Nonato Guedes
Além da “coerência”, como ele explicou, ao “fechar” com um candidato de oposição ao governador João Azevêdo (PSB) no segundo turno da disputa ao Palácio da Redenção, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) levou em conta fatores ligados à própria sobrevivência do seu esquema político no Estado ao declarar apoio à pretensão do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) ao Executivo. Quarto colocado no primeiro turno, mas com respeitáveis 373.511 votos (17,16% do total), Veneziano tem tido dificuldades para se fortalecer como líder alternativo no cenário estadual, tanto assim que não conseguiu fazer o MDB, sob seu comando, avançar substancialmente em termos de estrutura. Para concorrer ao governo no primeiro turno, ele teve que se socorrer da logística do PT e batalhar por uma declaração de apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – apoio este que, agora, se transferiu para João Azevêdo.
Nas eleições municipais de 2020 à prefeitura de Campina Grande, a mulher de Veneziano, Ana Cláudia Vital do Rêgo, não avançou na disputa contra o candidato Bruno Cunha Lima (PSD), que foi vitorioso em primeiro turno e, agora, como candidata a deputada estadual, ela obteve apenas 17.312 votos, o que a faz refletir sobre futuras investidas no território da política. No cenário mais à frente, em 2026, quando terá a opção de tentar renovar o mandato ao Senado, Veneziano enfrentará concorrentes de expressão que já estão sendo preliminarmente anunciados, como o governador João Azevêdo, o deputado federal Hugo Motta, a senadora Daniella Ribeiro, com direito à reeleição, a deputada Pollyanna Dutra, que surpreendeu na disputa pela senatória este ano, sem falar em outras figuras que até lá vão se sentir naturalmente credenciadas. Veneziano, é claro, terá alternativas majoritárias e proporcionais no radar, mas a conjuntura poderá não ser favorável.
Um outro aspecto decisivo para que ele apoiasse Pedro Cunha Lima foi o completo desinteresse em qualquer reaproximação com o governador João Azevêdo. Para Veneziano, a relação ou o histórico de convivência com João tornou-se irreversivelmente página virada, diante do estágio de desgaste a que chegou. Nem mesmo o apoio manifesto do ex-presidente Lula a João Azevêdo no segundo turno, o que estava na lógica da dinâmica da campanha eleitoral, sensibilizou o senador a seguir o figurino adotado pelo líder petista. Ele se deixou guiar pelas peculiaridades da situação política da Paraíba, devendo tê-las feito chegar ao conhecimento do ex-presidente Lula em conversas mantidas em cima do mapa das urnas, sendo respeitado em seu ponto de vista pessoal. A derrota ao governo serviu, então, como oportunidade para Veneziano protagonizar gesto virtuoso, compondo-se com o expoente de um grupo de quem foi adversário assumido nas batalhas eleitorais, travadas, principalmente, em Campina Grande, segundo colégio eleitoral. Tal foi concebido, tal foi executado.
É difícil acreditar que Veneziano tenha ilusões quanto a maiores vantagens de uma aproximação com o “clã” Cunha Lima na conjuntura da Paraíba, dadas as reações imprevisíveis do próprio eleitorado diante da crônica de embates que os respectivos grupos têm protagonizado ao longo de décadas na história política. Por outro lado, tanto o “clã” Cunha Lima como o “clã” liderado por Veneziano têm projetos e pretensões autonomistas na realidade política estadual. Uma eventual ascensão do deputado Pedro Cunha Lima ao governo, no embalo do segundo turno que ele está disputando, redimiria seu esquema de derrotas consecutivas na Paraíba, como as de Cássio ao governo em 2014 e ao Senado em 2018 quando buscou a recondução. A impressão dominante em alguns círculos é de que a aliança firmada neste segundo turno deverá ser pontual para estas eleições, não avistando-se ainda, com nitidez, desdobramentos nas batalhas futuras.
Seja como for, o senador Veneziano Vital do Rêgo posicionou-se no segundo turno das eleições ao governo da Paraíba, e de uma forma simbolicamente marcante, ao declarar seu apoio ao deputado Pedro Cunha Lima, desapontando os que apostavam que ele ele iria fazer movimentos para proceder o caminho de volta ao esquema do governador João Azevêdo. Por igual, foi incisivo o posicionamento de Veneziano mantendo-se, a nível nacional, na linha de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, independente da neutralidade que tem sido apregoada pelo candidato Pedro Cunha Lima, que não quer se filiar à corrente da polarização que divide os segmentos a nível nacional entre as postulações de Jair Bolsonaro e de Luiz Inácio Lula da Silva. É mais tentador acreditar que Veneziano esteja apostando fichas, mesmo, na vitória de Lula à Presidência da República, dentro da perspectiva de que, num eventual governo dele, poderia vir a ser prestigiado como retribuição ao alinhamento incondicional até agora demonstrado nas eleições de 2022 no Estado da Paraíba.