Nonato Guedes
Embora seja, declaradamente, o candidato oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo da Paraíba nas eleições deste ano, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ainda não conseguiu ser beneficiado pela popularidade do ex-mandatário e pelo favoritismo deste nas pesquisas de intenção de voto, no confronto com Jair Bolsonaro (PL). Esse descompasso ficou evidente na primeira pesquisa do Ipec, contratada pela TV Cabo Branco, que cravou 58% das preferências para Lula no Estado contra 24% de Bolsonaro, enquanto Veneziano despontou com apenas 14% na disputa ao Palácio da Redenção, ficando empatado tecnicamente com os candidatos Pedro Cunha Lima, do PSDB e Nilvan Ferreira, do PL. O líder da corrida ao Executivo paraibano é o governador João Azevêdo (PSB), também da base lulista, com 32% das intenções de voto.
Na prática, o resultado da pesquisa Ipec mostra a repetição de uma situação peculiar na Paraíba: a dificuldade de Lula de transferir votos para governador. O ex-presidente conserva uma receptividade crescente entre eleitores de diferentes segmentos e faixas etárias, mas não tem o condão de, necessariamente, operar a tranfusão de sufrágios para postulantes do seu bloco. Nas campanhas em que apoiou o ex-governador José Maranhão (já falecido) e Roberto Paulino, Lula saiu vitorioso e os dois derrotados. Coincidentemente, a única vitória atribuída a Lula na Paraíba, no quesito “transferência de votos”, deu-se em 2018, quando o ex-presidente estava preso mas recomendou o nome de João Azevêdo, que na época era apoiado por Ricardo Coutinho. João, como se disse, é da base lulista no pleito em andamento, mas não figura propriamente no palanque de Lula, que apoia Veneziano e Ricardo Coutinho ao Senado.
Aliás, o ex-governador Ricardo Coutinho lidera a corrida senatorial com 30%, mesmo enfrentando ameaça de inelegibilidade. Também nesse cenário, Veneziano está distante de Ricardo, cuja cotação é atribuída ao “recall” da sua atuação como governador por duas vezes, apesar dos pesares na última gestão, e como prefeito de João Pessoa, também eleito por duas vezes, além de ter sido deputado estadual. Ricardo é, indiscutivelmente, o principal líder das forças de esquerda na Paraíba, abstraindo o desgaste sofrido com sua citação na Operação Calvário, que trata de desvio de verbas da Educação e da Saúde. O ex-governador fez um movimento estratégico em termos de sobrevivência política ao migrar do PSB de volta aos quadros do Partido dos Trabalhadores, onde iniciou sua trajetória. Ele é, também, disparado, o principal interlocutor do ex-presidente Lula na Paraíba, em retribuição a gestos como o de visitar o líder nacional petista na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Veneziano, conquanto tenha tido canais de diálogo com os governos de Lula quando foi prefeito de Campina Grande, a segunda cidade da Paraíba, só ultimamente estreitou laços com o ex-presidente, mais precisamente quando rompeu com João Azevêdo e decidiu assumir candidatura ao Executivo paraibano contra o ex-aliado. Teve os passos facilitados pela sua condição de primeiro vice-presidente do Senado Federal, o que o coloca como interlocutor e fonte privilegiada de Lula na discussão de grandes temas que compõem a agenda nacional e que passam inexoravelmente pelo Congresso Nacional. Num lance político fulminante, Veneziano, adicionalmente, compôs a sua chapa coligado ao PT, a quem cedeu as duas vagas importantes e restantes, como a de vice-governador, confiada à professora Maísa Cartaxo, mulher do ex-prefeito de João Pessoa Luciano Cartaxo, e a de senador, cujo pálio é conduzido pelo ex-governador Ricardo Coutinho, com seu brilho e espaço próprios.
O erro de cálculo de Veneziano, na opinião de analistas políticos, foi o de imaginar que bastava entregar cargos estratégicos ao PT na sua chapa e ungir o ex-governador Ricardo Coutinho como postulante ao Senado, além de conseguir declaração de apoio do ex-presidente Lula, para deslanchar automaticamente nas pesquisas de intenção de voto ao governo do Estado. Ele planejava, mesmo, isolar ou afastar o governador João Azevêdo da base lulista para deter o monopólio do palanque do candidato petista, favorito na sucessão presidencial contra Bolsonaro. Foi atropelado por um fato novo, que não estava na “lógica” do processo político: a participação, na chapa de Lula, em lugar de destaque, do PSB, partido onde João Azevêdo conseguiu se manter vencendo quedas-de-braço com Ricardo Coutinho. A presença de Geraldo Alckmin (PSB) como vice de Lula consolidou a presença de João no campo da esquerda, além de ter facilitado o acesso do atual governador à base lulista. O desfecho, até agora? Veneziano não avançou bastante, dentro do que se esperava, e João consegue resistir, liderando o páreo, ainda que tenha que se desdobrar mais por causa da perspectiva do segundo turno embutida na pesquisa do Ipec. Já Veneziano terá que se socorrer de trunfos mais consistentes para polarizar o páreo, faltando praticamente um mês para a eleição.