Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB), que concorre à reeleição, passou a ser o candidato apoiado pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba, consolidando-se, assim, uma aliança que ficou inviabilizada no primeiro turno, quando Lula e o PT local definiram-se pela candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que ficou em quarto lugar na contagem dos votos. Durante encontro, ontem, em São Paulo, que teve participação de outros governadores e senadores, Lula gravou um vídeo ao lado de João pedindo votos para ele e explicando que tem razões para tanto. “Além dele ser um governador de verdade, vai ser um parceiro de verdade”, entoou Lula, acenando com uma Paraíba mais próspera e desenvolvida em caso de vitória.
A opção de Lula e do PT pela candidatura de João era a alternativa mais lógica diante do manifesto apoio do atual governador ao ex-presidente desde o primeiro turno, quando não pôde construir palanque com ele no Estado. O articulador-mor da aliança entre o o PT e o MDB na Paraíba foi o ex-governador Ricardo Coutinho, ex-aliado de João que rompeu com ele no início do atual governo e que é uma espécie de interlocutor privilegiado junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por causa de gestos de lealdade que sustentou para com ele, mesmo na fase de ostracismo deste. Ricardo lançou-se candidato ao Senado nas eleições do dia dois, mas perdeu no voto, ficando na terceira posição. Em paralelo, Ricardo concorreu desafiando a sua situação de inelegibilidade, que fora decretada pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. A votação final ainda foi expressiva, decorrente do resíduo da sua liderança e do seu prestígio junto a parcelas do eleitorado, mas ele foi inapelavelmente abatido nas urnas pelo candidato do União Brasil, Efraim Filho, e atropelado pela candidata Pollyanna Dutra, do PSB, que ficou no segundo lugar e cuja performance surpreendeu.
No primeiro turno das eleições, o ex-presidente Lula foi vitorioso na Paraíba, numa repetição do fenômeno que se espalhou por todo o Nordeste – obteve 1.554.868 votos, equivalentes a 64,21% do total de sufrágios válidos, enquanto o governador João Azevêdo saiu vencedor das urnas com mais de 340 mil votos de diferença para o segundo colocado, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). Mesmo sem se declarar abertamente alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, adversário de Lula na etapa decisiva, Pedro é considerado “bolsonarista” porque, como parlamentar, votou favoravelmente em inúmeras matérias do governo federal, tendo participado de evento de campanha do mandatário no interior do Estado. O candidato oficial do presidente Bolsonaro ao governo da Paraíba foi o comunicador Nilvan Ferreira, do PL, que ficou em terceiro lugar na apuração, acima do senador Veneziano Vital do Rêgo.
Na linha do encontro ocorrido em São Paulo entre o ex-presidente Lula e o governador João Azevêdo, a executiva estadual do PT da Paraíba já decidiu, por unanimidade, apoiar a candidatura do socialista no segundo turno. O presidente Jackson Macêdo salientou que embora haja divergências com a administração de Azevêdo, “em nome da democracia” o socialista será a escolha dos petistas nesta segunda etapa do pleito. “É importante dizer que tínhamos um candidato no primeiro turno e acreditávamos que ele era o melhor. Temos logicamente muitas críticas ao governo, mas, neste momento, juntamente com a direção nacional do PT, aprovamos o apoio a João Azevêdo, deixando claro que para nós, na Paraíba, a luta principal será a ampliação do palanque de Lula e da diferença de votos de Lula em relação ao atual presidente”, comentou, didaticamente. Na verdade, no primeiro turno, houve petistas que “fecharam” com João, como os deputados Frei Anastácio Ribeiro e Anísio Maia, não reeleitos, mas a tendência por Veneziano foi avassaladora diante da articulação comandada por Ricardo Coutinho.
A história da integração direta do governador João Azevêdo à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva constitui uma “saga”, diante de obstáculos que foram colocados no meio do caminho por apoiadores de Lula mas desafetos do chefe do Executivo paraibano. Nesse particular, foi ostensiva a movimentação do ex-governador Ricardo Coutinho para barrar qualquer tentativa de aproximação de João com o ex-presidente Lula. No contraponto, Azevêdo resistiu com coerência ao paredão ensaiado para distanciá-lo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Deixou claro, ene vezes, que não reclamava exclusividade de palanque e que não teria problema em dividir espaços com adversários locais, como o senador Veneziano Vital do Rêgo, que até pouco tempo foi seu aliado, inclusive, participando diretamente do governo. O objetivo de João sempre foi o de aglutinar votos para o ex-presidente e ele teve o reforço, nessa cruzada, da deputada estadual Pollyanna Dutra, candidata ao Senado, que tem ligações históricas com Lula. A dinâmica da política, com a passagem de João para o segundo turno como líder, materializou, enfim, uma parceria que vinha sendo buscada há bastante tempo.