Nonato Guedes
Na abertura, ontem, na Paraíba, do Guia Eleitoral – espaço para a propaganda de candidatos às eleições deste ano, veiculada em emissoras de rádio e televisão, deu o esperado: o senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato a governador pelo MDB, utilizou fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recomendando seu nome, enquanto o governador João Azevêdo (PSB) recorreu a Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula, para fazer a ponte ou a interlocução com a campanha do petista. Outros postulantes, inclusive a mandatos proporcionais, situados no campo da esquerda, igualmente mencionaram apoio à candidatura de Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto. Mas foi entre João e Veneziano que se deu o compartilhamento mais enfático da atuação de ambos na chamada base lulista.
Ex-governador de São Paulo e adversário de Lula na eleição presidencial de 2006, quando era filiado aos quadros do PSDB, Geraldo Alckmin fez, este ano, movimento que significou guinada política e ideológica na sua biografia, filiando-se à legenda do PSB como condição para ser adotado como vice do petista Lula na batalha que é travada, principalmente, com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na Paraíba, como em outros Estados do Nordeste, PT e PSB não estão aliançados para a disputa local, mas no plano nacional os dois partidos convergem por causa da homologação da chapa Lula-Alckmin. Aliás, a relação entre o petista e o ex-tucano vai além de formalidades. Na entrevista que concedeu ao “Jornal Nacional”, o ex-presidente da República citou Geraldo Alckmin dez vezes. Em tom de brincadeira, chegou a dizer que estava com ciúme do ex-tucano pela forma amistosa como ele foi recebido pela militância petista e como é recebido nos comícios.
Lula disse a William Bonner e a Renata Vasconcellos, na TV Globo: “Eu quero voltar porque eu quero fazer coisas que eu deveria ter feito, mas não sabia que era possível fazer. É por isso que eu fui escolher o Alckmin de vice, para juntar duas grandes experiências na minha vida: um cara que foi governador de São Paulo por 16 anos e vice seis anos, e o cara que foi considerado o melhor presidente da História do Brasil. Esses dois que vão governar este país”. O ex-presidente, como compilou a “Revista Fórum”, mencionou também três palavras mágicas para governar o Brasil: credibilidade, previsibilidade e estabilidade – e nesse contexto situou Geraldo Alckmin, observando: “Nunca antes na história do Brasil esse governo teve uma chapa como Lula e Alckmin para poder ganhar credibilidade interna e externa para fazer acontecer as coisas no Brasil”. Num outro trecho da entrevista, que teve ampla repercussão, Lula informou que contabiliza, hoje, dez partidos no arco da sua base política – e fez questão de emendar dizendo que “ainda tenho a experiência do ex-governador Geraldo Alckmin comigo”.
De acordo com o ex-presidente, “muita gente pensava, uns anos atrás, que era impossível Lula se juntar com Alckmin, e eu me juntei para dar uma demonstração para a sociedade brasileira que política não tem que ter ódio; política, sabe, é a coisa mais extraordinária para você estabelecer convivência entre os contrários”. Lula da Silva elogiou o discurso que foi proferido pelo seu companheiro de chapa no dia sete de maio deste ano, quando foi apresentado, oficialmente, ao Partido dos Trabalhadores. “Eu fiquei com inveja, ele foi aplaudido de pé”, comentou Lula, numa resposta a uma indagação feita por William Bonner sobre supostas hostilidades que militantes petistas estariam dirigindo a Geraldo Alckmin. “O Alckmin já foi aceito de corpo e alma pelo PT. O que eu não quero é que o PT peça para ele se filiar, porque a gente não quer brigar com o PSB, mas o Alckmin é uma pessoa que vai me ajudar”, enfatizou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apelando para o estilo descontraído, Lula passou recibo de saudosismo da época em que o Partido dos Trabalhadores polarizou com o PSDB as eleições presidenciais. “A gente era adversário político, a gente trocava farpas, mas se a gente se encontrasse no restaurante, não tinha nenhum problema de tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra ou com o Alckmin, porque a gente não se tratava como inimigo, a gente se tratava como adversário”, contou Lula a William Bonner e a Renata Vasconcelos. O homem que foi bastante elogiado por Lula na entrevista concedida ao “Jornal Nacional” apareceu, ontem, no Guia Eleitoral da Paraíba, rendendo homenagens ao governador João Azevêdo e destacando a importância de sua candidatura à reeleição no contexto das disputas deste ano. Como reconhecem fontes ligadas a João Azevêdo, Alckmin é fundamental para os passos que o governador empreende, tanto na campanha em andamento, como na perspectiva futura, em caso de recondução sua no Estado e de vitória de Lula na caminhada ao Palácio do Planalto.