Nonato Guedes
Na convenção do PSB que homologou sua candidatura à reeleição, o governador João Azevêdo foi prestigiado e elogiado pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que é candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, e sentiu-se motivado com o apoio dos correligionários da Paraíba, a ponto de assumir o enfrentamento direto com os adversários, referindo-se à Operação Calvário, que apontou denúncias de desvio de verbas públicas da Saúde e Educação no governo Ricardo Coutinho, seu ex-aliado, através da contratação de organizações sociais. Ao adotar esse tom, o governador contrariou previsões de analistas políticos de que pudesse fugir da discussão da Calvário, supostamente por ser um tema-tabu que estourou poucos meses após sua investidura no Executivo em 2019, depois de vencer o pleito de 2018 com respaldo de Coutinho.
“A Paraíba de hoje é muito melhor do que a Paraíba que eu recebi em janeiro de 2019, porque é uma Paraíba que não tem mais OS (organizações sociais) que roubaram dinheiro desse Estado. É uma Paraíba em que se tem respeito e harmonia com todos os poderes, que não vivem uma guerra eterna”, pontuou o chefe do Executivo, assinalando que “esta é a grande diferença”. A ofensiva do governador foi, na verdade, um contra-ataque a adversários políticos, situados à esquerda e à direita, que abriram temporada de denúncias contra o seu governo como tática de captação de votos, dentro de estratégia para tentar acuar o esquema liderado por Azevêdo. O governador já havia dado sinais de que mesclaria o relato de ações administrativas até agora empreendidas com a recordação de episódios dolorosos que abalaram a vida pública e as instituições na Paraíba nos últimos anos, e ontem, no Forrock, seguiu à risca o figurino. Foi uma prévia de que está pronto para o debate de questões delicadas do interesse da população, até para esclarecer a posição do seu governo diante de versões espalhadas pelos que o combatem.
Ele mencionou outras características da administração como o diálogo com categorias sociais em torno de suas reivindicações legítimas, mencionando o segmento da Universidade Estadual da Paraíba e a Segurança Pública, com a efetivação do PCCR da Polícia Civil, além da concessão de reajuste e vantagens a integrantes das corporações, referindo-se, igualmente, ao trabalho efetuado com o segmento da Educação. O ex-governador de São Paulo e vice de Lula, Geraldo Alckmin, opinou que João Azevêdo fez da Paraíba um Estado de desenvolvimento, com obras de infraestrutura pelas mais diferentes regiões do território, destacando, também, a solidariedade com outros Estados no período de calamidade da pandemia de Covid-19 em seu estágio mais crítico. “A Paraíba também tem austeridade fiscal e fico feliz de ser do partido do governador”, salientou o vice de Lula, arrematando: “A Paraíba tem um dos melhores governadores do Brasil e que orgulha o PSB”.
A presença de Alckmin na convenção de Azevêdo foi um alento para o governador, diante da presença de Lula ao lado de Veneziano Vital do Rêgo, que é candidato a governador pelo MDB, aliado ao ex-governador Ricardo Coutinho, que postula o Senado. Contra Ricardo, João apresentou a candidatura da deputada estadual Pollyanna Dutra, do PSB, com atuação a partir da região de Pombal, onde empreendeu gestões que tiveram apoio dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ganharam visibilidade nacional e destaque além-fronteiras. “Vocês nos dão hoje a certeza de uma vitória extraordinária”, entoou o governador, ressaltando, também, a figura do candidato a vice, Lucas Ribeiro, do PP, que, conforme disse, alia qualidades como juventude, espírito de colaboração e compromisso com a solução das demandas do povo paraibano.
A convenção realizada ontem em João Pessoa foi o ponto alto de toda uma laboriosa engenharia política arquitetada pelo governador João Azevêdo para imprimir à sua chapa a configuração que havia perseguido. Nessa configuração estava o desejo de fazer parte da base de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e isto foi assegurado com o retorno de João ao PSB e com a escolha de Alckmin, já filiado ao Partido Socialista, para vice de Lula. Ao mesmo tempo, o chefe do Executivo tem investido claramente na unidade do seu esquema, não só para efeito de demonstração de força mas pela necessidade de ajustar ponteiros e de cravar afinidades para o enfrentamento dos desafios pela frente. O que se pode dizer, em conclusão, é que o chefe do Executivo saiu da convenção extremamente otimista, ainda que evitando triunfalismos, e fortalecido por estar a sua candidatura ancorada no apoio de um leque de partidos e lideranças com peso e influência no mapa eleitoral do Estado. O governador deu o tom para a batalha de dois meses rumo às urnas.