Nonato Guedes
Embora tenha um deputado federal – Pedro Cunha Lima, disputando o segundo turno da eleição para governador da Paraíba, o PSDB não elegeu nenhum representante à Câmara dos Deputados e conseguiu eleger apenas três deputados estaduais – Fábio Ramalho (estreante), Camila Toscano e Tovar Correia Lima (reconduzidos). A única integrante da bancada federal do partido, atualmente, é a deputada Edna Henrique, que não se candidatou a nenhum mandato – seu filho, Michel Henrique, foi eleito deputado estadual pelo Republicanos. O deputado federal Ruy Carneiro, que ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de João Pessoa em 2020, quando concorreu pelo PSDB, foi reeleito este ano disputando pelo PSC.
Uma reportagem do UOL revela que o fenômeno da derrocada do PSDB é nacional e cita que o partido experimentou nas urnas, este ano, sua maior derrota em comparação com quatro anos atrás. Somente na Câmara, nesta eleição, o número de parlamentares despencou de 22 para 13, uma queda de 41%. No Senado, a bancada terá dois representantes a menos – caiu de 6 para 4, mas pode chegar a cinco, dependendo das eleições estaduais. Por esse motivo, há uma corrente entre os tucanos que defende a ideia de repaginação da sigla a partir do próximo ano. No primeiro turno, nas eleições presidenciais, o candidato a governador Pedro Cunha Lima declarou voto em Simone Tebet (MDB) e a recepcionou em Campina Grande, mas também acolheu na Paraíba o presidenciável Ciro Gomes, do PDT. Neste segundo turno, com o confronto entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Pedro declarou neutralidade, o que provocou críticas de bolsonaristas fiéis e levou o ex-candidato a governador Nilvan Ferreira, do PL, a também declarar neutralidade, mas apenas para o governo do Estado.
A derrocada nas eleições de 2022 é interpretada como o resultado de um processo de estagnação do PSDB no cenário eleitoral. Daniel Trzeciak, deputado federal eleito no Rio Grande do Sul, afirma que a legenda precisa voltar a se conectar com a população. “O PSDB precisa se reinventar e voltar a estar conectado com os anseios e desejos da sociedade”, enfatizou. Uma das derrotas mais amargas para o PSDB em 2022, conforme o UOL, foi o fim da hegemonia de 28 anos à frente do governo de São Paulo. Ex-vice de João Doria, Rodrigo Garcia tentou renovar o mandato por mais quatro anos, mas acabou ficando atrás de Tarcísio de Freitas, do Republicanos, e Fernando Haddad, do PT, que disputam o segundo turno. Rodrigo assumiu o governo após João Doria se afastar com a intenção de participar da corrida presidencial pelo PSDB, o que acabou ficando inviável.
Ele desistiu da disputa por falta de apoios e de competitividade no cenário nacional. Os tucanos apoiaram, então, a candidatura de Simone Tebet, do MDB, em um esboço do que seria a chamada terceira via. No segundo turno Simone Tebet declarou voto em Lula. Outro trauma ainda não totalmente superado pelos tucanos é a derrota de Aécio Neves à Presidência da República em 2014. Em uma disputa voto a voto, o ex-governador de Minas Gerais e atual deputado federal ficou atrás de Dilma Rousseff, à época candidata à reeleição pelo PT. A diferença entre os dois foi de cerca de 3,5 milhões de votos. Além da derrota em São Paulo e da redução na Câmara e no Senado, o partido não elegeu nenhum governador em primeiro turno. Nos Estados em que um filiado disputa eleição no segundo turno, não é favorito a ganhar o pleito, caso de Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul. Pedro Cunha Lima aparece em desvantagem para João Azevêdo na Paraíba.
A avaliação de políticos do PSDB é que o partido vem se despedaçando desde 2014. Naquele ano, após perder para Dilma, Aécio pediu recontagem dos votos, virando alvo de críticas. Para tucanos, a sua atitude inaugurou um movimento de questionamento das urnas e de posições mais radicais de políticos do PSDB. A partir de 2015, João Doria viu seu nome ganhar força no partido e até 2018 projetou novos passos (foi lançado candidato ao governo de São Paulo e se indispôs com Geraldo Alckmin, seu padrinho político). No segundo turno, contra Márcio França (PSB), Doria anunciou apoio a Bolsonaro com o slogan “BolsoDoria” mas nos anos seguintes deu sinais de que rivalizaria com Bolsonaro em uma futura eleição presidencial. Entrou em conflito com o presidente no auge da calamidade da covid-19 e travaram brigas públicas. Doria já disse que o mau desempeno em 2022 pode levar ao desaparecimento da sigla. “O PSDB é um partido perdedor neste momento, com redução de 41% da bancada. Ficou menor e ainda foi empurrado para a direita, em vez do centro, pelo PT”, analisou ele. O cientista político Eduardo Gin, da Fundação Getúlio Vargas, revela que “cabeças brancas” do partido perderam influência, substituídos por geração muito mais formada pelo discurso da técnica, surfando na onda da antipolítica. Fala-se que a saída seria unificar o PSDB com o MDB porque, sozinho, o partido tucano não se reconstroi.