Nonato Guedes
Embora tenha ficado em quarto lugar na corrida pelo governo da Paraíba no primeiro turno, o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) a um candidato no segundo turno é considerado um ativo político valioso, que certamente terá influência para decidir a sorte do governador João Azevêdo (PSB) e do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). O parlamentar obteve 373.511 votos, o equivalente a 17,16% do resultado válido, e foi o candidato oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até por causa da aliança que conseguiu fechar com o PT local, que indicou nomes à vice-governança e ao Senado na sua chapa. Veneziano agendou ato político para a manhã de hoje na sede do diretório estadual do MDB, tendo convocado prefeitos e líderes políticos que o apoiaram no primeiro turno. João Azevêdo já assegurou o apoio de Lula na rodada decisiva, mas Veneziano, até as últimas horas, alimentava o suspense sobre seu posicionamento.
Curiosamente, a assessoria do deputado Pedro Cunha Lima cogitou a hipótese de uma agenda do tucano na sede do MDB na Capital, sem confirmação de que seja para formalização de aliança entre os dois, podendo, o compromisso, ser o anúncio da adesão de um prefeito da legenda ao candidato tucano. O deputado federal Gervásio Maia, presidente do PSB no Estado, disse que é grande a expectativa no círculo do governador João Azevêdo de que ele venha a ter o apoio de Veneziano neste segundo turno. Na opinião de Gervásio, as divergências entre Veneziano e o governador ficaram restritas, em tese, ao primeiro turno, quando os dois se enfrentaram nas urnas. Fontes ligadas a Veneziano, por sua vez, opinam que a relação entre ele e o governador ficou bastante desgastada, o que inviabilizaria uma recomposição em tão curto espaço de tempo. A opção de Veneziano poderia ser a declaração de neutralidade na disputa local, mantendo apenas o compromisso com a candidatura do ex-presidente Lula contra Jair Bolsonaro.
O histórico da relação entre Veneziano e João Azevêdo foi do alinhamento ao rompimento, constituindo guinada espetacular num período de quatro anos. Em 2018, estiveram no mesmo palanque, com João disputando o governo pela primeira vez e Veneziano concorrendo ao Senado, também pela primeira vez. A união foi abençoada pelo então governador Ricardo Coutinho, que estava filiado ao PSB e permaneceu até o último dia no exercício do mandato, tendo sido coroada de êxito com vitória já no primeiro turno. Logo surgiram divergências, com Ricardo precipitando o seu afastamento de João por se sentir desprestigiado na administração. O ex-governador criou problemas para a permanência de João no PSB, forçando-o a migrar para outro partido, o Cidadania, mas, depois, já enfastiado, também deixou a sigla e fez o caminho de volta ao PT, onde iniciara trajetória política. João logrou retornar às hostes do PSB, mas, desta feita, foi Veneziano quem dele se distanciou, em meio a desinteligências e até incidentes. O senador rompeu alegando “desatenção” da parte do governador.
Numa articulação que teve as digitais de Ricardo Coutinho e o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Veneziano criou fato de repercussão ao se lançar candidato a governador firmando composição com o PT no pleito deste ano. Reforçado pela sua condição de primeiro vice-presidente do Senado Federal, Veneziano tornou-se interlocutor qualificado junto ao ex-presidente Lula, participando do staff de coordenação da campanha na Paraíba, em conjunto com líderes petistas. Lula cumpriu agenda em Campina Grande no primeiro turno, prestigiando evento expressivo no Parque do Povo, e declarou, em vídeo, que tinha candidato a governador na Paraíba, recomendando o nome do senador emedebista. João Azevêdo manteve-se na base de apoio a Lula, até em virtude de ser filiado ao partido que indicou o vice do petista – Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, e pôde associar sua candidatura à campanha de Lula, mas, para todos os efeitos, o candidato de Lula era Veneziano.
Se não “fechar” hoje com João, Veneziano estará em desacordo com Lula pelo menos no plano local. Segundo se apurou, o próprio governador João Azevêdo tomou a iniciativa de abrir entendimentos para concretizar apoios que considera valiosos no segundo turno e teria feito chegar ao conhecimento de Veneziano que não identifica dificuldades ou problemas para uma composição neste segundo turno – pelo contrário, já vê como grande ponto em comum o apoio de ambos ao projeto de eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em termos concretos, Veneziano, que participou de evento em São Paulo a que Azevêdo compareceu, limitou-se a destacar, em discurso, a necessidade de união de forças para a garantia da democracia no país, em antítese a arroubos autoritários atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro e aos seus seguidores mais ortodoxos. “Nós sabemos muito bem o que estamos a disputar. Esse chamamento é importante para que possamos reforçar e ampliar a votação de Lula, pois os brasileiros vão distinguir sobre os momentos que haveremos de ter, de um Brasil repacificado e reunificado sob sua gestão e espírito cristão”, falou Veneziano dirigindo-se a Lula. Resta saber o que o senador dirá sobre a Paraíba na “Hora H”, logo mais.