Nonato Guedes
Confrontados com pesquisas mais recentes, que sinalizam crescimento do percentual de intenções de voto na candidatura de Pedro Cunha Lima a governador, aliados do deputado federal pelo PSDB avaliam que foi correta, do ponto de vista estratégico, a sua postura de declarar “neutralidade” no segundo turno em relação à disputa presidencial. A deputada estadual reeleita Camila Toscano, por exemplo, observou, ontem, em entrevista à rádio Arapuan, que o “descolamento” de Pedro das candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (PL) ou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possibilitou-lhe conquistar eleitores bolsonaristas e lulistas, enquanto o governador João Azevêdo (PSB), seu adversário, oficialmente apoiado por Lula, estaria limitado no campo da atração de eleitores teoricamente “flutuantes”.
Já no primeiro turno da disputa pelo Palácio da Redenção, Pedro Cunha Lima deixou claro o seu desconforto pessoal com a polarização política-ideológica entre partidários de Lula e seguidores de Bolsonaro. Na verdade, Pedro apostou fichas, como tantos outros políticos, na perspectiva de uma “terceira via”, que constituísse alternativa aos extremos à direita e à esquerda no cenário institucional brasileiro – e houve experimento nesse sentido, dentro do seu próprio partido, com a candidatura de João Doria, então governador de São Paulo. Ocorre que as prévias realizadas pelo PSDB, opondo, sobretudo, João Doria a Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul, foram mal conduzidas e resultaram em racha nas hostes tucanas, que já havia sofrido um golpe com a migração do ex-governador Geraldo Alckmin para o PSB com a condição de ser candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Lula. A dados de hoje, o PSDB é um partido em vias de extinção, devendo fundir-se após o pleito com alguma legenda remanescente da temporada eleitoral de 2022.
Para driblar a polarização, Pedro declarou voto, no primeiro turno, à candidatura da senadora Simone Tebet, do MDB, que ficou em quarto lugar no Estado com 2,36% dos votos, ou 57.154 sufrágios. O tucano paraibano também abriu palanque para recepcionar o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, que saiu das eleições como terceiro colocado, com 76.225 votos. O gesto de Pedro foi uma forma de retribuir o apoio à sua candidatura manifestado pelo candidato a senador do PDT, André Ribeiro, que teve apenas 19.903 votos. Oficialmente o candidato de Lula ao governo da Paraíba no primeiro turno foi o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), quarto colocado, enquanto o candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro foi o comunicador Nilvan Ferreira, do PL, que despontou em terceiro lugar no “round”, abaixo de Pedro Cunha Lima e de João Azevêdo.
No segundo turno, Nilvan Ferreira declarou neutralidade em relação à disputa estadual, num gesto considerado temerário por analistas políticos, mantendo-se firme, apenas, no apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. Esse movimento de Nilvan acabou sendo a “senha” para o ex-candidato a governador Veneziano Vital do Rêgo aderir ao projeto de Pedro, justificando a necessidade de mudança no cenário administrativo da Paraíba. O apoio a Pedro, no entanto, não impediu Veneziano de manter-se na base de apoio ao ex-presidente Lula, mesmo com este passando a apoiar formalmente o governador João Azevêdo, com cujo partido o PT nacional coligou-se. Veneziano tem procurado cumprir agendas específicas com Pedro Cunha Lima e comanda esquema próprio de arregimentação de votos em prol de Lula. Na prática, conforme a pesquisa Ipec-TV Cabo Branco, Lula tem 68% das intenções de voto de paraibanos contra 32% de Jair Bolsonaro, na projeção de votos válidos.
O raciocínio da deputada Camila Toscano é o mesmo de outros interlocutores respeitáveis que atuam no entorno da campanha de Pedro Cunha Lima: o candidato tucano teve condições de agregar apoios importantes no segundo turno e cravar votos diretamente junto a eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro porque não está cobrando fidelidade de ninguém no plano nacional – antes, está respeitando as opções que são feitas. O discurso que Pedro passou a intensificar foi o de que está focado, com prioridade, na Agenda Paraíba, ou seja, na solução de problemas urgentes e de novos desafios da realidade local e que considera ter autoridade, se for eleito, para dialogar com o presidente da República, seja qual for o vitorioso, como representante de um Estado importante da região Nordeste. Ao contrário do que imaginavam os adversários políticos, tal discurso não tem prejudicado a campanha de Pedro Cunha Lima no sentido de subtrair-lhe votos decisivos na reta finalíssima da disputa em segundo turno; pelo contrário, somou apoios que, numericamente, estão se revelando promissores para sustentar o ânimo da militância na fase mais crucial do embate.