Nonato Guedes
Com a campanha eleitoral começando para valer, os analistas políticos detectam sinais de mudança na estratégia do senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato do MDB ao governo da Paraíba em aliança com o Partido dos Trabalhadores. Até então umbilicalmente colado ao projeto do ex-governador Ricardo Coutinho de se eleger ao Senado, o parlamentar emedebista parece mais focado no seu projeto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o ungiu e o proclamou seu candidato no Estado na recente passagem por Campina Grande, ignorando a pretensão do governador João Azevêdo (PSB), que também está na sua base política de apoio. Veneziano sempre avaliou que Lula seria o seu grande cabo eleitoral para vencer João e outros concorrentes, mas chegou a estreitar laços com Ricardo Coutinho, talvez retribuindo o apoio que deste recebeu para se eleger senador pelo PSB em 2018. Ricardo se tornava útil, também, por ter linha direta com Lula, sendo, indiscutivelmente, o político paraibano com mais prestígio junto ao ex-mandatário.
Ocorre, segundo versões, que eclodiram desentendimentos entre Ricardo e Veneziano na fase decisiva da montagem da chapa majoritária liderada pelo senador do MDB quanto à indicação de nomes para preencher o cargo de vice. A vaga de senador já estava assegurada para Coutinho, com as bênçãos de Lula, mesmo desafiando a suspeição de inelegibilidade que recai sobre ele e que deu partida a demandas jurídicas ainda insolúveis na esfera de Cortes superiores em Brasília. Ricardo tenta reverter no Supremo Tribunal Federal o embargo à sua candidatura nas eleições deste ano que foi oposto pelo Tribunal Superior Eleitoral tomando por base episódio pretérito do quadro político paraibano que teria incidido em infração legal. A confiança de Ricardo numa decisão favorável foi reforçada pelo precedente da liminar que obteve em 2020 para disputar a prefeitura de João Pessoa, onde o que não correspondeu foi o resultado nas urnas. E ele vinha tendo o endosso pleno, tanto do ex-presidente Lula, como de Veneziano, para seguir na jornada com vistas a assegurar a candidatura.
Quanto à candidatura a vice, que ficou de ser chancelada também pelo PT, Ricardo movimentou-se internamente para impor nome de sua preferência a Veneziano, tendo sugerido a formação de uma lista com quatro nomes, um dos quais o da ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, que segue a sua liderança e que já enfrentou problemas judiciais por causa da Operação Calvário, que remete ao desvio de recursos da Saúde e Educação no período em que Ricardo foi governador. Veneziano, pressentindo manobra ricardista para entronizar “cavalo de Tróia” na sua chapa, bagunçou o processo pretextando que havia outros nomes no PT, fora da lista, que poderiam agregar mais à chapa. Essa reação levou a um recuo estratégico da cúpula local, monitorada por Ricardo e dirigida por Jackson Macêdo, que retirou a tal lista, deixando Veneziano livre para escolher um nome oriundo do petismo.
A definição acabou sendo pelo nome da professora Maísa Cartaxo, mulher do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que na condição de primeira-dama, em dois mandatos de Luciano, desenvolveu projetos sociais relevantes na Capital paraibana. E o martelo foi batido, segundo tudo indica, quando da recente visita de Lula à Paraíba, após reuniões a portas fechadas em Campina Grande, onde o candidato do PT à Presidência da República cumpriu vasta agenda de contatos políticos. Diz-se que, no fundo, a indicação do nome de Maísa traiu revanche de Luciano contra Ricardo. Ambos travaram um sutil acerto de contas quando retornaram às hostes do PT, com Luciano tentando se credenciar, inclusive, como candidato ao governo do Estado. A hipótese não sensibilizou Ricardo, que encontrou em Veneziano Vital do Rêgo o aliado perfeito para dar as cartas na seara petista local, tarefa facilitada diante da aproximação que o senador do MDB construiu com o ex-presidente Lula, tornando-se interlocutor privilegiado deste, em assuntos nacionais e de âmbito local.
Já se sabia, desde o começo, que a campanha do PT na Paraíba este ano não seria fácil devido à presença avassaladora de Ricardo Coutinho, movido por sede de vingança contra alguns que identifica como algozes seus na conjuntura política paraibana, de cujo índex não escapam, sequer, profissionais da imprensa, conforme ele tem inquinado em tom de desabafo em algumas manifestações públicas. Em paralelo, porém, sabia-se que era inevitável essa atuação de Ricardo, pelos laços dele com o ex-presidente Lula, que diz prezar bastante a “soma das afetividades”. O fato é que Lula tem se movido no cenário do nosso Estado com cautela para não ferir melindres nem perder votos ou apoios, e, em várias ocasiões, tem delegado tarefas a emissários de sua confiança, até porque há prioridades mais urgentes na sua agenda que precisam ser desfiadas. Quanto a Veneziano, precisa rezar muito para que se decida o mais rápido possível o caso da inelegibilidade ou não de Ricardo. A controvérsia, aliada ao bombardeio que é direcionado a Ricardo, apenas contribui para desgastar a campanha e, em certa medida, enfraquecê-la. Ricardo, aparentemente, está entregue à própria sorte. Mas ainda faz um barulho danado, tanto no PT como nas hostes políticas paraibanas.