Nonato Guedes
Não está clara para os eleitores e analistas políticos a extensão da aliança firmada no segundo turno das eleições deste ano ao governo da Paraíba, entre o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que concorre contra o governador João Azevêdo (PSB).Ou seja: não há sinalização de que o acordo venha a ter desdobramentos já em 2024, na eleição municipal em Campina Grande, onde os dois grupos têm histórico de rivalidade e de enfrentamento pelo controle da prefeitura. Até aqui, a perspectiva é de indicação da candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima (PSD) à reeleição. Em 2020, Bruno foi o vitorioso em primeiro turno, com o apoio ostensivo do então prefeito Romero Rodrigues, derrotando, entre outros nomes, a candidata Ana Cláudia Vital, mulher do senador emedebista.
A adesão de Veneziano à candidatura de Pedro Cunha Lima deu-se depois que este conseguiu passar para a finalíssima no pleito em andamento, com 520.155 votos contra 373.511 obtidos pelo senador do MDB e teria sido articulada, nos bastidores, com a participação do ex-senador Cássio Cunha Lima, pai de Pedro, em bases não reveladas para a imprensa. A justificativa agitada por Veneziano para se compor com Pedro, além da possibilidade de unir forças em Campina Grande, foi o interesse em derrotar o governador João Azevêdo, de quem o senador era aliado. Na reconfiguração, Azevêdo havia atraído o apoio do “clã” Ribeiro, ao indicar Lucas (PP), filho da senadora Daniella (PSD) para seu vice. De concreto, Veneziano tem sido ativo no trabalho de aliciamento de adesões, sobretudo, de líderes municipalistas, para a campanha de Pedro.
Há incompatibilidades bastante visíveis na junção dos dois palanques, como, por exemplo, na eleição presidencial. Veneziano foi o candidato apoiado no primeiro turno pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba e conseguiu levar o líder petista para uma manifestação grandiosa em Campina Grande, no Parque do Povo. Pedro declarou voto no primeiro turno na candidata Simone Tebet, do MDB, e anunciou-se neutro no confronto do segundo turno, assumindo incômodo com a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula. A neutralidade de Pedro foi uma atitude polêmica que lhe custou perdas na etapa decisiva e instigou o ex-candidato a governador Nilvan Ferreira (PL) a dizer-se neutro, na disputa estadual. Ultimamente, Nilvan, que continua engajado no mutirão pró-Bolsonaro, tem elevado o tom contra Cunha Lima, insinuando até mesmo suposto apoio velado do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) ao tucano.
Entre partidários do deputado Pedro Cunha Lima, que foi presidente da Comissão de Educação da Câmara mas não possui experiência executiva mais relevante na própria Paraíba, avalia-se que ele tem tido desenvoltura surpreendente na campanha eleitoral e que a sua própria passagem para o segundo turno indicaria que ele está sendo encarado como “o novo” para parcelas expressivas da opinião pública ou do eleitorado, embora pertencendo a um “clã” que, vez por outra, é atacado por adversários como expressão de “oligarquia política” no Estado. O avô de Pedro, Ronaldo Cunha Lima, foi governador eleito em 1990, derrotando Wilson Braga, e o pai, Cássio, elegeu-se duas vezes ao Palácio da Redenção, não tendo concluído o segundo mandato por ter sido afastado em 2009 pelo TSE, episódio que Cássio classificou de “grande erro judiciário”. Entre os apoiadores de Pedro também avalia-se que ele foi “muito longe” até agora no processo eleitoral, restando dúvidas se conseguirá fazer frente ao rolo compressor da máquina oficial nos derradeiros momentos da campanha.
Depois do dia 30 é que se saberá com nitidez o teor da aliança celebrada a golpes de pressa entre Veneziano e Pedro na disputa eleitoral do segundo turno. No primeiro, os dois chegaram a se atritar algumas vezes, principalmente em questões polêmicas sobre a administração de Campina Grande, que Veneziano empalmou por duas vezes, mas não houve radicalização nesse ponto. Nilvan Ferreira bateu mais do que Pedro nas gestões de Veneziano na Rainha da Borborema. Especula-se que, se Lula for eleito presidente e Pedro ganhar o governo na Paraíba, Veneziano será o grande fiador junto ao Planalto para encaminhar solução de pleitos ou demandas urgentes de interesse do Estado, já que não há clima de interlocução entre o candidato petista e o candidato tucano. Está no radar, também, a possibilidade de que Veneziano venha a ser aproveitado num eventual governo Lula em ministério estratégico para a região Nordeste. Tudo fica restrito ao terreno da especulação ou da hipótese, já que da parte dos líderes políticos não há transparência sobre compromissos firmados nos bastidores de campanha. Mas é certo que uma vitória de Pedro, com interlocução de Veneziano junto a um virtual governo Lula, iria coroar o que, até agora, parece um arranjo pontual, talhado sob medida para uma eleição específica.