Uma das legendas mais tradicionais da política brasileira, o MDB deixará, pela primeira vez desde a redemocratização, de ter candidatos a deputado federal em todos os Estados, fato inédito na sua história. O partido é presidido a nível nacional pelo deputado Baleia Rossi (SP), e quando se chamava PMDB chegou a ter deputados federais em todos os Estados brasileiros na década de 1990, quando Ulysses Guimarães foi presidente da Câmara. A mesma configuração se repetiu nas eleições de 2010 e 2014.
De acordo com reportagem do UOL, as mudanças recentes nas regras sobre como o eleitor escolhe seus deputados federais surtem efeitos nas estratégias dos partidos – e o caso do MDB é exemplar. Um dos principais motivos é o fim das coligações proporcionais, que fez com que as legendas reduzissem a abrangência nacional na disputa e enxugassem o número de Estados onde vão apostar em candidatos para a Câmara. O pré-desenho de candidatos de cada partido entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até esta semana mostra que partidos vão concentrar forças em regiões mais promissoras. Isso ocorre, conforme especialistas, porque pela primeira vez em uma eleição geral candidatos a deputado somente poderão disputar o cargo por meio de chapa única dentro do partido ao qual estão filiados, e não mais em um agrupamento de siglas, como era permitido antes.
Neste sistema, o total de votos de um partido é que define quantas cadeiras ele terá. Definidas as cadeiras, os candidatos mais votados do partido são chamados a ocupá-las. Dessa forma, o voto de um eleitor não corre o risco de alimentar cadeiras de um partido ao qual ele não siga ou não concorde mas que estava coligado com outro de sua preferência. Por outro lado, o fim das coligações torna a disputa mais acirrada para os partidos, dependendo do Estado e do seu eleitorado.
O cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, admite: “Fica mais difícil montar uma nominata (lista de candidatos) para ir à disputa. Esses partidos precisam de uma quantidade de votos maior para passar a quantidade mínima. Para o eleitor é bom porque ele vota em uma legenda e não corre o risco de eleger candidato de outra”. Neste ano, apesar de ter um número de candidatos maior do que em 2018, o MDB decidiu concentrar esforços em regiões onde tem mais adesão, como São Paulo, Minas Gerais e Bahia, onde estão 32% (163) dos 482 candidatos da sigla neste ano. Por outro lado, Espírito Santo, Estado já governado pelo MDB, e Sergipe, não terão representantes do partido para tentar uma vaga na Câmara dos Deputados.