Nonato Guedes
Coincidindo com o ambiente nacional de tensão entre os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a temperatura tem se elevado na Paraíba, no confronto entre os candidatos João Azevêdo (PSB), que concorre à reeleição, e o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). A radicalização chegou ao âmbito dos tribunais, com a condenação do candidato Pedro Cunha Lima, pela Justiça Eleitoral, por propaganda eleitoral ilícita, conforme entendimento do juiz da publicidade Roberto Gonçalves de Abreu. Cunha Lima foi advertido e penalizado por impulsionar conteúdo negativo contra o seu adversário, uma prática que é vedada de acordo com a legislação eleitoral. Já a coligação de Pedro ameaça representar a coligação de João por ofensas ou acusações que estão sendo difundidas no Guia Eleitoral.
O vídeo que chegou a ser veiculado e que foi impulsionado pelo candidato do PSDB procurou associar o governador João Azevêdo a um denominado “Governo da Calvário”, em flagrante alusão à operação desencadeada pelo Gaeco que investiga casos de corrupção nas áreas da Saúde e da Educação, nas gestões do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), de que Azevêdo fez parte como titular da Infraestrutura e de outras pastas estratégicas de governo. A defesa do chefe do Executivo protestou que as menções feitas omitem, “dolosamente”, que inexiste contra João Azevêdo qualquer denúncia ou condenação pela prática de qualquer crime. A coligação de Pedro Cunha Lima procurou dar dimensão às denúncias utilizando-se de recursos tecnológicos como montagens, trucagens, mecanismos de computação gráfica e efeitos especiais, o que induziu o magistrado a avaliar que isso extrapolou os limites da liberdade de expressão, configurando propagação de inverdades.
Pedro Cunha Lima chegou a formular acusações pessoais graves contra o adversário frente à frente, em debate de que ambos participaram em emissoras de televisão. Os telespectadores perceberam reação de surpresa e estranhamento por parte do governador João Azevêdo diante da virulência das insinuações assacadas, o que, num primeiro momento, teria inibido o candidato socialista quanto a oferecer resposta de bate-pronto ou igualmente contundente. Posteriormente, todavia, a defesa do chefe do Executivo operou para oferecer defesa diante das acusações formuladas e, em paralelo, trouxe a público insinuações sobre pessoas com demandas judiciais que teriam ligação com o candidato Pedro Cunha Lima. De lá para cá, o bombardeio tem sido intenso e adquiriu proporções maiores com a evolução da campanha. No plano nacional, ainda que sem ligação estreita com a realidade paraibana, sucedem-se incidentes em vários Estados, e teve repercussão nacional o teatro criminoso protagonizado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), aliado do presidente Jair Bolsonaro, que reagiu a tiros a uma ordem de prisão emitida pelo Supremo Tribunal Federal e, finalmente, consumada.
No que diz respeito à Paraíba, havia realmente a expectativa dos acirramentos entre os candidatos que estão no segundo turno e os respectivos partidários. A situação se agravou no bojo da divulgação da pesquisa Ipec-TV Cabo Branco, que praticamente sinalizou empate técnico entre João Azevêdo e Pedro Cunha Lima, extraído com base na metodologia da margem de erro dos levantamentos feitos pelo referido instituto na atual época e que se situa em três pontos percentuais, para mais ou para menos. Ao mesmo tempo, a redução dos percentuais de votos de protesto (brancos ou nulos) e de eleitores indecisos tem acentuado nos bastidores dos comitês a guerra pela conquista de eleitores, acrescida, se possível, do engajamento de novos militantes às batalhas que têm sido travadas tanto nas redes sociais como a céu aberto, nos comícios e eventos de rua, em capitais e cidades de diferentes regiões.
Todo esse panorama tem intensificado a atmosfera de radicalização, embora haja um fio de esperança de que não descambe a situação para algo mais grave, com consequências imprevisíveis e irremediáveis. No paralelo, os conflitos envolvem religiosos, que estão engajados ostensiva ou veladamente em mutirões pró-candidaturas presidenciais, políticos que se envolvem em disputas estaduais e que, pessoalmente, estão eleitos ou reeleitos, e comunicadores sociais interessados menos em esclarecer ou informar corretamente a opinião pública do que tirar proveito ou vantagem pessoal de uma das mais atípicas campanhas políticas da história brasileira, que está a caminho do fim. Só não há ilusão quanto ao debate, a esta altura, de ideias e propostas concretas que venham a interessar de perto à população. O chamado “vale-tudo” é, mesmo, a moeda corrente, de ambos os lados, empenhados numa luta encarniçada pela conquista ou preservação de espaços de poder. A dúvida é saber se a democracia, tão decantda, conseguirá sair ilesa em meio a esse fogo cruzado.