Nonato Guedes
A performance do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) como candidato ao governo da Paraíba tem surpreendido positivamente seus apoiadores e empolgado a coordenação de campanha, a partir da constatação de que ele cresceu do primeiro turno para cá, credenciou-se como legítimo representante de oposição ao governador João Azevêdo (PSB), com quem polariza a rodada decisiva e tem contribuído para manter o alto nível do debate, agitando questões que são do interesse da população, não fugindo, sequer, ao enfrentamento de temas-tabus. Pedro, que não tem nenhuma experiência em cargos executivos, mas se destacou na presidência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, desbancou concorrentes como Nilvan Ferreira, do PL, e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ficando em segundo lugar com 520.155 votos, equivalentes a 23,90% do total de sufrágios válidos e passando a dar combate ao governador que disputa a reeleição.
Há uma expectativa quanto aos próximos debates de que Pedro participará com João em emissoras de televisão neste curtíssimo segundo turno, prevendo-se que ele avance numa linha mais veemente de crítica ao atual governo para demonstrar firmeza, coerência e domínio das questões que aborda, em sincronia com as propostas que ele defende para o Estado. No geral, a sua tônica tem sido a de que a sociedade paraibana esperava mais da parte do governo João Azevêdo, cujo desempenho é considerado insatisfatório pelo deputado tucano nas falas que tem proferido ao longo da jornada. Uma alta fonte do “staff” de Pedro revelou ao colunista sua impressão de que “ele conseguiu ir longe na corrida sucessória”, desafiando prognósticos pessimistas e até mesmo problemas logísticos enfrentados no curso de um confronto desigual com o atual governador, que, colateralmente, se beneficia do efeito psicológico da máquina oficial.
Como lembrou a fonte, o candidato do PSDB entrou no páreo praticamente em condições adversas, como uma espécie de “candidato-tampão” para substituir ao ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que demorou a se decidir pela disputa ao Executivo e, quando se decidiu, disse “Não”, preferindo a zona de conforto de uma eleição a deputado federal, afinal assegurada. O próprio Pedro, depois de ter aceito a convocação para manter a honra da firma e assumir o confronto com o candidato-governador, enfrentou dificuldades de outra ordem, ligadas à estrutura de campanha, para poder se firmar no contexto. Procurou se diferenciar do seu pai, o ex-governador Cássio Cunha Lima, sem olvidar suas gestões e sua trajetória política, muito menos recusar a valiosíssima colaboração de bastidores que Cássio tem oferecido, na articulação de apoios políticos com vistas a dar capilaridade à candidatura do filho, que tem como vice-governador o empresário Domiciano Cabral, ex-deputado e empresário, com penetração na Grande João Pessoa, um dos pontos vulneráveis da campanha de Pedro.
As polêmicas criadas por Pedro no curso da campanha eleitoral, envolvendo, por exemplo, temas como o custo da Granja Santana, a residência oficial do governador do Estado, e os valores do duodécimo repassados à Assembleia Legislativa e a outros Poderes constituídos chegaram a instilar dúvidas na coordenação de campanha sobre os efeitos negativos que poderiam atrair para a campanha do tucano. Mas Pedro sustentou o diapasão até agora e nem por isso perdeu espaços na disputa majoritária. Houve receios, também, quanto ao reflexo da posição de neutralidade assumida por ele no segundo turno da eleição presidencial, que foi criticada, ontem, pelo governador João Azevêdo. Pedro tem resistido estoicamente às insinuações de que está em cima do muro ou de que pratica oportunismo político. E, com isso, vai tentando assegurar apoios essenciais e votos da chamada massa flutuante que, tal como ele, não morre de amores pela polarização que está gerando ódio e até brigas familiares.
A verdade é que o deputado Pedro Cunha Lima ganhou visibilidade, capilaridade eleitoral e tornou-se alternativa efetiva para segmento expressivo do eleitorado paraibano que não se dispõe a dar mais quatro anos de governo para João Azevêdo. Uma de suas mais celebradas conquistas no segundo turno foi a adesão do senador Veneziano Vital do Rêgo, que chegou a se estranhar com ele em debates no primeiro turno. Ambos deram uma trégua na crônica de rivalidades políticas e enfrentamentos eleitorais, sobretudo na cidade de Campina Grande, para se unir com vistas a tentar derrotar o governador que pleiteia a recondução. Até agora, as pesquisas sinalizam uma posição de vantagem de João Azevêdo, que tende a ser mantida nas condições normais de temperatura e pressão, ou seja, se não houver sobressaltos. Indiferente aos números dos institutos, Pedro segue, obstinado, na sua jornada, consciente de que já entrou para a história das eleições mais importantes e decisivas do cenário estadual nas últimas décadas.