Nonato Guedes
O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que disputa o governo da Paraíba no segundo turno contra o governador João Azevêdo (PSB), eleitor declarado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está sob pressão para definir sua posição no segundo turno da eleição à Presidência da República, que Lula polariza com o atual chefe de governo Jair Bolsonaro (PL). Pedro tem procurado atrair os adversários que foram derrotados na corrida ao governo do Estado mas que se dizem oposição a João Azevêdo, como Nilvan Ferreira, do PL, e Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. Ocorre que Nilvan foi oficialmente apoiado por Bolsonaro na Paraíba, até por causa do seu perfil como “bolsonarista raiz”, enquanto Veneziano teve o apoio oficial de Lula, não obstante João Azevêdo ter figurado na base lulista, até porque o candidato a vice-presidente é o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSB.
O deputado Pedro Cunha Lima, ao ser abordado pela enésima vez por jornalistas, ontem, continuou em cima do muro na definição sobre o pleito presidencial. “Reafirmo o que coloquei ao longo do primeiro turno: independente do presidente eleito, a Paraíba não pode ficar sem apoio do governo federal”. Traduzindo melhor, ele explicou que desalinhamento político nenhum poderá prejudicar o Estado. “A gente vai governar em parcerias, independente de quem for eleito. Saberei respeitar o escolhido”, acrescentou. A manifestação desagradou a gregos e troianos, que insistiram, “em off” ou em declarações públicas, que o líder político precisa tomar partido, ter posição e informar à opinião pública de que lado está. O filho do ex-governador Cássio Cunha Lima desde o primeiro turno vinha manifestando desconforto ou incômodo com a polarização entre Bolsonaro e Lula no páreo presidencial, tendo apostado fichas numa hipotética terceira via que, no final das contas, não produziu um representante com densidade ou com condições de empolgar parcelas expressivas do eleitorado e romper a bolha que gravita em torno de Lula e Bolsonaro.
A reação do candidato Nilvan Ferreira, que veio abaixo de Pedro na corrida pelo governo do Estado, foi sintomática. Ele comentou que Cunha Lima precisa afirmar, claramente, “se é carne ou ou é peixe”, aludindo ao maniqueísmo ideológico que opõe a extrema esquerda à extrema direita no atual cenário político-institucional. O outro candidato, Veneziano Vital do Rêgo, até as últimas horas não havia se manifestado sobre a polêmica, mas no calor da derrota para o governo do Estado já havia reafirmado a manutenção do apoio incondicional à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma manifestação qualquer de Pedro tem fortes implicações na conjuntura estadual, passando por disputas pelo controle da prefeitura de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, que atualmente é administrada por Bruno Cunha Lima. Veneziano e os Cunha Lima são adversários históricos a partir da Rainha da Borborema e já se defrontaram em embates de impacto. Em 2014, Cássio disputou o governo contra Vital do Rêgo Filho (atual ministro do TCU) e contra Ricardo Coutinho, tendo sido este o vitorioso.
No primeiro turno das eleições deste ano, o deputado Pedro Cunha Lima ainda torceu por uma candidatura própria do PSDB à Presidência da República, representada pelos governadores de São Paulo, João Doria, ou do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que se submeteram a prévias internas, mas os resultados das prévias acabaram sendo contestados e o partido desistiu da pretensão, passando a apoiar, em federação com outros partidos, a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB), que teve como vice a tucana Mara Gabrilli mas que não deslanchou no páreo propriamente dito, apesar de excelente performance em debates com outros candidatos, incluindo-se Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Pedro Cunha Lima fez movimentos malabaristas na Paraíba, chegando a recepcionar numa mesma semana em Campina Grande o candidato Ciro Gomes, do PDT, e a candidata Simone Tebet. Cobrado a se decidir, declarou o voto pessoal em Tebet, que não teve, na Paraíba, a acolhida do emedebista Veneziano Vital do Rêgo, “fechadíssimo” com Lula.
Empurrado para o segundo turno das eleições ao governo da Paraíba, o deputado Pedro Cunha Lima sente aumentar o peso da responsabilidade e da cobrança sobre posicionamento no plano nacional. Isto tem tido, como consequência, o aumento do seu desconforto. “Quem vai resolver os problemas da Paraíba não é o presidente, é o governador do Estado”, reagiu, ontem, em mais uma manobra para despistar o patrulhamento. Há versões de que Nilvan Ferreira, terceiro colocado no primeiro turno das eleições, teria sido orientado pelo presidente Jair Bolsonaro a migrar o apoio para Pedro Cunha Lima se este apoiar a reeleição do mandatário. É grande a expectativa sobre os próximos passos de Pedro, que envolverão, de acordo com analistas, o seu próprio futuro político. Por enquanto, aparentemente, ele continua focado na Paraíba, mas as avaliações são de que essa posição é insustentável e que ele não resistirá ao bombardeio para anunciar seu posicionamento, seja ele qual for. De concreto, a situação vivida por ele é inédita no quadro político paraibano ao longo da História.