O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, abordou temas espinhosos, ontem à noite, durante sabatina de 40 minutos no “Jornal Nacional”, da Rede Globo de Televisão. Ele falou sobre casos de corrupção durante os governos petistas, defendeu sua gestão econômica e voltou a criticar a Operação Lava Jato. Transmitida ao vivo, foi a terceira entrevista de presidenciáveis no jornal neste ano e a primeira de Lula na emissora desde que saiu da prisão em 2018. Em resposta aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, o candidato elogiou ainda a aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na sua chapa, e mandou indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário na corrida ao Planalto, chamando-o de “bobo da corte” por não ter influência nas grandes decisões, que ficam a critério do Congressso Nacional.
Nos pontos principais da sabatina, o ex-presidente assumiu casos de corrupção que foram detectados na Petrobras mas defendeu mecanismos criados por seu governo para controle de irregularidades e, sobretudo, para transparência nas ações e informações à sociedade. Defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), alvo de processo de impeachment, mas disse que a ex-mandatária errou na precificação da gasolina. Acusou a Lava Jato de ter entrado “no limite da política”, com isto desvirtuando seus objetivos. Brincou dizendo que tem “ciúme de Alckmin” por sua popularidade no PT e revelou que não quer “amigo na Polícia Federal”.
Lula estava descontraído no estúdio da TV Globo, sem mostrar qualquer descontentamento com a emissora, com a qual já teve atritos e que costuma criticar. O ex-presidente respondeu à maioria das perguntas com a variação entre humor e seriedade, muito usada em seus discursos, e soltou referências populares, como futebol e a comparação de Bolsonaro a um bobo da corte. Sobre o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), Lula teceu duras críticas, considerando-o parcial nas acusações e nos processos instaurados contra sua pessoa. “No julgamento, Moro levou uma mentira que foi longe demais”, acusou, explicando que sabia que seu julgamento “era parcial”. A conclusão do Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) no mesmo sentido de parcialidade de Moro tem sido usada como reforço no discurso do ex-presidente.
“Se alguém comete um erro, um delito, investiga-se, apura, julga, condenou, está absolvido, está resolvido o problema. O que foi o equívoco da Lava Jato? É que a Lava Jato enveredou por um caminho político delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política”, detalhou Lula. Apesar de admitir os esquemas na Petrobras, Lula defendeu mecanismos de combate à corrupção, como o Portal da Transparência, criado em seu governo, além de cutucar Bolsonaro ao falar que na gestão petista a Polícia Federal era independente e a lista tríplice na Procuradoria Geral da República era respeitada. Lula, no entanto, citou como suas algumas medidas anticorrupção criadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff. Cutucou, ainda, a indicação de Augusto Aras na PGR por parte do presidente Jair Bolsonaro, e os decretos de sigilo da atual gestão. Aras já arquivou mais de cem pedidos de investigação contra Bolsonaro encaminhados pelo Supremo Tribunal Federal.
Lula usou a estratégia de comparar aspectos de sua gestão à de Bolsonaro também quando foi confrontado com uma pergunta sobre Mensalão, escândalo que envolvia pagamentos a deputados em 2005. Na resposta, Lula trouxe à tona o orçamento secreto, esquema de transferência de emendas durante a gestão atual. “Você acha que o Mensalão, que tanto se falou, é mais grave do que o orçamento secreto?”. Ainda falando sobre esse mecanismo, ele chamou Bolsonaro de “bobo da corte” e afirmou que não é o presidente que tem controle sobre sua gestão, mas o Congresso. “O orçamento secreto é usurpação do poder. Acabou o presidencialismo, o Bolsonaro não manda mais. O Bolsonaro é refém do Congresso Nacional, sequer cuida do orçamento. Quem cuida do orçamento é o Lira (Arthur Lira, presidente da Câmara Federal). Ele libera verba. O ministro liga para ele, não liga para o presidente da República”, ironizou.