“A transferência de voto não é uma coisa automática. Se fosse assim, seria muito fácil, mas não é assim. É um processo de maturação. Estamos entrando na semana em que o povo vai se definindo, esse é o processo”. A declaração foi feita pelo candidato a presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Ipatinga, Minas Gerais, ao minimizar os casos de não transferência de votos para candidatos a governador que está apoiando em inúmeros Estados. Ele disse esperar que o cenário seja revertido nesta reta final com o seu apoio.
Uma reportagem do UOL revelou que o ex-presidente não está conseguindo reverter votos a apoios em pelo menos três Estados: Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro, embora lidere as pesquisas eleitorais para o Planalto. “Ter o nome ligado (a Lula) tem sido vantajoso. Mas há candidaturas locais que contam com o apoio do petista e, a uma semana da eleição, ainda não decolaram”, informa o jornalista Lucas Borges Teixeira, do UOL. Explica que em pelo menos três Estados onde há outros nomes concorrentes de esquerda e também identificados com o ex-presidente, os candidatos escolhidos por ele não têm conseguido uma transferência suficiente de votos.
Em Pernambuco, a deputada Marília Arraes (Solidariedade) lidera nas pesquisas com o triplo das intenções de voto do deputado Danilo Cabral (PSB), nome de Lula e do governador Paulo Câmara. Na Paraíba, o governador João Azevêdo (PSB) é favorito à reeleição com quase o dobro das intenções de voto do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), candidato lulista. No Rio de Janeiro, Estado de maior desgaste entre PT e PSB, partidos que compõem a chapa presidencial, o deputado Alessandro Molon (PSB) está em segundo na disputa ao Senado, enquanto o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), que já subiu em palanque ao lado de Lula, briga pela quarta posição. Em comum, os três candidatos a governador são próximos de Lula, o apoiam e pedem votos para o petista mas foram preteridos para a chapa oficial do ex-presidente, e seus eventos locais, por causa das alianças regionais estabelecidas pelo PT.
Em Pernambuco, o apoio irrestrito de Lula a Danilo Cabral foi uma das condicionantes para o PSB fechar a aliança nacional na chapa, com o ex-governador Geraldo Alckmin, do PSB, como vice. Fundado no Estado pelo ex-governador Miguel Arraes, antigo aliado de Lula e avô de Marília e do prefeito recifense João Campos, o PSB governa Pernambuco desde 2007 e é uma prioridade para o partido. O acordo fez com que o PT desarticulasse os nomes do senador Humberto Costa e de Marília, então liderança jovem do PT no Estado. Insatisfeita, ela migrou para o Solidariedade em abril mas seguiu tentando vincular sua imagem à de Lula. Tem funcionado. Na ida de Lula a Pernambuco, Cabral e Câmara foram vaiados enquanto o nome de Marília era gritado pela militância. A situação chegou a tal ponto que Lula teve de intervir. Ela foi proibida de subir no palanque, mesmo sendo de um partido que faz parte da aliança nacional. Ainda assim, tem conseguido angariar apoios entre os ex-colegas do PT local.