Nonato Guedes
Fontes ligadas ao governador João Azevêdo (PSB) revelam que a sua estratégia para confirmar a vitória no segundo turno das eleições no próximo dia 30 baseia-se no apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já cristalizado, e no engajamento maciço de prefeitos e lideranças municipais, bem como de parlamentares da base que foram eleitos ou reeleitos no dia dois de outubro. Desse ponto de vista, o esquema do governador investe na fidelidade de políticos do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que demonstrou no último pleito forte liderança municipalista no Estado, e no empenho de líderes do PP como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, além da senadora Daniella Ribeiro, do PSD, cujo filho, Lucas, é candidato a vice na chapa de João.
Azevêdo emergiu das urnas como vitorioso em 174 municípios de diferentes regiões no primeiro turno e tem se mobilizado, juntamente com aliados fiéis da coordenação de campanha, para atrair mais adesões, o que já resultou na conquista de 67 titulares de prefeituras no interior. No encontro que manteve com gestores e gestores, o governador não titubeou em dizer que sua vitória passa, “fundamentalmente”, pelas mãos de tais lideranças, daí ter pedido mais um crédito de confiança para liquidar a fatura contra o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), seu adversário na rodada decisiva, que atraiu o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), quarto colocado na disputa majoritária estadual. No que diz respeito à integração do PT local à campanha de João, houve manifestação unânime por parte da Executiva estadual, seguindo orientação nacional, mas há defecções dignas de registro como as do ex-governador Ricardo Coutinho, ex-candidato ao Senado, e da deputada estadual Estela Bezerra, que não conseguiu se eleger à Câmara Federal.
A ala petista que já apoiava o governo de João Azevêdo, integrada por nomes como o do deputado federal Frei Anastácio Ribeiro e do deputado estadual Anísio Maia (não reeleitos a dois de outubro), continua firme com a candidatura do governador, que recebeu também o aval do diretório municipal do PT em João Pessoa, presidido por Antônio Barbosa. Sobre a omissão de Ricardo Coutinho e de Estela Bezerra, o que se afirma nos meios políticos é que nem João tem interesse nesses apoios, diante de hostilidades que diz ter sofrido da parte do “ex” e da deputada, nem Ricardo e Estela querem se compor com o candidato governista. Ricardo, como se sabe, foi o mentor da candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo em aliança com o PT e agiu nos bastidores para conseguir declaração de apoio de Lula a essa candidatura. Lula fez mais, comparecendo a um evento organizado por Veneziano em Campina Grande, no Parque do Povo, e declarando que tinha “lado” na Paraíba no primeiro turno.
Essa fatura já foi quitada – e o segundo turno possibilitou uma situação inusitada dentro do PT com relação à Paraíba: os “ricardistas” são contra João Azevêdo, enquanto o ex-presidente Lula e os diretórios petistas apoiam o chefe do Executivo. Ricardo, em falas que tem divulgado em grupos através de redes sociais e em entrevistas, tem dito que não apenas Pedro Cunha Lima (PSDB) mas qualquer outro candidato que fosse ao segundo turno contra João venceria a eleição. A divergência no plano local, porém, não impede o mutirão para que seja ampliado o percentual de votação do candidato Luiz Inácio Lula da Silva na Paraíba, que já foi significativamente expressivo no primeiro turno. Lula obteve na Paraíba 64,21% dos votos, contra 29,62% atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro. Até o tucano Pedro Cunha Lima favorece a ampliação da vantagem de Lula ao não se definir por candidatura a presidente da República na Paraíba. No primeiro turno, ele votou em Simone Tebet (MDB), que aderiu a Lula, mas recepcionou o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, que também anunciou apoio a Lula.
O governador João Azevêdo, de acordo com os seus interlocutores mais próximos, tem plena consciência dos desafios que estão colocados diante do segundo turno da disputa pelo Palácio da Redenção, mas lembra que foi vitorioso no primeiro turno e que, apesar do pouco tempo de campanha neste segundo turno, tem mais espaço para se pronunciar sobre o que realizou no governo e outras metas que planeja empreender se tiver um voto de confiança do eleitorado paraibano. O socialista saiu da primeira rodada com o troféu de 863.174 votos, o equivalente a 39,65%, contra 520.155 atribuídos a Pedro Cunha, que somou 23,90%. Pedro tem ao seu lado o senador eleito Efraim Filho, do União Brasil, que é eficiente na articulação com a base municipalista para amplificar seu favoritismo. Ressalvada a vantagem atual que indiscutivelmente João Azevêdo tem, a eleição no segundo turno para governador da Paraíba pode reservar surpresas – para um lado ou para outro, dependendo da dinâmica dos apoios e da evolução dos fatos na reta finalíssima para a qual os dois candidatos se encaminham.