Nonato Guedes
João Pessoa completa hoje 437 anos, coincidindo com a emancipação da Paraíba, o dia da padroeira Nossa Senhora das Neves e o aniversário do prefeito Cícero Lucena (PP), nascido em 1957 na cidade de São José de Piranhas, no Alto Sertão, e que se identificou de tal forma com a Capital que tem o privilégio de governá-la pela terceira vez, após um intervalo de quase duas décadas. Ele foi eleito inicialmente em 1996 e reeleito em 2000. Na sequência ocupou mandato de senador e estava afastado da militância política quando decidiu voltar, em alto estilo, em 2020, disputando o posto com o apoio do governador João Azevêdo (PSB). O páreo foi um dos mais concorridos da história, com cerca de 14 postulantes, e Cícero avançou para o segundo turno derrotando ex-auxiliares como o deputado federal Ruy Carneiro e o ex-governador Ricardo Coutinho (hoje no PT). O adversário de Cícero foi o comunicador Nilvan Ferreira, natural de Cajazeiras, que era filiado ao MDB e que este ano concorre pelo PL ao governo do Estado.
Um dos marcos da atual administração, de acordo com ele, foi o lançamento de uma das maiores intervenções urbanísticas da história de João Pessoa. Como “um grande presente” para a população, Cícero lançou o projeto do Parque da Cidade a ser construído no local do antigo Aeroclube, no bairro do Bessa, com áreas de convivência, espaços para a prática de esportes e uma mudança radical na mobilidade urbana e humana daquele logradouro. O projeto tem a assinatura do escritório Burle Marx, referência no país nesse tipo de trabalho. O prefeito tem investido em obras de infraestrutura nos mais diferentes recantos do território pessoense, bem como em saneamento, educação e políticas públicas que são inspiradas em modelos de gestão que deram certo, em outras localidades do país. Lá atrás, numa das suas gestões, Cícero credenciou-se com o fim do “Lixão do Róger”, que era uma espécie de nódoa na paisagem urbanística de João Pessoa, pelos graves problemas sociais acarretados.
A filosofia de Cícero, no terceiro mandato, é procurar conciliar a preservação de aspectos antigos da formação histórica da urbe pessoense com a modernização e expansão de vias urbanas e de equipamentos públicos que proporcionem melhor qualidade de vida para a sociedade. Neste sentido, tem sido favorecido pela bem-sucedida parceria com o governo João Azevêdo. O retorno de Cícero à prefeitura possibilitou, por assim dizer, o reatamento da parceria entre o governo do Estado e a prefeitura de João Pessoa, que estava congelada no período em que o antecessor Luciano Cartaxo geria a cidade e Ricardo Coutinho administrava a Paraíba. Essa parceria foi frutuosa, por exemplo, nas ações conjuntas de enfrentamento à pandemia de Covid-19 em João Pessoa, sobretudo na campanha de vacinação em massa que foi deflagrada e permitiu conter a dimensão que a calamidade vinha assumindo. Cícero atraiu outros investimentos na Saúde mediante o prestígio dado pelo ministro Marcelo Queiroga, que é paraibano. Isto faz com que, no geral, a gestão ainda tenha crédito de confiança, em meio a cobranças pontuais por ações e intervenções eficazes em diversos setores.
A iniciação política de Cícero deu-se em 1990 quando ele integrou, na condição de candidato a vice-governador, a chapa encabeçada por Ronaldo Cunha Lima (PMDB) que foi vitoriosa ao governo do Estado em segundo turno contra Wilson Braga. Lucena foi catapultado da construção civil, área em que se destacava em João Pessoa, para a vaga de vice de Ronaldo, surpreendendo os meios políticos. Surpreendeu mais ainda quando, dentro do Executivo, cumpriu missões espinhosas delegadas por Ronaldo e correspondeu a expectativas, como no caso da luta pela reabertura do Paraiban, que havia sofrido liquidação extrajudicial decretada pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. Quando Ronaldo renunciou para se candidatar ao Senado, Cícero investiu-se na titularidade por dez meses e mostrou-se diligente e operoso, demonstrando vocação como administrador. A passagem pelo governo do Estado foi passaporte para sua eleição, duas vezes, à prefeitura da Capital.
No seu currículo constou, também, uma passagem pela Secretaria de Políticas Regionais, com status de ministério, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi lá que Cícero Lucena teve contato com a retomada dos primeiros estudos concernentes a um tema bastante caro ao Nordeste brasileiro: a transposição das águas do rio São Francisco, que acabou ganhando impulso, mesmo, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em termos partidários, Cícero migrou do antigo PMDB para o PSDB. Sua mulher, Lauremília Lucena, também com origens sertanejas, foi vice-governadora na primeira gestão de Cássio Cunha Lima, a partir de 2003, e revelou desenvoltura na execução de programas sociais relevantes. Nas eleições de 2010, Cícero chegou a cogitar a hipótese de disputar o governo do Estado e ensaiou movimentos nessa direção, recuando quando Cássio Cunha Lima se aliou a Ricardo Coutinho e adotou este como nome para o Palácio da Redenção. Político moderado, Cícero não é de antecipar pretensões. Este ano está empenhado na reeleição do governador, como retribuição pelo apoio que dele teve em 2020, e na eleição do filho, Mersinho, vice-prefeito de Cabedelo, a deputado federal. Um quarto mandato à frente da prefeitura da Capital? Só o futuro dirá qual é o rumo da sua trajetória na vida pública.