando a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB) como pré-candidata ao Senado, teria sido fulminante na estratégia de medição de forças que o governador sustenta no campo da esquerda na Paraíba. Pollyanna tem ligações históricas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde quando militou no Partido dos Trabalhadores e se elegeu prefeita da cidade de Pombal, dando visibilidade a modelos de gestão. Ela integra a soma das afetividades que o ex-presidente coleciona e que não refuga por causa de conveniências políticas paroquiais. Pollyanna foi lançada, inclusive, como alternativa para agregar a esquerda diante da inelegibilidade de Ricardo, que continua a ser decantada por expoentes nacionais do PSB. Situações assim indicam a sutileza dos cenários em que se move o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conciliar apoios na sua cartada decisiva para retomar o poder no Palácio do Planalto.