Nonato Guedes
O “staff” de campanha do governador João Azevêdo (PSB), que disputa a reeleição contra o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), caiu em campo para costurar o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à candidatura dele neste segundo turno que se desenrola no Estado. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que Lula e o PT têm potencial de agregar e podem, sim, estar conosco nesse segundo turno”, afirmou João em declarações ao UOL. No primeiro turno, Lula fez campanha aberta na Paraíba para o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que ficou em quarto lugar na contagem final mas fez uma aliança com o PT local, indicando a candidata a vice, Maísa Cartaxo, e o candidato ao Senado, Ricardo Coutinho. Tanto Veneziano quanto Ricardo (este derrotado nas urnas por Efraim Filho, do União Brasil) anunciaram, até agora, compromisso com Lula, mas a adesão de líderes petistas a João não é descartada nos meios políticos.
A lógica é simples: desde o começo da batalha para a presidência da República, João demonstrou simpatia e afinidade com a candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto, oferecendo, inclusive, palanque da sua coligação para recepcioná-lo. Em nenhum momento, o governador da Paraíba pleiteou exclusividade de palanque, sempre expendendo o raciocínio de que, quanto mais Lula agregasse apoios, melhor para a sua candidatura contra o presidente Jair Bolsonaro. O ex-presidente ganhou disparado na Paraíba, inclusive em redutos receptivos ao bolsonarismo como Campina Grande, onde ele marcou presença no primeiro turno ao lado de Veneziano. Mesmo com Lula pedindo votos para Veneziano, “por honra da firma”, dada a coligação feita por este com o PT, em nenhum momento João “desembarcou” da campanha do petista. Manteve-se na base lulista, tendo, no início, usado imagens com o ex-presidente. Foi reforçado, nessa empreitada, pela candidata ao Senado, Pollyanna Dutra, extremamente identificada com Lula e que acabou ficando em segundo lugar, desbancando o próprio Ricardo, embora tenha sido lançada por último no páreo majoritário estadual.
Por causa da insistência de João em ter aliados preferenciais de Lula no seu palanque foi que ele perdeu o deputado federal Efraim Filho, que acabou conquistando a vaga de senador como expoente do palanque do candidato Pedro Cunha Lima, que faz oposição a Azevêdo. O candidato a vice na chapa de João acabou sendo Lucas Ribeiro, vice-prefeito de Campina Grande e filiado ao PP, cuja família tem inclinação bolsonarista. Mas Lucas passou ao largo da polêmica sobre a disputa presidencial. O próprio candidato do PSDB ao governo, Pedro Cunha Lima, que está na finalíssima com João, ainda ontem esquivou-se da discussão sobre a corrida pelo Planalto, argumentando que o seu foco maior é na Paraíba. Pedro tem como ativo importante no segundo turno o senador eleito Efraim Filho, que é mais identificado com o bolsonarismo. Além da derrota de Veneziano na Paraíba, um outro candidato apoiado por Lula no Nordeste – Danilo Cabral (PSB), perdeu em Pernambuco. Mas também lá a candidata que fechou na primeira colocação, Marília Arraes (Solidariedade) já fez discursos se alinhando ao petista para a disputa do segundo turno. “Sempre estive com ele e estarei com ele nesse momento crucial da democracia brasileira, aqui em Pernambuco”, justificou Marília.
Historicamente, o PT e o lulismo têm crescido nas eleições estaduais na região Nordeste. Em 2002, quando o país elegeu Lula como presidente pela primeira vez, o partido elegeu apenas um governador (Wellington Dias, no Piauí) e seus candidatos e apoiadores perderam em todos os outros oito Estados. Quatro anos mais tarde, começava o salto petista na região: o partido melhorou seu resultado, com três governadores eleitos, inclusive na Bahia, o maior colégio eleitoral da região, com a vitória de Jaques Wagner. Outros dois aliados venceram. Em 2010, como recapitula o UOL, mais uma alta: apesar de vencer como “cabeça de chapa” em apenas dois Estados, o PT saiu vitorioso por coligações em outros quatro Estados, integrando seis governos favoráveis. Em 2014, uma repetição: foram três governadores eleitos e três aliados vencedores. Na última eleição, o sucesso foi total: com as vitórias no segundo turno de Belivaldo Chagas em Sergipe e Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte, PT e aliados venceram nos nove Estados do Nordeste. O cenário só foi diferente na disputa para o Senado agora, em que três de seus candidatos apoiados perderam a eleição na região, entre eles Ricardo Coutinho.
Na Paraíba, o que se comenta nos meios políticos é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já quitou faturas tanto com o seu principal interlocutor, o ex-governador Ricardo Coutinho, que foi candidato ao Senado, como com o senador Veneziano Vital do Rêgo, que foi derrotado ao governo. A avaliação é de que, agora, Lula precisa se abrir para consolidar a vitória no segundo turno e que, desse ponto de vista, apoios fiéis não podem e nem devem ser desprezados, como o do governador da Paraíba, João Azevêdo, cujo esquema logrou eleger bancadas expressivas à Câmara Federal e à Assembleia Legislativa. Cientistas políticos dizem que o Nordeste mostrou, com os resultados de agora, que tem sido cada vez mais a região em que Lula e seus aliados se saem melhores no país. Ressaltam que no Nordeste Jair Bolsonaro não consegue avançar de jeito nenhum: as intenções de voto são muito mais favoráveis ao lulismo.