Nonato Guedes
Há uma posição consolidada por parte do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o principal oponente, Jair Bolsonaro (PL), na corrida presidencial brasileira. É o que revela a mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, apontando o petista na liderança isolada, com 47% dos votos totais, 15 pontos à frente de Bolsonaro, que subiu para 32%. Segundo analistas da grande mídia, o crescimento de três pontos de Bolsonaro era esperado “porque ele está chupando as últimas gotas de sangue dos setores antipetistas da terceira via”, no dizer de Miguel do Rosario em análise na “Revista Forum”, observando que até mesmo eleitores de Ciro Gomes (PDT), mais à direita, começaram a migrar para Bolsonaro. “Mas na próxima volta do parafuso o sangue de Ciro deverá se transferir para Lula, visto que a maioria de seu eleitorado ainda é progressista”, acrescenta.
As projeções indicam que o ex-presidente Lula consolidou sua liderança com percentual suficiente para vencer no primeiro turno, mas não só isso. O petista está forte em setores onde, em outras eleições, não era tão forte, como no Estado de São Paulo e na parcela dos eleitores “mais instruídos”, assim classificados na metodologia das pesquisas dos institutos. O cenário favorece Lula, também, no quesito espontâneo, com uma confortável distância de Bolsonaro. Ele cresceu 2 pontos e chegou a 40%. Ciro Gomes oscilou 1 ponto para baixo, tendo agora 2%. Num eventual segundo turno, também houve consolidação e Bolsonaro reduziu a diferença, mas ainda continua muito atrás. Lula tem 54% contra 37% para o presidente, ou seja, 17 pontos de vantagem. A oscilação de Lula estaria dentro da margem de erro.
O Datafolha divulgou, ainda, pesquisas nos três principais colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio, e Lula vence nos três, chegando a ser considerável a vantagem em São Paulo – na marca dos 13 pontos. Com exceção de Minas Gerais, onde Alexandre Kalil (PSD) ainda enfrenta dificuldades para avançar, os candidatos apoiados por Lula em São Paulo e Rio de Janeiro registraram ótimas pontuações no Datafolha. Em São Paulo, Fernando Haddad, do PT, já tem 38% dos votos totais, o que é bem mais do que os votos somados de Tarcísio de Freitas (16%) e Rodrigo Garcia (11%). No Rio de Janeiro, Marcelo Freixo aparece empatado tecnicamente com Cláudio Castro em 23% X 26%. Em Minas Gerais, todavia, Romeu Zema ainda lidera isoladamente com 47%, o que poderia lhe valer uma vitória no primeiro turno. Kalil, o candidato de Lula, ainda segue atrás, com 23%.
Entre os evangélicos, Bolsonaro lidera com 49%, mas Lula mantém um percentual expressivo, de 32% dos votos totais, confirmando, segundo Miguel do Rosario, a tese de que vem se consolidando um núcleo evangélico lulista, que será estratégico para combater e neutralizar fake news oriunda do bolsonarismo religioso. O Datafolha também apurou o voto entre católicos – nesse segmento, Lula mantém sua hegemonia, com 52% dos votos totais, contra 27% que foram atribuídos a Jair Bolsonaro. A pesquisa ainda traz os números por região e, surpreendentemente, Lula reage no Sul, com 43%, quatro pontos à frente de Bolsonaro. No Sudeste, que tem 66,7 milhões de eleitores e responde por mais de 43% do eleitorado nacional, Lula aparece em primeiro lugar, atingindo 44% contra 32% de Bolsonaro. No Nordeste, que tem 42,39 milhões de eleitores, ou 27% do eleitorado, Lula tem 57% dos votos totais contra 24% de Bolsonaro e 8% de Ciro Gomes.
As próximas duas semanas estão sendo aguardadas com expectativa diante da possibilidade de fatos novos no ambiente político nacional, com projeção de manifestações no Sete de Setembro. Ainda que o presidente Jair Bolsonaro não venha a prestigiar diretamente tais manifestações, ele estará associado a elas como figura principal diante dos atos que tem patrocinado ultimamente e que são qualificados como antidemocráticos por envolverem ataques a instituições, autoridades e segmentos da imprensa. Os apoiadores fiéis do presidente-candidato estão empenhados em contribuir com mobilizações que expressem uma reação firme da campanha do capitão. Mas, nos meios políticos, tem-se como avassaladora a estratégia em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dificultando, pelo menos em tese, perspectivas de resposta fulminante ao percentual de diferença que é detectado entre ele e o ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto por regiões no território nacional.