O primeiro confronto direto entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), transmitido, ontem à noite, pela TV Band e promovido por um “pool” de órgãos de imprensa, como UOL, Folha de São Paulo e TV Cultura, apresentou um novo modelo de debate e foi dividido em dois momentos. No primeiro bloco, Lula dominou a cena emparedando Bolsonaro com questões sobre a condução da pandemia de covid-19. No último, depois de pressionado por acusações de corrupção na Petrobras, o petista se perdeu no tempo e o chefe do Executivo teve quase seis minutos para falar, sem interrupção.
O programa durou quase duas horas, dividido em três blocos. Lula subiu ao palco antes de Bolsonaro, que entrou e não cumprimentou o petista. Na primeira pergunta do confronto, o ex-presidente saiu do púlpito e respondeu ao questionamento andando, enquanto Bolsonaro ficou parado. Ao longo do debate os advrsários ficaram mais à frente do palco e o presidente chegou a encostar no ombro do adversário. Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira mostrou Lula com 49% das intenções de voto e Bolsonaro com 44%. Outros 5% disseram que devem votar em branco ou nulo, 1% está indeciso. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais. O segundo turno está marcado para acontecer dia 30 de outubro.
Houve troca de ironias entre os protagonistas do debate, sobretudo em questões polêmicas. Bolsonaro questionou a grandiosidade da obra de transposição das águas do rio São Francisco no Nordeste alardeada por Lula, o que levou o ex-presidente petista a indagar, depois de chamá-lo de mentiroso: “O senhor acha que o nordestino acredita nisso que está dizendo?”. Lula usou a gestão da pandemia de covid-19 para emparedar Bolsonaro, falando do negacionismo do presidente e do atraso na aquisição de vacinas, além do desrespeito do presidente a Institutos como o Butantan e outros centros de pesquisa qualificados. Bolsonaro relembrou o Petrolão e deixou Lula, pressonado, nas cordas. A visita de Lula ao Complexo do Alemão, no Rio, fez Bolsonaro insinuar ligações do petista com o crime. Bolsonaro destacou decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para se defender de polêmica sobre pedofilia. Os dois candidatos se comprometeram a não mexer no número de ministros do STF.
Frases de Lula no debate: “Quem defende a democracia e a liberdade sou eu. Muito mais do que ele, que é um pequeno ditadorzinho”. Ou: “Se houve corrupção na Petrobras, olha, apreendeu-se o ladrão que roubou, acabou. Porque, no nosso governo, nada era escondido. A gente não tinha sigilo. Não tinha sigilo do filho, da filha, não tinha sigilo do cartão de crédito”. De Bolsonaro, em tom irônico: “Prezado Lula, quem vai ser seu ministro da Economia? Já decidiu ou está barganhando com algum partido político?”. E mais: “Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o Parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós, do lado de cá”. Lula foi ao debate usando um broche na lapela de seu terno em homenagem à Campanha Nacional de Mobilização de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Nos bastidores, familiares e integrantes da campanha de ambos os candidatos acompanharam o debate. Lula chegou com a esposa, Janja da Silva, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Bolsonaro estava cercado de homens – o filho Carlos Bolsonaro e os ministros Fábio Faria, das Comunicações, e Ciro Nogueira, da Casa Civil. O ex-juiz e senador eleito Sergio Moro entrou no estúdio antes do programa começar para orientar Bolsonaro e também participou da entrevista coletiva após o embate. Ambos haviam rachado em 2020 quando Moro abandonou o governo de Bolsonaro e o acusou de interferir na Polícia Federal.