Nonato Guedes
A campanha eleitoral para o governo da Paraíba, que está oficialmente começando, será particularmente diferente – e mais difícil – para o atual gestor, João Azevêdo, do PSB, não só porque envolve o desafio da reeleição, que é sempre arriscado, como porque reveste-se de conotação diferente em analogia com a disputa de 2018 no que se refere a alianças políticas e aos temas que estão no radar. Há quatro anos, João Azevêdo venceu no primeiro turno, tendo um cabo eleitoral influente, o então governador Ricardo Coutinho, que ficou no mandato até o último dia a pretexto de assegurar a continuidade. Hoje, ambos estão rompidos, competem pelo prestígio junto ao ex-presidente Lula, cuja candidatura ao Planalto apoiam, e Azevêdo, mesmo situando-se na esquerda, abriu a guarda para acomodar expoentes da direita e do centro, em certa medida afetando a homogeneidade ideológica. Fez isto guiado pelo pragmatismo.
Em relação ao desafio da reeleição, está implícito no julgamento plebiscitário que o eleitorado fará da primeira gestão empalmada por Azevêdo e que tem registrado avanços mas tem sido dificultosa na entrega de obras e de resultados que beneficiem a população com projetos e programas de grande impacto. Em parte, essa conjuntura foi derivada dos efeitos da pandemia de covid-19, que, como se sabe, não constituiu apenas tragédia sanitária, mas também tragédia social e econômica, com fechamento de postos de trabalho e aumento dos índices de desemprego, além de inovações nas relações de trabalho que jogaram reflexos na vida da sociedade. O governador tem dito que não obstante a calamidade logrou estabilizar o chamado equilíbrio fiscal, da mesma forma como assegura que o ritmo de investimentos do poder público não foi drasticamente abalado. Os adversários queixam-se, em relação a este último ponto, da ausência de obras em diferentes regiões do Estado.
A experiência da reeleição na Paraíba, desde que foi implantada em 1998, favoreceu nas urnas praticamente todos os governantes que dela se valeram, o primeiro deles José Maranhão, que havia assumido a titularidade como vice de Antônio Mariz, no episódio da morte deste em 1995. Cássio Cunha Lima (PSDB) foi eleito em 2002 e reeleito em 2006, não completando o mandato porque no último ano, em 2009, enfrentou cassação decretada pelo TSE e por ele já contestada em inúmeras manifestações públicas. Ricardo Coutinho, eleito em 2010 pelo PSB, foi reeleito em 2014 e, como foi registrado, contribuiu para a ascensão de Azevêdo, que se projetara como técnico competente em secretarias que ocupou nas gestões municipal (na Capital) e estadual. Só Roberto Paulino não se beneficiou da reeleição. Ele foi investido como governador no episódio da renúncia de Maranhão, de quem era vice, para concorrer ao Senado, e pleiteou o Executivo em 2002, avançando para o segundo turno, sem, contudo, concretizar o seu projeto.
O governador João Azevêdo, segundo afirmam seus aliados políticos, executa uma administração que tem tudo para estar credenciado com bons ou excelentes índices de aprovação popular, analisada no aspecto geral e consideradas as condições objetivas de temperatura e pressão a que o governo tem se submetido na realidade vigente. Os adversários identificam, porém, que há falhas e omissões pontuais, algumas supostamente gritantes, em compartimentos da ação pública no período enfeixado pelo atual governador, que é inquinado, também, por alegada falta de diálogo com categorias do funcionalismo público e com entidades representativas da sociedade. Junto a setores aparentemente neutros, o governo de João Azevêdo passa a impressão de que ficou a dever nestes quatro anos, mesmo ressalvadas as condições excepcionais adversas que foram enfrentadas com a pandemia. Desse ponto de vista, o governo teria podido fazer mais, acomodando-se, porém, em soluções burocráticas para demandas cruciais que persistem na ordem do dia.
Este balanço ou confronto já está vindo a público nos debates que têm sido ensaiados, não apenas na mídia, mas em outras instâncias de discussão da sociedade, vivamente interessada ou empenhada em conduzir a Paraíba pelo rumo da transformação que signifique desenvolvimento efetivo. O governador sustenta que em 2022 está deixando a Paraíba inegavelmente melhor do que a encontrou em 2019, quando recebeu o bastão das mãos de Ricardo Coutinho. Há, é claro, trunfos que favorecem o governo e seu projeto político-eleitoral – e, nesse ponto, a expectativa é quanto à forma com que será administrado o eventual potencial disponível para positivar a imagem do governante no desafio da recondução ao Executivo estadual. Em última análise, acompanha-se com lupa a conjuntura nacional, da disputa pela presidência da República, com a radicalização acentuada entre os grupos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A luta pessoal de Azevêdo é para manter a escrita da vitória na reeleição, o que lhe daria passaporte para sortidas políticas mais promissoras no futuro, já que não se cogita que, em sã consciência, ele vá desperdiçar perspectivas quanto ao projeto político-eleitoral.