Nonato Guedes
Ao anunciar posição de neutralidade no segundo turno das eleições para governador na Paraíba, entre Pedro Cunha Lima (PSDB) e João Azevêdo (PSB), o bolsonarista Nilvan Ferreira (PL) manobrou para manter seu perfil de ‘franco-atirador’ no cenário político local e, com isto, tentar preservar seu próprio espaço na conjuntura, principalmente em embates futuros, que já cogita. Não é segredo que, com a expressiva votação obtida, sobretudo na Grande João Pessoa, em 2024 Nilvan vai tentar engrenar novamente uma candidatura a prefeito da Capital. Chegou bem perto, em 2020, quando concorreu pelo MDB e disputou o segundo turno contra Cícero Lucena (PP), que acabou vitorioso. Agora, seu cacife aumentou. Ele emergiu das urnas a dois de outubro com 406.604 sufrágios, desbancando o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que era oficialmente o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nilvan não apoiou Pedro por achar que ele titubeou ao não hipotecar apoio ao presidente Jair Bolsonaro e porque se sentiu incomodado quando Cunha Lima aceitou a presença, no seu palanque, do senador Veneziano. Quando Veneziano assumiu o comando do MDB com a morte de José Maranhão, Nilvan sentiu-se agastado, apesar de ter sido o candidato que foi para o segundo turno em 2020 contra Cícero Lucena. Isto o levou a precipitar sinal de migração, inicialmente ingressando com honras no PTB e, na sequência, filiando-se ao PL, depois que este virou partido do presidente Bolsonaro, com quem tem identidade profunda. Voltar a dividir metro quadrado com Veneziano, ainda que fosse no palanque de Pedro, não lhe apetecia. E ir para o bloco do governador João Azevêdo, nem pensar. Sem opções à vista, Ferreira recolheu-se na cena local e prometeu engajamento incondicional na campanha de Jair Bolsonaro. É o que ele vai fazer, apostando numa reversão por parte do atual presidente no páreo contra Lula.
De resto, as sequelas da disputa a governador da Paraíba ainda estão muito latentes, entre candidatos como Nilvan Ferreira e Veneziano Vital do Rêgo, que não lograram passar para a rodada decisiva. Cita-se, como exemplo, que não faltaram críticas veementes da parte de Nilvan ao deputado Pedro Cunha Lima no primeiro turno e que foi tratado pelo comunicador, em debates e em entrevistas, como expoente de uma “oligarquia política tradicional”, a despeito de Pedro insistir na teoria da identidade própria e na bandeira da renovação nos quadros políticos paraibanos. Talvez o radicalismo no tom empregado por Nilvan ao se dirigir a Pedro tenha inibido o próprio deputado tucano de abordá-lo para um apoio no segundo turno, tendo essa missão sido cumprida pelo pai de Pedro, o ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima. Se já não é mais um “outsider” na política local – muito pelo contrário – Nilvan quer ser, pelo menos, ‘franco-atirador’ no território paraibano.
A verdade é que, antes de ser virada a chave das eleições de 2022 ao governo do Estado e à Presidência da República, a disputa pela sucessão do prefeito Cícero Lucena (PP), que é para ser deflagrada teoricamente em 2024, já entrou no radar. Além da candidatura do próprio Cícero à reeleição e da de Nilvan, que ele não assume por razões táticas, um movimento emblemático ocorreu, ontem, na coletiva do pastor Sérgio Queiroz (PRTB), que foi candidato ao Senado e declarou apoio, agora, a Pedro: foi o lançamento, pelo prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, da candidatura do pastor à municipalidade pessoense. Queiroz obteve 233.849 votos e concorreu na chapa liderada pelo Major Fábio, sinalizando que tomou gosto pela política, sendo picado pela mosca do poder. O pastor entrou nesse terreno opondo restrições ao sistema atual e até recusando recursos do Fundo Partidário, mas, diante da votação atraente que conquistou, sobretudo na região metropolitana de João Pessoa, passou a considerar outras hipóteses. É nome agora posto com respeitabilidade em setores da sociedade e nos meios políticos, onde, finalmente, parece entronizado, vencida a pecha de “jejuno” e confrontado com o jogo bruto que está por trás dessa atividade em diferentes esferas.
A disputa pela sucessão do prefeito Cícero Lucena daqui a dois anos promete ser altamente inflacionada, tal como se deu no pleito de 2020, quando pelo menos 14 postulantes se inscreveram na contenda. Lá atrás, no calor dos primeiros resultados das recentes eleições, já haviam entrado em pauta as pré-candidaturas a prefeito do deputado estadual eleito e ex-prefeito Luciano Cartaxo, do PT, do deputado Walbber Virgolino, reeleito à Assembleia, e do ex-governador Ricardfo Coutinho, que, mesmo derrotado ao Senado, reconquistou sua elegibilidade para embates futuros. A previsão é de concorrência entre Luciano e Ricardo pela indicação à candidatura dentro do PT, e é certo que o ex-governador tem cacife mais valioso numa queda-de-braço interno, pela condição de interlocutor privilegiado do ex-presidente Lula. Há, também, o deputado federal Ruy Carneiro, agora no PSC, que bateu na trave ao ser candidato em 2020. Poderão surgir mais nomes, segundo a expectativa que predomina nas áreas políticas do Estado.