Nonato Guedes
Virou regra nas campanhas eleitorais no Brasil: políticos-candidatos que estão em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto dedicam-se a atacá-las, em alguns casos furiosamente, embora não consigam prescindir delas e estejam, às ocultas, debruçando-se sobre percentuais considerados válidos ou sobre níveis de rejeição, deles ou dos adversários, para tentar adivinhar antes da “Hora H” as suas chances na disputa para variados cargos eletivos. Ainda agora, na campanha presidencial, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) comanda uma sistemática desmoralização de institutos como o Datafolha e o Ipec pelo fato de que, desde o começo da campanha, sinalizam favoritismo do candidato e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A orquestração intensificou-se mais ainda com as projeções indicando que Lula pode vencer no primeiro turno, supostamente beneficiando-se do voto útil que sua campanha passou a explorar junto a segmentos indecisos ou passíveis de migração.
Os especialistas em marketing e tendências já advertiram inúmeras vezes que pesquisas não são infalíveis e constituem uma fotografia do momento em que intenções de voto são apuradas num universo por amostragem. Houve eleições, inclusive, para presidente da República, em que as projeções erraram fragorosamente porque, em certo instante, não captaram oscilações cruciais e decisivas no pêndulo das posições de candidatos. Quanto à influência ou não das pesquisas sobre a manifestação da vontade popular, principalmente junto aos eleitores que parecem vacilantes, é um dado relativo que carece de melhor comprovação científica. A verdade é que, quando não confiam nos institutos, nem nos mais credenciados ou abalizados, partidos e candidatos fazem seus próprios levantamentos. Às vezes, dão certo, às vezes são desastrosos.
Uma reportagem do UOL Notícias compara o cenário atual com o de 2018 no campo das pesquisas e destaca que no levantamento divulgado em seis de outubro daquele ano o Datafolha apontou, em votos válidos, Bolsonaro com 40% das intenções de voto e Fernando Haddad, candidato do PT, com 25%. A margem de erro era de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Na mesma data, o então Ibope divulgou que Bolsonaro tinha 41% e Haddad os mesmos 25%. A margem de erro também era de dois pontos percentuais. Os cenários se assemelham ao resultado que as registraram no dia seguinte: Bolsonaro teve 46,03% e Haddad 29,28%. Ambos avançaram para a segunda etapa da votação, quando Bolsonaro se consagrou na esteira de uma intensa estratégia de desgaste do PT, associado a casos de corrupção e outros escândalos.
A pesquisa boca de urna, realizada no dia da votação, como recapitula o UOL, foi ainda mais próxima que o real: o Ibope apontou 45% para Bolsonaro e 28% para Fernando Haddad. O Datafolha não fez essa sondagem. Na linha de argumentos que usa para desqualificar as pesquisas este ano, em que concorre a um novo mandato, o presidente Bolsonaro insiste em que elas “erram tudo em 2018”. Entretanto, tanto o Datafolha quanto o Ibope acertaram quem concorreria ao segundo turno nas pesquisas divulgadas na véspera do pleito naquele ano. Evidente que a tática de Bolsonaro, na versão 2022, é dirigida para sensibilizar a sua “bolha” fiel e, ao mesmo tempo, para tentar tirar proveito de uma eventual confusão junto a outras fatias do eleitorado. O diretor do Instituto Quaest Felipe Nunes afirmou que as pesquisas não têm a intenção de prever os números do dia da votação, mas mostrar um retrato daquele momento para informar a população.
Textualmente, ele assinalou: “As pesquisas são diagnósticos do momento, não são prognósticos do que vai acontecer no futuro”. Também é preciso considerar que nas pesquisas não é possível estimar o índice de abstenção – ou seja, quantas pessoas não comparecem para votar. No primeiro turno de 2018, revela o UOL, esse percentual foi de 20,33% dos eleitores. Votos nulos (quando o eleitor digita um número inexistente) e brancos (quando o eleitor aperta a tecla “branco” e confirma) também não são considerados, já que só votos válidos contam para o resultado. De certo modo, a opinião pública já está acostumada com a guerra de números em período eleitoral e associa o comportamento ao “modus operandi” de todos os postulantes para ganhar votos a qualquer custo. Quanto aos políticos, fazem todo um jogo para não perder pontos. Afinal, a concorrência é grande e as vagas são poucas.