Nonato Guedes
A deputada estadual Pollyanna Dutra, candidata ao Senado pelo PSB, passou a se apresentar como “única opção segura” para a eleição de representante da Paraíba aliado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Alta Casa do Congresso Nacional, aludindo ao fato de que o ex-governador Ricardo Coutinho, candidato oficialmente apoiado por Lula, enfrenta inelegibilidade decretada a partir do Tribunal Regional Eleitoral do Estado. A ponderação de Pollyanna não é impertinente, já que a Paraíba conhece as suas ligações pessoais com o ex-mandatário, bem como a sua qualificação para o mandato, mas não produziu, até agora, o efeito de agregar apoios à sua postulação no campo da esquerda e, sobretudo, da base “lulista”, no Estado. Desse ponto de vista, o crescimento da sua cotação parece vegetativo, enquanto se estreita o período de campanha para a definição de ocupante da única vaga em jogo.
Ela tem advertido os setores progressistas ou democráticos da Paraíba para o risco de vir a ser eleito um senador alinhado com o bolsonarismo e acredita que esse desideratum não favorece os interesses da população do Estado, criticando a ausência de resultados proativos carreados por parlamentares que atuam em Brasília e integram o núcleo de apoio ao atual presidente Jair Bolsonaro. A crítica mais direta, feita por Pollyanna, foi ao deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, cujo pai, o ex-senador Efraim Morais, então expoente do PFL no Congresso, sustentou linha de oposição cerrada às gestões de Lula. Efraim Filho, embora evite polemizar sobre a disputa presidencial deste ano, tem posição firmada contra o ex-presidente Lula e seus discípulos, do PT e partidos coligados. O candidato oficial de Bolsonaro ao Senado na Paraíba é Bruno Roberto, do PL, filho do deputado federal Wellington Roberto, que preside a legenda a nível local.
Mas as pesquisas que até agora foram divulgadas sobre a corrida eleitoral paraibana mostram Bruno Roberto bem distante da vaga de senador, enquanto Efraim Filho foi listado em segundo lugar, com 20%, na pesquisa Ipec/TV Cabo Branco, dez pontos abaixo das intenções de votos atribuídas ao líder no levantamento, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT). A candidata Pollyanna Dutra, até por ter sido lançada de última hora no esquema do governador João Azevêdo, despontou com 8% e, desde então, tem empreendido uma verdadeira maratona para avançar substancialmente na corrida. Sua dificuldade de agregar apoios na esquerda ou na base “lulista” é atribuída pelos “experts” à projeção avassaladora que o ex-governador Ricardo Coutinho exerce nesse território – e mesmo agora, com a candidatura de Coutinho “subjudice”, há dúvidas sobre se Pollyanna se credenciaria à liderança do páreo, protagonizando reviravolta espetacular no cenário deste ano.
A jornada de Pollyanna para se firmar como candidata “lulista” ou de esquerda é prejudicada pela mobilização desencadeada pelo Partido dos Trabalhadores, com o aval do ex-presidente Lula e do candidato a governador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, a fim de manter a postulação de Ricardo Coutinho até o fim, desafiando todos os prognósticos de irreversibilidade da inelegibilidade que permeia o seu currículo atualmente. Essa estratégia tem nítida conotação psicológica, para evitar dispersão de votos ao Senado ou desagregação das forças que dizem representar a esquerda e o “lulismo” na Paraíba, distribuídas preferencialmente entre PT e MDB, já que o PSB do governador João Azevêdo não é considerado nesse espectro, apesar de, nacionalmente, integrar a chapa encabeçada por Lula, com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidato a vice.
Afirma-se que há fortes razões pessoais, de caráter afetivo, para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantenha a posição firme de apoiamento à candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho ao Senado, mesmo tendo conhecimento da possibilidade de confirmação da inelegibilidade. Para além das motivações afetivas – que remontam à solidariedade hipotecada por Ricardo a Lula no calvário deste na Polícia Federal em Curitiba e no apoio à ex-presidente Dilma Rousseff durante o moedor de carne do processo de impeachment a que ela foi submetida na Câmara dos Deputados – há, aparentemente, uma convicção firmada entre líderes petistas da cúpula nacional de que a postulação de Ricardo comporta brechas ou variantes que, em tese, poderiam favorecê-lo. Manter o apoio a ele, descartando outras opções em pauta, tornou-se, então, questão de honra para Lula e para o PT, até o esgotamento de alternativas disponíveis dentro da própria legislação vigente. Este é o cenário que reforça dificuldades para o avanço de Pollyanna pela seara esquerdista na Paraíba.