O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protagonizaram momentos de radicalização durante o primeiro debate entre presidenciáveis na campanha deste ano, promovido ontem à noite pela TV Band, liderando um “pool” de veículos de comunicação, integrado por UOL, TV Cultura e Folha de S. Paulo. Ambos trocaram acusações nas ocasiões em que se defrontaram. Bolsonaro chamou Lula de “ex-presidiário”, enquanto o petista bateu forte em denúncias de corrupção no atual governo e no descaso para com a pandemia de covid-19, além de se referir ao “orçamento secreto”. O candidato Ciro Gomes, do PDT, entrou no bombardeio, alternando críticas a Lula e a Bolsonaro. Participaram, ainda, as senadoras Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e o professor Felipe D’Avilla, do Novo.
Uma pesquisa qualitativa realizada pelo Datafolha em tempo real após o debate mostrou que a candidata Simone Tebet teve a melhor avaliação no debate, enquanto o presidente Jair Bolsonaro teria sido o pior. Bolsonaro chamou de “demagogia” o número de 33 milhões de pessoas com fome, voltou a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal, acusando-os de ativismo judicial, defendeu empresários que foram alvo de investigação sob acusação de práticas golpistas em grupos de redes sociais e exaltou medidas emergenciais como o Auxílio Brasil, destinado a famílias de vulneráveis afetadas pelos efeitos da pandemia. Após o debate, o sentimento dos eleitores que participaram da pesquisa qualitativa mostrou surpresa com o desempenho de candidatos considerados desconhecidos, especialmente Tebet, e decepção provocada pelos ataques pessoais, principalmente entre Lula e Bolsonaro.
Bolsonaro fez ataques, também, à jornalista Vera Magalhães, disse que o governo de Lula “foi o mais corrupto da história do Brasil” e mencionou a delação do ex-ministro Antonio Palocci e acontecimentos da Lava Jato. Lula rebateu o presidente. “Deixei o país com a economia crescendo a 7,5%. Esse é o país que o atual presidente (Bolsonaro) está destruindo. Portanto, o governo que eu deixei é o que o povo tem saudade, e esse país vai voltar a ser assim”. Em outro momento, Bolsonaro foi duro com Lula. “O seu governo foi marcado pela “cleptocracia”, ou seja, um governo feito à base do roubo, e essa roubalheira era para conseguir apoio dentro do Parlamento, não era apenas para o ex-presidente Lula”, disse. “Que moral tu tem para falar de mim, ex-presidiário? Nenhuma moral”, acusou Bolsonaro.
Ao ser questionado pela jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, na TV Cultura, Bolsonaro atacou a mulher e a chamou de “vergonha”. Textualmente: “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Mas tudo bem. Não pedi tua opinião”.Lula rebateu o termo “ex-presidiário” usado por Jair Bolsonaro. O ex-presidente ganhou direito de resposta durante o debate, após a fala do atual presidente. “Estou mais limpo do que ele ou qualquer parente dele. Porque fui julgado, considerado inocente pela Suprema Corte, pela primeira instância da ONU, pela segunda instância da ONU (Organização das Nações Unidas)”. Lula voltou a dizer, também, que foi preso em 2018 para Bolsonaro ganhar as eleições presidenciais.
– Ele sabe as razões pelas quais fui preso. As razões pelas quais eu fui preso foi para ele se eleger presidente da República porque era preciso tirar o Lula – disse o petista. E acrescentou, depois de lembrar que os processos contra ele foram anulados e que houve parcialidade do ex-juiz Sergio Moro nas acusações que lhe fez: “Estou aqui candidato para ganhar as eleições, e aí, sim, em um só decreto, vou apagar todos os seus sigilos”. Bolsonaro também ganhou direito de resposta quando foi criticado sobre o sigilo de 100 anos em seu cartão corporativo. O presidente se justificou dizendo que o sigilo ocorreu para sua “segurança”. Sobre o orçamento secreto, o atual presidente disse não ter “nada a ver com isso”. O ex-governador Ciro Gomes entrou no confronto e disse que o presidente Bolsonaro corrompeu as mulheres com quem já foi casado. Os dois trocaram acusações sobre o machismo no debate. O primeiro debate entre presidenciáveis teve transmissão do UOL em parceria com Band, Folha de S. Paulo e TV Cultura.