Nonato Guedes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato favorito à Presidência da República nas eleições de domingo, tem se movido com habilidade no cenário político da Paraíba diante do apoio à sua candidatura de dois concorrentes ao governo do Estado, repetindo estratégia que foi levado a adotar em outros Estados, onde os conflitos regionais tornaram-se insuperáveis no entorno da sua base de sustentação política. Aqui, Lula tomou partido declarado pela candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e prestigiou pelo menos um evento de campanha que ele patrocinou em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Mas Lula não hostilizou outro apoiador ilustre, o governador João Azevêdo, do PSB, um dos primeiros gestores do país a oficializar adesão ao seu projeto no pleito em andamento.
Na mensagem dirigida ao povo paraibano, quer em vídeos ao lado do candidato Veneziano, quer no comício em que discursou no Parque do Povo, em Campina, o ex-presidente Lula focou mais nas qualidades do senador emedebista e na sua importância como aliado para um eventual terceiro governo do líder petista, em face da pesada herança que lhe será repassada pelo desastrado governo de Jair Bolsonaro. Esse tom guardou sintonia com as primeiras palavras de Lula ao acenar para uma frente ampla com vistas a respaldar sua candidatura, dentro do projeto de liderar uma “concertação nacional” para assegurar a democracia e, no bojo desta, implementar mudanças demandadas pelas novas pautas que estão no radar e reimplantar conquistas que, infelizmente, foram derrogadas na gestão bolsonarista, com a conivência de parlamentares da “banda fisiológica” da política brasileira. Já aí Lula demonstrou nítida e irretocável compreensão na análise da conjuntura desafiadora e do seu papel como peça-chave para promover o “aggiornamento” que se impunha.
A campanha de Lula para a eleição deste ano, mais do que outras que são citadas como parâmetros, tem-se caracterizado pelo método e pelo pragmatismo. Cedo, Lula conscientizou-se da missão histórica que lhe estava reservada na quadra atual da política e da necessidade premente de aglutinar apoios num vasto espectro ideológico, daí resultarem as concessões que foram feitas ao centro e à centro-direita, além dos gestos de conciliação com antigos adversários históricos, que acabaram sendo arrebanhados para uma espécie de projeto de salvação. Emblemática dessa estratégia foi, sem sombra de dúvidas, a aproximação com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em movimento bem-sucedido para afastá-lo do PSDB e entronizá-lo nas hostes do PSB, com a condição de ser admitido como vice do líder petista. A chapa Lula-Alckmin abriu as portas para a queda de barreiras ou resistências ao líder petista em segmentos como o do agronegócio, dos evangélicos e das forças econômicas ativas que compõem o PIB nacional.
Essa estratégia mais ampla, mais representativa e prioritária para pavimentar a pretensão de Lula fez com que as situações nos Estados se amoldassem à conjuntura maior, imperativa, para o desideratum da vitória ao Planalto. O próprio Lula operou no sentido de dar exemplo de como algumas costuras poderiam ser feitas, agindo em Pernambuco para retirar a candidatura do senador Humberto Costa (PT), que era favorita ao governo, a fim de abrir espaço para o apoio à candidatura de Danilo Cabral (PSB), que ainda patina nas pesquisas, diante da desenvoltura assumida pela candidata Marília Arraes, do Solidariedade, que deu um jeito de ficar na base de Lula. Em relação à Paraíba, pesou fortemente para o apoio de Lula a Veneziano a articulação do ex-governador Ricardo Coutinho, que, inclusive, foi lançado candidato ao Senado mesmo enfrentando, ainda agora, na reta finalíssima, o fantasma da inelegibilidade. O apoio selado com o MDB inviabilizou a presença de Lula no palanque de João Azevêdo, mas não impediu que o governador recorresse à imagem de Lula no Guia Eleitoral.
Cabe lembrar que em 2020, na eleição para prefeito de João Pessoa, o ex-presidente Lula pediu votos para a candidatura de Ricardo Coutinho ignorando a candidatura própria do PT, que era encabeçada pelo deputado estadual Anísio Maia. Na época, Ricardo ainda estava filiado ao PSB e o desgaste que enfrentou em meio a denúncias extraídas da Operação Calvário retirou-o de um segundo turno que acabou sendo vencido por Cícero Lucena em confronto com Nilvan Ferreira, que se apresentava como outsider da política, na linha do fenômeno Jair Bolsonaro versão 2018. Veneziano acredita que estará no segundo turno contra João Azevêdo, o que cria expectativa quanto à posição de Lula se o embate for, realmente, entre os seus dois apoiadores na Paraíba. Mas tudo ainda está no terreno da especulação, porque ainda faltam algumas coordenadas para definições mais concretas sobre o desfecho da eleição na Paraíba em 2022, atípica como tem sido atípica a eleição no resto do país.