Nonato Guedes
No debate de que participou, ontem, numa emissora de TV na Capital, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) esforçou-se para aparentar tranquilidade diante do bombardeio jurídico que põe em xeque a sua elegibilidade para o pleito deste ano e chegou a reclamar do que identificou como “campanha midiática” para prejudicar sua imagem. Essa orquestração, na sua leitura insistente, parte não apenas de adversários políticos como de setores da imprensa supostamente vinculados a outros postulantes ou detentores de outros interesses. Por razões aleatórias, o ex-governador não aprofunda o esclarecimento à opinião pública sobre o que está em jogo no processo, na sua visão, o que confunde a sociedade sobre acusações ou insinuações.
Em termos concretos, um concorrente de Coutinho, o candidato ao Senado Bruno Roberto, do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, fez movimentos, ontem, para impugnar o registro da pretensão do ex-governador, citando decisão da ministra Rosa Weber, que recentemente rejeitou um recurso apresentado pelo petista objetivando suspender a pena de inelegibilidade em um dos processos julgados pelo TSE. Bruno Roberto alegou, ainda, que Ricardo Coutinho teve suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado, fato que ocasionaria a inelegibilidade prevista em Lei Complementar. Nos meios políticos, criou-se a expectativa de que a iniciativa patrocinada por Bruno Roberto enseje outras ações de impugnação contra o ex-governador, retirando-lhe o direito de figurar no páreo eleitoral deste ano. Em 2020, Ricardo foi beneficiado por uma liminar, concedida por outros motivos, para disputar as eleições a prefeito de João Pessoa, nas quais não logrou avançar rumo ao segundo turno.
Se a atitude de Bruno Roberto funcionará como precedente para agitar uma decisão concreta sobre a elegibilidade ou não de Ricardo em 2022 ou se terá eficácia para produzir a sua inelegibilidade por fatos que estão sendo arrolados em processos em tramitação (não em conclusão), é tema para muita controvérsia. Há, porém, uma certeza: o Partido dos Trabalhadores da Paraíba e o senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato do MDB ao governo, não cogitam nenhum “Plano B”, ou seja, nenhum outro nome para substituí-lo. O presidente do diretório estadual petista, Jackson Macêdo, chegou a ser enfático, ontem, quando abordado a respeito, descartando “in limine” qualquer discussão nesse sentido. Já Veneziano Vital do Rêgo manifestou-se no sentido de conceder a Coutinho o benefício da dúvida, ao dizer, em princípio, confiar no Direito dele. Emendou com a ressalva de que não deve se debruçar sobre hipótese, que seria a da cogitação de nome-substituto.
Ricardo Coutinho foi o principal articulador, a nível local, dentro do Partido dos Trabalhadores, das gestões para que o partido encampasse a candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) a governador, como parte de um acordo em que preliminarmente estaria assegurada para ele (Ricardo) a vaga ao Senado, mesmo com a ameaça de inelegibilidade correndo solta. Ricardo também atuou para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência da República, fizesse declaração de apoio à candidatura de Veneziano, não à do governador João Azevêdo (PSB) em nosso Estado. E, por fim, buscou influenciar na escolha por Veneziano de um nome do PT à vice-governança. Perdeu essa queda-de-braço para o “clã” Cartaxo, aboletado no PT, que indicou o nome da doutora Maísa, mulher do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, para a vaga. O apoio na corrida ao Senado da parte de Lula sempre esteve garantido para Ricardo.
Com a deflagração, a partir de hoje, da campanha eleitoral propriamente dita, vai se intensificar a pressão em cima do ex-governador Ricardo Coutinho por parte dos adversários, inclusive, no campo da esquerda. A deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), que já foi aliada de Ricardo e foi lançada pelo governador João Azevêdo para candidata ao Senado em sua chapa, já participa de embates sobre propostas com ele e procura dividir e ampliar o campo da esquerda, de modo a se favorecer com votos, atraindo deputados dissidentes do Partido dos Trabalhadores e outros líderes que ainda testam suas fichas no jogo político-eleitoral de 2022. A deputada Pollyanna tem tido carta-branca da parte do governador João Azevêdo para espalhar o raio de irradiação da sua pré-candidatura ao Senado. Em caso de confirmação de inelegibilidade de Ricardo Coutinho, poderá herdar votos dele que em nenhuma hipótese confluirão para candidatos de direita ou de centro-direita que estão se posicionando no prélio. Pelo sim, pelo sim, a presença de Ricardo na disputa, mesmo sub-judice, aquece a temperatura. Com ele fora, se isto se concretizar, será possível avaliar, de qualquer forma, o peso que lhe estaria reservado em mais um prélio no qual Ricardo tenta ser participante – ou, mais do que isso, protagonista direto.