Nonato Guedes
A primeira pesquisa do Instituto Ipec, contratada pela TV Cabo Branco e divulgada na noite de ontem, sobre intenções de voto na Paraíba, refletiu o esperado, com o governador João Azevêdo (PSB) à frente na corrida pela reeleição e com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) liderando o páreo para o Senado, em meio à ameaça de inelegibilidade que tenta reverter na Justiça em Brasília. João despontou com 32% das preferências, enquanto Ricardo figurou com 30%. Ambos foram aliados na campanha de 2018, decidida em primeiro turno, mas romperam no início do governo de Azevêdo e possuem em comum, apenas, o fato de apoiarem a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Três candidatos de oposição ao governo aparecem tecnicamente empatados no levantamento do Ipec, instituto dirigido por ex-executivos do Ibope.
Pedro Cunha Lima (PSDB) é o segundo colocado nas preferências ao governo, com 16%, seguido de perto por Nilvan Ferreira, do PL, candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, com 15% e por Veneziano Vital do Rêgo (MDB), o candidato oficial de Lula no Estado, que tem 14% das intenções. Adjany Simplício, do PSOL, Adriano Trajano (PCO) e Major Fábio (PRTB) foram mencionados por 1% dos eleitores do Estado e o candidato Antonio Nascimento (PSTU) foi citado mas não atingiu 1% das intenções de voto. Brancos e nulos somaram 12%, enquanto 8% “não sabem” ou não responderam à pesquisa. Pelo menos 63% dos paraibanos entrevistados pelo Instituto revelaram ter definido o voto. O levantamento traduziu, ainda, o percentual de rejeição experimentado pelos candidatos ao governo: João Azevêdo tem 28%, Veneziano Vital do Rêgo 22% e Pedro Cunha Lima 19%. 800 votantes foram ouvidos entre os dias 26 e 28 de agosto, sendo que a margem de erro máxima estimada é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, sobre os resultados apurados no total da amostra. O nível de confiança utilizado é de 95%.
Para o Senado, abaixo do ex-governador Ricardo Coutinho, que contabiliza 30%, vem o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, com 20%, bem distante de outros postulantes como Bruno Roberto (PL), candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro, e Sérgio Queiroz, do PRTB, com 2%. A deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), candidata apoiada pelo governador João Azevêdo e que foi lançada com certa demora, despontou com 8% das intenções de voto, um resultado que sinaliza possibilidades de crescimento na maratona. A expectativa, entre os aliados de João Azevêdo, é que além de Pollyanna avançar, ela pode herdar votos, no campo da esquerda, do ex-governador Ricardo Coutinho, sobretudo se este for considerado inelegível. Ainda ontem, em entrevista, Coutinho foi enfático ao declarar que não se vê fora do páreo, o que reafirma sua confiança em ir até o fim. Mas, independente desse desfecho, Pollyanna e seus seguidores apostam na polarização, lá na frente, entre ela e o ex-governador. A deputada foi lançada candidata de última hora, no vácuo da desistência do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP), que preferiu ser candidato à reeleição.
O desempenho do deputado federal Efraim Filho na corrida pelo Senado é considerado promissor ou excelente. No seu “staff” avalia-se que os 20% cravados no nome do parlamentar exprimem o reconhecimento e a receptividade à persistência do parlamentar em se manter candidato ao Senado, mesmo em meio a turbulências políticas que enfrentou. Como se sabe, Efraim rompeu com a base do governador João Azevêdo, desapontado com a sua indefinição ao Senado, e protagonizou guinada radical compondo-se com o candidato de oposição ao governo Pedro Cunha Lima, com quem percorre municípios da Paraíba em campanha pregando mensagem de renovação. O parlamentar se apresenta como “ficha limpa” e como um político que entrega resultados, exemplificando com obras que foram executadas graças a recursos de emendas de sua autoria na Câmara. Ao mesmo tempo, ele logrou, até agora, segurar apoios de deputados e líderes políticos que já haviam firmado pacto de apoio, também, ao governador João Azevêdo. A leitura é a de que Efraim tem espaço para crescer, atraindo indecisos e até mesmo eleitores que em tese apoiam outros nomes.
Para governador, os dados coletados pela pesquisa do Ipec evidenciam que a soma das intenções de voto em candidatos oposicionistas como Pedro Cunha Lima, Nilvan Ferreira e Veneziano Vital do Rêgo é realmente expressiva e, em certa medida, preocupante para o candidato à reeleição João Azevêdo. Mas o atual chefe do Executivo consegue se impor na liderança individual, como reflexo das ações administrativas, do enfrentamento à pandemia de covid-19 e das perspectivas que acena, com projetos para cuja implementação está se esforçando para captar recursos, além de melhorias para segmentos do funcionalismo público e outras categorias. Ou seja, João consegue colher os frutos do trabalho que desenvolve mesmo numa conjuntura atípica e de grave crise, inclusive com ameaças de retaliações aos Estados por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro. A divisão das oposições enfraquece esse bloco e abre caminho, a dados de hoje, para uma expansão dos percentuais de João Azevêdo, que, além do mais, também se apresenta como candidato aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.