Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato do MDB ao governo da Paraíba em aliança com o PT, fica em xeque quanto à coerência ao insistir em monopolizar o arco de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado, como prolongamento da queda-de-braço que sustenta com o governador João Azevêdo (PSB) por, também, declarar apoio a Lula. Veneziano continua apegado à ideia da exclusividade do apoio, o que é difícil de subsistir porque o partido a que o governador é filiado está coligado nacionalmente com o PT e tem o candidato a vice, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na chapa lulista. A última investida de Veneziano, denegada pela juíza eleitoral Francelucy Rejane de Sousa, foi a de tentar impedir o uso da imagem de Lula na campanha de João.
A magistrada entendeu, fundamentada no óbvio, que não há como inquinar a propaganda eleitoral do representado, no caso, o governador, de cometimento de irregularidade ao se valer do artifício da propaganda. “Qualquer apoio informal realizado por candidato à Presidência da República à candidatura em âmbito regional, não pertencente à sua coligação em nível nacional, não desnatura e nem invalida o que efetivamente reflete o DRAP registrado na Justiça Eleitoral, como na hipótese dos autos, onde o Partido dos Trabalhadores e o Partido Socialista Brasileiro estão formal e legalmente coligados em âmbito nacional”, explicitou a juíza, de forma didática, repondo em evidência fatos que são do conhecimento público. De resto, o governador já deixou claro que não pugna por exclusividade e que seu interesse é o de contribuir para somar.
O senador Veneziano Vital do Rêgo, com sua insistência no monopólio do apoio a Lula, demonstra certa insegurança quanto à hipótese em que tanto investe de ser beneficiário de suposta transferência de votos por parte do presidenciável na disputa majoritária travada na Paraíba. Ora, o ex-presidente e candidato petista, até aqui, tem sido correto ao extremo para com Veneziano. Manifestou-lhe apoio no contexto da disputa eleitoral estadual, foi a Campina Grande cumprir agenda política com ele e com o presumido candidato a senador da sua chapa, o ex-governador Ricardo Coutinho, deixou-se fotografar ostensivamente ao lado do parlamentar e de seus aliados na contenda em marcha. Evitou qualquer aceno na direção de Azevêdo, embora, por questão de educação, tenha evitado hostilizá-lo. Fora daí, o que mais quer Veneziano para se sentir tranquilo em sua jornada?
As atenções do ex-presidente para com o senador emedebista fizeram Lula, até mesmo, relevar o voto proferido por Veneziano, favorável à admissibilidade do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, na sessão histórica da Câmara Federal que acabou degolando a carreira política da primeira mulher eleita mandatária no Brasil. Como se sabe, por muito tempo, e ainda agora, sempre que possível, o ex-presidente Lula refere-se a esse impeachment como “golpe político”. Nos bastidores, a história mostra que foi o MDB o principal articulador do impeachment ou “golpe”, tanto assim que o emedebista Michel Temer, que era vice de Dilma, foi alçado em meio a rumoroso episódio que teve as digitais do inefável ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um dos cardeais do partido de Veneziano e autor do best-seller “Tchau, Querida – O Diário do Impeachment”. São narrativas que a História, implacável, não apaga, nem o esforço de conversão de Veneziano à cartilha petista minimiza ou reverte. São incontestáveis, induvidosamente.
A opinião pública está preparada para novos capítulos da briga entre Veneziano e o governador João Azevêdo, que se tornou patente quando o senador se lançou pré-candidato ao cargo, já que desde 2019 eram cordialíssimas as suas relações com a atual administração do PSB, tendo concordado que sua mulher, a doutora Ana Cláudia, ocupasse secretaria de Articulação com os municípios na gestão. É recente, portanto, o desaguisado de Veneziano com João – e disso tem plena consciência o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixa escapar interesse pelas coisas referentes à pequenina Paraíba. Mas Veneziano precisa ser mais habilidoso e engenhoso na sua estratégia para não prejudicar a soma de outros votos que possam ser atribuídos ao candidato Lula em solo tabajara por meio de outras lideranças políticas. O governador João Azevêdo é um líder e tem seu peso na conjuntura. Lula, certamente, não perdoará Veneziano nem o PT local se vier a perder sufrágios preciosos por causa de ambições pessoais colocadas acima do seu projeto, que é indiscutivelmente maior, segundo o consenso mínimo que une o senador emedebista ao governador socialista no prélio em andamento.