Nonato Guedes
Com 30,82% dos votos válidos, o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, sagrou-se senador pela Paraíba nas eleições de ontem, derrotando pesos-pesados como o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, que ficou em terceiro lugar com 21,55% e a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), apoiada pelo governador João Azevêdo, que ficou em segundo lugar com 22,84%. O pastor Sérgio Queiroz, do PRTB, ficou com 11,67% e Bruno Roberto, do PL, obteve 11,58%. A eleição de Efraim foi o coroamento de uma jornada obstinada que começou quando ele ainda estava na base do governo de João Azevêdo e se manteve na oposição, quando ele migrou para a chapa do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que está no segundo turno da disputa ao governo contra o atual chefe do Eecutivo.
A campanha de Efraim, na verdade, experimentou crescimento desde a largada, com o combate entre ele e o ex-governador Ricardo Coutinho, com diferença de 10% a favor deste na primeira pesquisa do Ipec para a TV Cabo Branco. Já na segunda pesquisa, Efraim demonstrou fôlego, reduzindo a diferença para Coutinho e se mantendo à frente de Pollyanna, a última a ser lançada e que surpreendeu com o segundo lugar no dia do pleito. Ricardo esteve o tempo todo subjudice, diante da inelegibilidade decretada pelo Tribunal Regional Eleitoral, mas deu trabalho aos concorrentes diante do “recall” construído com sua passagem pelo governo do Estado e prefeitura da Capital e o apoio declarado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desgaste de Ricardo, que já havia se manifestado na eleição para prefeito de João Pessoa em 2020 e a insegurança quanto à sua elegibilidade contribuíram para subtrair-lhe votos preciosos, da mesma forma como a entrada em cena de Pollyanna no campo da esquerda e na base de apoio a Lula minou a capilaridade do ex-governador.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganhou na Paraíba no primeiro turno com 64,21% dos votos, contra 29,62% atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro (PL), mas, confirmando as expectativas, o segundo turno para governador ficou entre João e Pedro. O candidato Veneziano Vital do Rêgo (MDB), apoiado por Lula, que chegou a participar de um evento em Campina Grande, ficou em quarto lugar, com 17,16%, abaixo do bolsonarista Nilvan Ferreira, do PL, que abocanhou 18,68%.. Nas primeiras declarações em cima dos resultados apurados, o governador João Azevêdo agradeceu a confiança dos paraibanos e disse que vai continuar sua campanha pautada nos interesses do Estado, focando na implementação de mais políticas públicas. O seu discurso tem como mote, para o segundo turno, a tese de que a Paraíba deve optar pela continuidade do modelo de gestão, evitando voltar atrás nos avanços até agora experimentados.
O governador considerou-se recompensado por contar com a maioria dos deputados à Câmara Federal e Assembleia Legislativa dentro do seu arco de sustentação política, e, no tocante à estratégia para se reforçar no segundo turno, revelou que o seu partido, o PSB, conduzirá as articulações junto a outros dez partidos e aos novos parlamentares considerados aliados pelo Palácio da Redenção. João Azevêdo garantiu que não partirá para a campanha de ataques pessoais, muito menos dirigidos à honra de quem quer que seja. “Nós vamos fazer uma campanha que discuta projetos e propostas de interesse da Paraíba”, salientou, acrescentando que conta com o engajamento decisivo do seu candidato a vice-governador, Lucas Ribeiro, do PP, sobretudo em Campina Grande, e da própria deputada Pollyanna Dutra, ex-candidata ao Senado, cuja performance nas urnas foi considerada expressiva pelo governador.
A batalha do segundo turno para o governo da Paraíba cria expectativas sobre alinhamentos de forças políticas que estiveram envolvidas até agora com o processo eleitoral. O deputado Pedro Cunha Lima já sinalizou que partirá em busca da meta de agregar apoios, não descartando conversar, sequer, com o senador Veneziano Vital do Rêgo, que é adversário do seu “clã” na Rainha da Borborema e tentando atrair, também, votos do candidato Nilvan Ferreira, que mais uma vez demonstrou capilaridade em disputa majoritária. Interlocutores do governador João Azevêdo ressaltam que ele tem cacife para liquidar a fatura a seu favor e que sua maior credencial é o trabalho desenvolvido à frente da administração estadual. Tanto Pedro como João terão que ter habilidade para evitar erros estratégicos fatais na nova disputa que vai se ferir até o final de outubro. O apoio de lideranças políticas, sobretudo as que foram eleitas, é fundamental, mas outras adesões precisarão ser conquistadas e, sobretudo, será preciso fazer o convencimento da massa votante para a parada decisiva nas urnas.