Nonato Guedes
Em declarações feitas nas últimas horas, o senador Veneziano Vital do Rêgo, pré-candidato a governador da Paraíba pelo MDB, reiterou a permanência do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) na sua chapa como candidato ao Senado, dentro da coligação firmada para o pleito deste ano, descartando as especulações sobre substituição do postulante diante da decisão do Tribunal Regional Eleitoral de indeferir o registro dele por alegado precedente de abuso de poder político nas eleições de 2014, quando concorreu à reeleição ao Executivo. Veneziano falou da sua posição pelo esgotamento das alternativas jurídicas pertinentes ao caso, como recursos ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal, com vistas à reversão da pena de inelegibilidade que está aplicada. Para ele, trata-se de um respeito ao PT, de quem é parceiro na atual disputa, e ao próprio direito de defesa do ex-governador face ao contencioso suscitado.
Em alguns círculos políticos ainda havia a expectativa de que o PT, como estratégia para não prejudicar colateralmente a campanha do próprio Veneziano ao governo, fosse ágil na superação do impasse ocasionado pela impugnação de Ricardo, a fim de que não ocorresse dispersão de votos para outras candidaturas ao Senado que estão postas na conjuntura paraibana. Mas essa tática, na verdade, nunca foi assumida nem pelo PT, a nível estadual ou a nível nacional, nem pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que, ao contrário, chegou a insinuar chances de reversão da inelegibilidade nas esferas superiores. As especulações concentravam-se, então, na ascensão do primeiro suplente Jeová Campos à titularidade. Da parte de Jeová, que é deputado estadual e decidiu não concorrer à reeleição à Assembleia este ano, não houve pressão para tanto, mantendo-se ele na linha de fidelidade à liderança de Ricardo e ao seu direito de esgotar a causa.
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, chegou a ser enfática ao se pronunciar, ponderando a confiança no “direito” de Coutinho e, inclusive, lembrando que ele é o líder das pesquisas de intenção de voto na corrida pelo Senado na Paraíba, dado que, na sua interpretação, seria também levado em consideração por julgadores por sinalizar uma prévia de manifestação da vontade popular no Estado quanto ao páreo senatorial. Ricardo despontou, na primeira pesquisa do Ipec para a TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo, com 30% de intenções de voto, vindo em segundo lugar o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, com 20%. Efraim lançou-se pré-candidato ao Senado quando estava na base de apoio ao governador João Azevêdo (PSB) e rompeu com a candidatura do gestor à reeleição alegando demora na definição sobre a disputa senatorial. Por essa época, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) ensaiou uma pré-candidatura ao Senado na chapa de João, mas acabou recuando e anunciando candidatura à reeleição à Câmara. Tardiamente, o esquema do governador optou pela candidatura da deputada estadual Pollyanna Dutra, filiada ao mesmo partido de Azevêdo.
Pollyanna já conseguiu figurar na primeira pesquisa do Ipec ostentando 8% das preferências e tem se desdobrado para crescer significativamente, independente da permanência ou não de Ricardo Coutinho no páreo, pelo menos segundo tem dado a entender nas entrevistas ou manifestações públicas. A deputada identifica-se como integrante da “base lulista” no Estado, tendo em vista que exerceu por dois mandatos a prefeitura de Pombal, no Sertão paraibano, coincidindo com períodos de gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e estando filiada ao Partido dos Trabalhadores. Chegou a ter uma experiência administrativa pontual reconhecida por organismos internacionais e ocupou, também, secretaria de Estado. Ela chegou a se considerar “igual” a Ricardo nas posições ideológicas, à esquerda, e no viés socialista que assegura compor o seu perfil. Não obstante, na guerra pela vaga de senador, o ex-governador chegou a declarar que não considerava Pollyanna como expressão do tal campo progressista-democrático.
É natural que haja, nos meios políticos, uma expectativa sobre o desempenho que Pollyanna possa vir a alcançar daqui para a frente, não apenas pelo vácuo da dúvida sobre a elegibilidade ou não do ex-governador Ricardo Coutinho, mas, igualmente, pelo fato de que ela é a candidata do esquema governista chefiado por João Azevêdo, que também declara apoio à candidatura de Lula, não obstante Lula já tenha deixado claro que o seu candidato ao governo na Paraíba é o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. As últimas semanas serão cruciais para decisões e indicações de tendências, tanto no campo eleitoral (das intenções de voto, aferidas em pesquisas de diferentes institutos) como no âmbito judicial, onde será dada a última palavra sobre o quadro da disputa majoritária na Paraíba. A disposição pessoal de Ricardo é de manter a resistência até o fim, e não há interesse nem do PT nacional nem do candidato a governador Veneziano Vital do Rêgo em contrariá-lo nesse desideratum, até agora.