Nonato Guedes
O primeiro debate entre candidatos ao governo da Paraíba, promovido pela TV Band Manaíra, sob coordenação da jornalista Cláudia Carvalho, foi uma “prévia” do bombardeio cerrado que os adversários do governador João Azevêdo (PSB), que postula a reeleição, vão desencadear contra ele na campanha a fim de tentar desgastá-lo e minar suas chances no páreo. Curiosamente, conforme a leitura de interlocutores mais próximos do chefe do Executivo, o fogo cruzado diparado por diversos postulantes contra a sua primeira gestão aparentemente indica que João é temido como um candidato forte, respaldado pelo comando da máquina e pelo saldo possível de realizações.
Não precisou ensaio combinado entre candidatos como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), comunicador Nilvan Ferreira (PL), que se destacaram no quesito “agressividade” com vistas a eleger João como alvo. As motivações que inspiraram certos ataques ao governador tinham caráter subjetivo, mesmo por parte de quem, até pouco tempo, foi aliado dele, que é o caso do senador Veneziano, cuja mulher, Ana Cláudia, ocupou uma secretaria de Estado na fase de cordialidade das relações. O que convergia era o objetivo final: buscar desqualificar o trabalho do governador e persuadir, sutilmente, o eleitorado, a fazer uma mudança na estrutura de governo. Algumas das propostas agitadas eram meramente cosméticas, sem aprofundamento que esclarecesse melhor a opinião pública; outras constituíam repetição de ideias que já haviam sido exploradas em outras batalhas.
O caso da construção de um Porto de Águas Profundas, suscitado pelo comunicador Nilvan Ferreira como uma de suas prioridades, embutindo o compromisso de, desta feita, materializá-lo, tem sido recorrente nas campanhas eleitorais recentes na história da Paraíba, e é recolocado em pauta porque, supostamente, poderá vir a ser ferramenta valiosa para incrementar o desenvolvimento econômico e social do Estado e facilitar escoamento de produtos que estão no radar no processo de reinvenção das vocações da Paraíba para o progresso. Candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Nilvan Ferreira insinuou que a administração estadual só não “quebrou” de 2020 para hoje por causa de recursos repassados pelo governo federal durante a pandemia de covid-19. Faltaram números exatos e comprobatórios da rubrica dos tais recursos destinados, mas o interesse de Nilvan era menos o de esclarecer do que o pôr o governador em saia justa. Azevêdo falou em “desinformação”.
O chefe do Executivo, aliás, deu ênfase ao esforço que foi empreendido na sua gestão para garantir o equilíbrio fiscal em meio a restrições de atividades econômicas, provocadas pelo combate à pandemia de Covid-19. Ele expôs, a propósito, que mesmo enfrentando uma situação atípica ou extremamente delicada, o governo da Paraíba amealhou a nota máxima de avaliação sobre capacidade de pagamento junto à Secretaria do Tesouro Nacional, obtendo o índice rating A, como consolidação da eficiência das ações fiscais e financeiras diante das análises de governo e de mercado. Além de Nilvan, o deputado Pedro Cunha Lima e o senador Veneziano Vital do Rêgo abordaram outros aspectos negativos que disseram ter identificado na gestão em andamento, numa tática peculiar para tentar acuar a todo custo o chefe do Executivo e desviar sua atenção do discurso laudatório sobre supostas realizações concretas.
O que ficou evidente do debate na TV Babd/Manaíra é que os adversários do governador – aí acrescidos outros que também se fizeram representar no estúdio – não vão dar a mínima trégua e que farão do governo do Estado cavalo de batalha das suas plataformas eleitorais, desnacionalizando relativamente o debate. Assessores do governador deixam claro que ele tem munição para despejar e para rebater críticas e insinuações, sobretudo quando o confronto descambar para questões explosivas como a Operação Calvário, que trata de desvio de recursos na Saúde e na Educação no governo Ricardo Coutinho, do qual João Azevêdo participava. O jogo está só começando, com alguns movimentos que tendem a se cristalizar. Mas a campanha, como os debates, é imprevisível. Esta, particularmente, pode ser uma das mais acirradas dos últimos tempos, quando entrar no radar o componente nacional, exemplificado no duelo entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).