Nonato Guedes
Faleceu neste sábado, 15, no Rio de Janeiro, aos 101 anos, o ex-governador da Paraíba, ex-senador e ex-deputado federal Milton Bezerra Cabral, que também foi embaixador do Brasil na Romênia no governo de José Sarney. De acordo com informações, ele será sepultado às 13h de amanhã no Rio, onde residia. Milton era engenheiro, natural de Umbuzeiro e filho do ex-líder político Severino Cabral, o “pé de chumbo”, que se projetou em Campina Grande, onde foi prefeito. Milton ascendeu ao governo do Estado por via indireta, em 15 de junho de 1986, escolhido pela bancada situacionista na Assembleia Legislativa para cumprir até março de 1987 o restante do mandato de Wilson Braga, que se desincompatibilizara para disputar o Senado em 86, tendo sido derrotado.
O vice-governador, empresário José Carlos da Silva Júnior, já falecido, também renunciara ao Executivo para ser candidato do PDS ao governo, desistindo da disputa ao perceber que estava sendo “cristianizado” pelas bases e recusar pressões para financiar candidaturas à eleição proporcional. A investidura de Milton foi cercada de problemas, diante da tentativa da bancada de oposição de barrá-la na Justiça. O então PMDB acionou o procurador-geral da República para impugnar a validade da escolha do chamado “governador-tampão”. A oposição defendia a permanência do desembargador Rivando Bezera, presidente do Tribunal de Justiça, no governo, pelos dez meses restantes, ou convocação de eleição direta, apoiando, ainda, uma eleição indireta condicionada a regras fixadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. Milton deu plantão em Brasília, somente de lá saindo com a confirmação de sua investidura pelo Tribunal Superior Eleitoral.
À frente do mandato-tampão e com o andamento de uma campanha eleitoral acirrada, na qual se confrontaram ao governo Tarcísio Burity (eleito) e Marcondes Gadelha, Milton Cabral fez uma gestão tumultuada, que o incompatibilizou com segmentos do funcionalismo público, devido ao atraso no pagamento de salários, e outros setores da sociedade. Ele ainda procurou priorizar os setores industrial e comercial com vistas a reaquecer o processo de crescimento econômico do Estado. Mais tarde, com a vitória de Tarcísio Burity, candidato de oposição ao esquema braguista, foi acusado de criar problemas na fase de transição para o substituto, recusando-se a repassar informações essenciais sobre a máquina administrativa. Afastou-se, posteriormente, da política, limitando-se a comentar fatos da conjuntura quando abordado pela imprensa. Costumava dizer não identificar mudanças substanciais no processo local, com exceção da emergência de algumas lideranças. Milton Cabral foi, também, presidente da Confederação Nacional da Indústria e membro conselheiro do Serviço Social da Indústria – Sesi.