Nonato Guedes
A única vaga para o Senado, em disputa nas eleições de dois de outubro, provoca uma verdadeira “guerra” entre candidatos na Paraíba, inclusive, com conotação ideológica mais forte do que a disputa pelo governo do Estado. Pelo menos sete postulantes se inscreveram para ocupar a cadeira em que se assenta Nilda Gondim (MDB), sucedendo ao senador José Maranhão, que faleceu vítima de complicações da Covid em pleno mandato. Há nomes como os de André Ribeiro pelo PDT e Alexandre Soares pelo PSOL. E há extremos como o que antagoniza o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato ao Planalto, a Bruno Roberto, do PL, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e filho do deputado federal Wellington Roberto, presidente estadual da legenda.
No campo da esquerda, entrou, por último, no páreo, a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), ex-prefeita de Pombal e ex-secretária de Estado, que passou a ser ostensivamente apoiada pelo governador João Azevêdo depois que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) desistiu de concorrer e que o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, rompeu com o esquema oficial e compôs-se com a candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo. Pelas projeções da primeira pesquisa Ipec, contratada pela TV Cabo Branco, Ricardo apareceu na liderança, seguido com diferença de 10 pontos pelo deputado Efraim Filho. Mas os indícios são de que Pollyanna começa a crescer no cenário da eleição majoritária e, em certa medida, a incomodar tanto o ex-governador Ricardo Coutinho quanto o deputado Efraim Filho. Pollyanna, no Guia Eleitoral, diz ter ligações pessoais com o ex-presidente Lula, enquanto este anuncia, de público, que seu candidato é Ricardo.
No fundo, a candidata do PSB aposta na migração de eleitores para sua postulação no campo da esquerda, quando ficar confirmada a inelegibilidade de Ricardo Coutinho ao Senado. Essa possibilidade já foi suscitada pelo Tribunal Regional Eleitoral, acolhendo processo sobre abuso de poder político com viés econômico por parte de Coutinho nas eleições de 2014. O ex-governador, até aqui, tem resistido no páreo, sobrevivendo aos obstáculos no meio do caminho, entre os quais a retenção de recursos do Fundo Partidário para a sua campanha. Em outra frente, ele investe numa série de recursos e apelações a tribunais como o TSE e o próprio Supremo Tribunal Federal a fim de garantir o direito de concorrer, apontando vícios e equívocos na decisão que o tornou inelegível. É uma questão que vem se arrastando a duras penas, em certa medida tumultuando o processo eleitoral em andamento.
Há uma expectativa sobre os resultados da segunda pesquisa Ipec, a serem divulgados hoje pela emissora afiliada da Rede Globo, porque, seguramente, eles irão mensurar o tamanho da performance conquistada até agora na disputa pela deputada Pollyanna Dutra, concorrente de Ricardo no segmento de esquerda, e pelo deputado Efraim Filho, de centro-direita, que se posicionou em segundo lugar no primeiro levantamento de intenções de voto realizado. Ricardo confia, essencialmente, no prestígio residual que detém junto a parcelas do eleitorado paraibano, como reflexo da sua atuação administrativa, em dois mandatos que exerceu, e também acredita no peso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assegurar-lhe a dianteira. Efraim se apoia numa vasta rede de apoios que construiu entre deputados, prefeitos e lideranças municipais de diferentes partidos, inclusive, de legendas que apoiam a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição mas mantêm o pacto em torno do seu nome.
Pela chamada “direita bolsonarista” também disputa o Senado, na Paraíba, o pastor Sérgio Queiroz, do PRTB, que chegou a ocupar cargos influentes neste primeiro governo empalmado por Jair Bolsonaro. Queiroz, todavia, não apresenta reforços valiosos na sua jornada para ascender ao Senado Federal e fia-se, principalmente, em bolsões evangélicos e nos setores de classe média que se identificam, eventualmente, com suas propostas eminentemente conservadoras, defendidas em debates e em entrevistas, já que praticamente não desponta com visibilidade no chamado Guia Eleitoral. Na primeira pesquisa do Ipec, o pastor Sérgio Queiroz ficou posicionado nos últimos lugares em relação a intenções de voto, e a expectativa é para saber se ele oscilou para mais, avançando na jornada, ou se decaiu irreversivelmente. A eleição para a única vaga ao Senado é excepcionalmente atípica este ano na Paraíba, e prenuncia-se uma gangorra dramática nos últimos dias de movimentação por parte dos postulantes mais credenciados a ocupar a vaga a partir de 2023.