Nonato Guedes
Pode ser que lá na frente, quando estiver avançado o Guia Eleitoral na campanha em curso na Paraíba, o MDB local e o senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato a governador, venham a se redimir e colocar em evidência os feitos e a história do ex-governador José Targino Maranhão, o “tríplice coroado” que foi escolhido por Antônio Mariz para ser seu vice na disputa de 1994 e que, com a morte de Mariz, revelou-se um administrador sério e competente, que deu inestimável parcela de contribuição com vistas a resgatar o Estado da situação de atraso e dependência econômica-social. Por enquanto, nas suas falas, Veneziano tem priorizado além da conta o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua candidatura, como estratégia para massificar e tentar tirar proveito de suposta transferência de votos que Lula possa operar, bafejado pelo favoritismo que várias pesquisas de institutos diferentes apontam em seu favor no páreo ao Planalto.
Maranhão, cuja morte ainda está recente, vitimado por complicações da Covid-19, depois de ter conduzido o MDB ao segundo turno na corrida pela prefeitura de João Pessoa em 2020, apresentando a candidatura do comunicador Nilvan Ferreira, que depois migrou para o bolsonarismo, ficou famoso como o “Mestre de Obras”, pelo ímpeto realizador que caracterizou a sua passagem pelo Executivo em pelo menos três oportunidades – quando Mariz morreu, quando foi reeleito em 98, concorrendo com Gilvan Freire, e quando foi chamado a assumir em 2009 no vácuo da cassação do mandato de Cássio Cunha Lima (PSDB) pelo TSE. Na primeira fase, Maranhão buscou dar continuidade ao “Governo da Solidariedade” que Mariz concebera, privilegiando o cidadão como razão fundamental de qualquer programa de governo, não como coadjuvante destinado a contracenar com os índices de crescimento do PIB ou com as oscilações das taxas cambiais. Posteriormente, Maranhão investiu na atração e execução de obras estruturantes, focado no binômio água-eletrificação. No diagnóstico sobre as demandas que afligiam a Paraíba, ele não hesitou em responsabilizar gestões passadas pela falta de um planejamento mais racional na distribuição de recursos hídricos, de forma a evitar colapso de maior gravidade.
Foi dele uma observação que refletiu sua sensibilidade e, ao mesmo tempo, uma possível impotência quanto à capacidade de “fazer”, que, para ele, significava o corolário da missão de governar. “Há momentos em que governar faz doer tanto quanto sofrer a mais hedionda das iniquidades do mundo. É quando o governante avista a solução no horizonte e não consegue trazê-la para perto de si, a fim de reparti-la com seus governados”, desabafou. Jactava-se do desempenho fiscal alcançado pela Paraíba, honrando compromissos de magnitude e resgatando folhas de pagamento de pessoal em pouco mais de um mês, com injeção de quase duzentos milhões de reais na economia. Maranhão levou para a administração pública a experiência adquirida na iniciativa privada, como agropecuarista, que o fez expandir negócios para outras regiões fora da Paraíba. Ao imprimir modelo espartano na gestão pública, chamou a atenção da opinião pública para o significado verdadeiro da palavra “austeridade” que, com o tempo, converteu-se em sinônimo de “desenvolvimento”, como consequência natural da boa prática de governo.
Com tais atributos e visão de longo alcance é que José Maranhão credenciou-se ao respeito e à repercussão nacionais. Sem ser populista ou popularesco, conseguia falar a linguagem do povo no exercício da governança. Teve gestos corajosos, marcantes, no diálogo com autoridades federais quando se tratava de defender os interesses da Paraíba. Nesse contexto, foi inesquecível a sua atitude retirando-se de uma reunião de alto nível em Brasília, no governo Fernando Henrique Cardoso, ao constatar que o falatório era grande mas as soluções eram escassas. Pelo seu próprio temperamento, exigia objetividade no encaminhamento das demandas, e não se intimidou quando foi a hora de contrariar interesses, até mesmo de aliados políticos, quando estes se chocavam com o interesse público mais urgente. Em mais duas oportunidades, tentou voltar ao poder, sendo, porém, derrotado – em 2010 e em 2018. Morreu senador, no pleno exercício do mandato e tendo cumprido com louvor papéis relevantes em Comissões como a do Orçamento do Congresso Nacional.
A única vaga que se disputa ao Senado pela Paraíba nas eleições deste ano foi, originalmente, conquistada por José Maranhão em 2014, a céu aberto, percorrendo os municípios do Estado. Está sendo ocupada por Nilda Gondim, sua suplente, que é mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo – este, por sua vez, presidente do diretório estadual do MDB, partido onde Maranhão exerceu hegemonia por um bom período após vencer quedas-de-braço em convenções com o grupo Cunha Lima. Talvez o fato de não ter deixado herdeiros políticos contribua para que, na atual campanha, sua imagem tenha desaparecido. Mas ainda há quem espere que o senador Veneziano, como candidato ao governo pelo MDB, tenha gestos de grandeza em citar, pelo menos uma vez que seja, o histórico positivo da atuação do “Mestre de Obras” na conjuntura política-administrativa da Paraíba. Com sua carta de navegação, Maranhão fez sua parte para empurrar a Paraíba para a frente – e tal esforço não pode ser apagado a toque de caixa e ao sabor das conveniências dos novos ambientes políticos.