Nonato Guedes
A deputada estadual Pollyanna Dutra, candidata ao Senado pelo PSB, passou a adotar na fase decisiva da campanha a pregação em favor do voto útil, apelando aos eleitores do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) que evitem dar um “voto perdido” nas urnas, aludindo à inelegibilidade do petista que já foi aventada pelo Tribunal Regional Eleitoral e que enfrenta capítulos dramáticos nas instâncias judiciais de Brasília, com seguidos recursos por parte dele para assegurar o direito e se manter no páreo. Última candidata a se lançar no páreo, com o apoio do governador João Azevêdo, Pollyanna largou na primeira pesquisa Ipec-TV Cabo Branco com 8% no dia 29 de agosto e, agora, na segunda pesquisa do mesmo Instituto, já saltou para 12%.
Ela demonstra ter convicção de que o ex-governador Ricardo Coutinho não conseguirá reverter a inelegibilidade, na contramão do que afirma o candidato petista, que é confiante no seu Direito e que está disposto a levar até o fim a sua postulação, contando com o estímulo de líderes nacionais como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito na corrida presidencial, e o apoio incondicional do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), candidato a governador, que o tem na sua chapa. Pollyanna Dutra, que foi prefeita da cidade de Pombal por duas vezes, coincidindo com gestões do ex-presidente Lula no início dos anos 2000, tem se apresentado como candidata da base lulista, embora o ex-mandatário já tenha informado, de público, que seu candidato na Paraíba é Ricardo Coutinho. O esforço de Pollyanna é dirigido no sentido de rachar as preferências dos setores de esquerda no Estado para o Senado e, com isso, avançar no patamar de intenções de voto.
Além de alfinetar Ricardo Coutinho com a suspeição da sua inelegibilidade no pleito deste ano, a candidata atua em outra frente para desgastar o candidato Efraim Filho, do União Brasil, que integra a chapa liderada pelo deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo da Paraíba. Pollyanna insinua, no Guia Eleitoral e em discursos na maratona de eventos por municípios do Estado, que Efraim representa o “bolsonarismo” e adverte que o ex-presidente Lula, em caso de vitória, vai precisar de políticos aliados com mandatos no Congresso para votarem em sintonia com ele nas matérias e projetos que forem encaminhados a partir de 2023. Ricardo Coutinho estreou na pesquisa Ipec liderando com 30% as intenções de voto, mas já no segundo levantamento caiu para 27%, seguido de perto pelo deputado Efraim Filho, que teve 25%. Não obstante, o candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro a senador na Paraíba é Bruno Roberto, do PL, filho do deputado federal Wellington Roberto, que despontou com 6% na última pesquisa do Ipec.
A estratégia da deputada Pollyanna Dutra para ser carimbada como candidata aliada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é massificada não somente por ela mas pelo próprio alto comando da campanha do governador João Azevêdo, que não conseguiu ter o líder petista no seu palanque mas explora sua identificação com a candidatura de Lula e com as propostas dele para todo o Brasil, especialmente para o Nordeste, onde há um favoritismo latente por parte do candidato petista. Nas suas falas, João Azevêdo aborda seu alinhamento com Lula desde 2018, quando concorreu ao governo pela primeira vez e apoiou a candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro. Um reforço importante que João Azevêdo tem acionado na sua campanha é o candidato a vice-presidente na chapa de Lula, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que é filiado ao mesmo partido do gestor paraibano, o PSB. João procura fazer-se confiável ao segmento de esquerda invocando a luta titânica que empreendeu, contra o próprio Ricardo, para voltar às hostes no PSB e, assim, permanecer na base de apoio ao ex-presidente Lula.
No que diz respeito à movimentação de Pollyanna para viabilizar o próprio crescimento na disputa que se desenrola e que entrou na fase decisiva, é certo que tem incomodado diretamente o próprio ex-governador Ricardo Coutinho, que já patrocinou inserções no Guia Eleitoral chamando-a de “bolsonarista”, devido ao fato do seu marido, o ex-prefeito “Barão”, ser dos quadros do PL. Pollyanna recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba com vistas à suspensão da veiculação do vídeo no Guia Eleitoral, o que foi negado em uma decisão monocrática. Ela tem esclarecido, através da imprensa, que seu marido era filiado ao PL antes do ingresso do presidente Jair Bolsonaro na legenda e enfatiza diretamente a sua ligação pessoal com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, espelhada na adoção, na Paraíba, de programas implementados pelas gestões dele, e de experiências exitosas que chegaram a ser premiadas por organismos internacionais de credibilidade indiscutível. A possibilidade de migração de votos de eleitores de Ricardo para a campanha de Pollyanna é tida como polêmica na própria esquerda, mas a deputada, independente do desfecho das batalhas judiciais de Coutinho, investe no segmento de esquerda para dar capilaridade à sua candidatura. Dessa orquestração faz parte, seguramente, o apelo ao “voto útil”.