Nonato Guedes
A jornada do governador João Azevêdo (PSB) como candidato à reeleição ao Executivo da Paraíba incluiu ajustes desgastantes na composição da chapa majoritária e também consumiu esforços redobrados para mantê-lo na base de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no campo da esquerda, e a avaliação que se faz no seu círculo é a de que os impasses foram resolvidos a contento, dentro das condições de temperatura e pressão impostas pela conjuntura externa. João Azevêdo, que se submeteu ao julgamento das urnas pela primeira vez em 2018, segue confiante quanto às chances de reeleição, em meio a dúvidas sobre quem será o adversário no segundo turno, uma hipótese que passou a figurar no radar dos analistas políticos e a ser refletido por pesquisas de intenção de voto.
Em tudo por tudo, o cenário eleitoral de 2022 é diferente no histórico do projeto político que João Azevêdo decidiu abraçar. Houve a perda de aliados remanescentes, como o senador Veneziano Vital do Rêgo que, inclusive, motivou-se a ser candidato contra João exibindo como ativo maior o apoio do ex-presidente Lula, depois de formalizar uma coligação do MDB com o PT em nível estadual. Também migrou da órbita governamental o deputado Efraim Filho (União Brasil), que se julgou preterido na postulação para ser candidato ao Senado pelo esquema e acabou se compondo com o candidato de oposição Pedro Cunha Lima, do PSDB. Lá atrás já havia se materializado o rompimento entre Azevêdo e o antecessor Ricardo Coutinho (PT), que foi seu grande cabo eleitoral há quatro anos. Praticamente deu-se uma reconfiguração da base de apoio a João no contexto da realidade paraibana.
Impelido a promover uma espécie de reposição de figuras valiosas para a disputa majoritária, que também havia assinalado a defecção da vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, o governador João Azevêdo foi à luta e socorreu-se do “clã” dos Ribeiro, com projeção a partir de Campina Grande, tendo como expoentes principais a senadora Daniella (PSD) e o deputado federal Aguinaldo (PP). Este chegou a ser cogitado e pré-anunciado como opção ao Senado na chapa do governador, mas surpreendeu a todos e refugou a indicação, focando no projeto de reeleição à Câmara Federal. No lugar de Aguinaldo na chapa, o “clã” indicou o nome de Lucas Ribeiro, filho de Daniella, atual vice-prefeito de Campina Grande e filiado ao PP, para ser o vice de João na saga pela reeleição. Foi uma ação ofensiva, conforme avaliam interlocutores diretos do próprio governador, para contrabalançar o fogo cruzado que passou a ser desencadeado a partir de Campina, simultaneamente, pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e pelo deputado Pedro Cunha Lima.
A estratégia de João envolveu prestigiamento, no “staff” da sua campanha, ao prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que com o seu apoio logrou retornar ao Paço Municipal vencendo o candidato Nilvan Ferreira em segundo turno em 2020. A integração de Cícero foi considerada como extremamente importante pelo núcleo ligado a João, diante dos resultados que pode proporcionar nas urnas na Capital do Estado e, colateralmente, na região metropolitana que comporta municípios como Cabedelo, Bayeux e Santa Rita. Faltava ao esquema governista equacionar o impasse ao Senado e a solução encontrada foi o lançamento da deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), ex-prefeita de Pombal e ostensivamente identificada com o “lulismo”, até por ter atuado em parceria com o governo federal quando Lula era presidente. Pollyanna entrou com a missão de atrair, sobretudo, votos da esquerda, e é certo que corre contra o relógio para avançar mais substancialmente numa campanha em que foi a última a se anunciar.
No que diz respeito ao plano do governador de contar com a presença do ex-presidente Lula no seu palanque, ficou inviabilizado diante do “paredão” erguido em conjunto pelo ex-governador Ricardo Coutinho e pelo senador Veneziano Vital do Rêgo para obstar tal “desideratum”. O atual chefe do Executivo passou, então, a valer-se do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice de Lula, como influenciador no primeiro turno, requisitando-o tanto para evento como para mensagem no Guia Eleitoral, estratégia que se estendeu, também, à candidata ao Senado, Pollyanna Dutra, agraciada com elogios da parte do companheiro de chapa do petista. A perspectiva de segundo turno, num primeiro momento, confundiu o “staff” do governador João Azevêdo, que deu a largada com ares aparentemente triunfalistas. Mas, no geral, não houve desmobilização para um enfrentamento mais árduo. Para o chefe do Executivo, o importante é que o esquema está unido e, portanto, motivado para decidir a parada antenado com a sinalização do eleitorado paraibano.