Nonato Guedes
O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) bem que tentou assumir identidade própria na campanha em andamento para o governo da Paraíba, num ímpeto natural de autonomia, sem que isto significasse renegar suas origens e, muito menos, a tradição do “clã” a que pertence na história política local, mas a ligação é inexorável e muito forte. Ele representa, no páreo, o avô Ronaldo Cunha Lima, o político com biografia mais completa no cenário e o pai, Cássio Cunha Lima, com histórico invejável que assinala duas eleições ao governo, três a prefeito de Campina Grande, um mandato de deputado federal, outro de senador e uma passagem pela superintendência da Sudene. Cássio figurou no radar dos analistas políticos como opção natural para tentar voltar ao Palácio da Redenção, mas desde a derrota para se reeleger senador em 2018 priorizou a própria sobrevivência, alegando haver ‘vida’ fora da política.
Na verdade, o nome de Cássio permeou cogitações que antecederam definição de chapas majoritárias para o pleito de 2022 em termos locais, dentro da análise de que ele continua sendo voz respeitável e liderança política influente na conjuntura paraibana e no plano nacional. Mesmo sem mandato, deu-se que num ato público que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro em Campina, Cássio foi ovacionado com o beneplácito do próprio mandatário. Há antecedentes de líderes políticos da Paraíba que enfrentaram revezes surpreendentes, de José Américo de Almeida a Argemiro de Figueiredo, de Wilson Braga a José Maranhão. Cássio foi precoce na labuta política, largando muito jovem para a Assembleia Nacional Constituinte, e o carisma de que dispunha o credenciou a voos maiores, em eleições sucessivas. Veio o reverso da medalha, que o desapontou: as derrotas em duas eleições majoritárias consecutivas e importantes, novamente como candidato ao governo em 2014 e em 2018 quando tentou renovar o mandato no Senado.
Evidente que os revezes não implicaram, necessariamente, em rejeição ostensiva à liderança ou atuação política de Cássio. Havia desgaste, talvez fadiga por parte de segmentos do eleitorado que lhe eram fieis, no bojo da emergência de caras novas no horizonte, mas pesaram fatores externos ou supervenientes, dificilmente reversíveis nos períodos em que prosperaram. Após o desenlace das urnas em 2018, Cássio atribuiu o resultado ao que denominou de “tsunami político” que, na sua leitura, varrera o ambiente nacional, refletindo-se na ascensão de Jair Bolsonaro, um “outsider”, à presidência da República, derrotando figuras carimbadas que se habilitavam a novas chances. A ascensão de Bolsonaro foi tanto mais eloquente porque premiou um político do “baixo clero”, que não tinha expressão ou relevância nos grandes debates nacionais, notabilizando-se por picuinhas e posturas radicais inconsequentes. Pelo sim, pelo não, atento aos sinais, ainda que sob avaliações passionais, Cássio recolheu-se, abrindo espaço na avenida política paraibana.
Pedro, seu filho, se ofereceu ao desafio de concorrer ao governo nas eleições deste ano juntando uma aspiração legítima com fatores colaterais que o empurraram a tanto, a exemplo da desistência do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (ex-PSD, atual PSC) em assumir a proposta. Contribuiu para esse desideratum a determinação de Cássio de ser avalista de uma candidatura de oposição ao governador João Azevêdo (PSB), demarcando limites de atuação institucional no quadro político-partidário da Paraíba. Pedro agregou as lideranças situadas no seu entorno, mas está tendo dificuldades visíveis para se afirmar no contexto geral da oposição. Na fase preliminar, Pedro insistiu em se firmar como “Pedro”, evidenciando que “Cássio é Cássio”. Mas a tática era dispensável, e ele acabou se deixando envolver com a tradição, até por não ter razões para agir diferente. Apresenta a Educação como a sua grande bandeira, mas adiciona outros temas imprescindíveis ao discurso.
Ele despontou na primeira pesquisa Ipec/TV Cabo Branco com 16%, em situação de empate técnico com outros dois candidatos oposicionistas – o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o comunicador Nilvan Ferreira (PL). Na prática, ficou em segundo lugar, abaixo do governador João Azevêdo, que foi agraciado com 32% das intenções de voto num universo de 800 entrevistados. O resultado dá-lhe cacife para avançar nas projeções sobre a corrida pelo governo do Estado. O problema de Pedro está em unir o bloco de oposição a João Azevêdo em torno do seu nome, caso o segundo turno, configurado, o coloque na polarização. Já houve desentendimento entre seu pai e o candidato Nilvan Ferreira. Na medida do possível, Pedro Cunha Lima procura se resguardar, consciente de que precisará somar apoios para ir à frente na jornada para chegar ao Palácio da Redenção, repetindo feito que o avô e o pai protagonizaram.