Nonato Guedes
Político experiente, que já governou o Estado e foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), está engajado na campanha do governador João Azevêdo (PSB) à reeleição mas foge claramente da polarização da disputa presidencial envolvendo seguidores do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, falando a jornalistas, Cícero expôs seu pragmatismo alegando desconforto com o que chamou de “radicalização política” e explicando que no seu entorno há pessoas que apoiam Bolsonaro como há pessoas que apoiam Lula. Pessoalmente, como deixou claro, prefere “estadualizar” a disputa eleitoral.
A estadualização da disputa, para Cícero, significa apoiar a chapa coligada com o governador João Azevêdo, de que fazem parte o vice-prefeito de Campina Grande, Lucas Ribeiro, do PP, e a deputada estadual Pollyanna Dutra, candidata ao Senado e do mesmo partido do governador. Em particular, Cícero empenha-se pela eleição do seu filho, Mersinho, vice-prefeito de Cabedelo, a deputado federal, e respalda nomes da coligação à Assembleia Legislativa. Esse pragmatismo é talhado para a conjuntura presente, que na definição do prefeito, está “radicalizada”, já que em outras oportunidades decisivas Cícero não passou recibo de ficar em cima do muro, sendo afirmativo ou intimorato nos seus gestos ou nas atitudes. Ele vem, porém, de uma escola que lhe possibilitou a convivência entre contrários, de forma respeitosa. Elegeu-se senador, está prefeito da Capital pela terceira vez e a vivência executiva dotou-lhe de tolerância para atuar no cenário político.
Sua administração, por exemplo, tem recebido ações importantes do governo federal, reforçadas pela presença de um médico paraibano no Ministério da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, em plena situação de enfrentamento à calamidade da covid-19. Daquele Ministério tem recebido atenções, como para ele há portas abertas em outros ministérios, com a interveniência de figuras que já foram do PP e atualmente estão no PSD, como é o caso da senadora Daniella Ribeiro, mãe de Lucas. Maior, ainda, tem sido a deferência do governo do Estado para com a gestão pessoense, pois o governador João Azevêdo restabeleceu relação de parceria que parecia entupida entre gestões do passado recente na Paraíba e nos domínios da Capital. Cícero, aliás, foi o candidato assumido ostensivamente pelo governador João Azevêdo em 2020, na árdua batalha que travou para voltar à prefeitura e cuja decisão se feriu em segundo turno.
O apoio do prefeito Cícero à reeleição do governador João Azevêdo traduz, a um só tempo, retribuição e colheita de resultados positivos da parceria que passou a ser tecida quando ele retomou, pelo voto, as rédeas da municipalidade da Capital paraibana. Essa parceria tem demonstrado ser sólida e resistente, mesmo, a intempéries do jogo político, em que se incluem eventuais divergências ideológicas que o prefeito possa ter em relação ao chefe do Executivo estadual. Ambos estão jungidos pelo objetivo e compromisso de trabalhar por João Pessoa – e têm sido inúmeros os projetos retirados da gaveta e acionados de forma entrosada e articulada, beneficiando diretamente a população local. Não há registro de ruídos mais expressivos de comunicação entre o prefeito e o governador, que publicamente dão a impressão de que tocam de ouvido nas questões macro, priorizando o interesse público. É essa relação que tem facilitado soluções e afastado perspectiva de impasses incontornáveis.
No plano político nacional, Cícero já conviveu com líderes de expressão de partidos distintos como o antigo PMDB e o PSDB. Foi na sigla tucana, por exemplo, que ele conviveu com Geraldo Alckmin, quando este era governador de São Paulo e, daí, aventurou-se a disputar a presidência da República, contra Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, Alckmin é vice na chapa de Lula e está filiado ao partido que é liderado pelo governador João Azevêdo. Todo esse contexto ajuda a compreender porque, para Cícero, definir-se no jogo presidencial não constitui questão de sangria desatada, podendo fazê-lo de forma mais concreta se as circunstâncias forem imperativas para tal desideratum. Por enquanto, importa-lhe passar ao largo do que chama de “radicalização”. Desse ponto de vista, a reeleição do governador João Azevêdo, para Cícero, é mais importante e dele exige engajamento e mobilização. É o que está fazendo, tendo em vista, também, ser recompensado na gestão à frente da prefeitura, que foi, para ele, um recomeço político.