Nonato Guedes
O aceno feito pelo ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) ao senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) com vistas ao desdobramento, em embates futuros, do apoio que o parlamentar está dando à candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima ao Executivo estadual repercute intensamente nos meios políticos paraibanos, como expressão do desejo de uma aliança perene que, teoricamente, é focada no compromisso com as demandas urgentes do Estado e, em articular, com as reivindicações da população de Campina Grande, reduto principal dos dois grupos. A fala de Cássio ocorreu durante um evento na Rainha da Borborema com núcleos de apoiadores que reafirmaram o compromisso em eleger Pedro ao Palácio da Redenção no próximo domingo. “Em embates futuros, nós estaremos ao seu lado, tenha certeza disso”, prometeu Cássio, dirigindo-se a Veneziano, na presença da mãe deste, a senadora Nilda Gondim (MDB) e de outras lideranças políticas.
O pronunciamento de Cássio, na opinião de analistas políticos, praticamente sela a pacificação entre dois esquemas influentes que possuem histórico de disputas pelo poder, quer a nível municipal, quer no âmbito estadual. Lá atrás, o patriarca do “clã” de Veneziano, Antônio Vital do Rêgo, confrontou-se com o poeta Ronaldo Cunha Lima, pai de Cássio e avô de Pedro. Cássio e seu grupo enfrentaram Veneziano em eleições à prefeitura campinense e Vital do Rêgo Filho ao governo do Estado. No pleito deste ano, havia a expectativa de que Cássio fosse candidato a governador, até como revanche pela derrota sofrida ao Senado em 2018. As articulações, no entanto, acabaram convergindo para o lançamento do nome de Pedro em substituição ao ex-prefeito Romero Rodrigues, que desistiu do páreo. Cássio passou a atuar nos bastidores, mediante costuras políticas de apoios valiosos para a candidatura de Pedro, que está no segundo turno contra o governador João Azevêdo.
Vice-presidente do Senado Federal, Veneziano Vital do Rêgo oficializou sua candidatura ao governo do Estado em 2022 depois de romper com a liderança do governador João Azevêdo, de firmar aliança com o Partido dos Trabalhadores e de garantir o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Veneziano saiu do páreo na quarta posição, com 17,16%, abaixo do bolsonarista Nilvan Ferreira, do PL, que abocanhou 18,68%. Pedro Cunha Lima ficou em segundo lugar pelo PSDB, tendo como candidato a vice o empresário Domiciano Cabral, do Cidadania e alcançando 23,90% dos votos, ou seja, 520.155 sufrágios. Nilvan declarou neutralidade na disputa estadual, enquanto Veneziano fechou, de pronto, com a candidatura de Pedro Cunha Lima, embora mantendo fidelidade no compromisso de apoio à candidatura de Lula (PT) à Presidência da República.
Mais do que manifestar apoio à candidatura de Pedro Cunha Lima contra o governador João Azevêdo, o senador Veneziano Vital do Rêgo mergulhou de cabeça na campanha do tucano no segundo turno, arregimentando adesões de prefeitos e líderes políticos que seguem a sua orientação em municípios de várias regiões do território paraibano. Ao mesmo tempo, integrou-se à programação de eventos do segundo turno, invariavelmente discursando sobre questões de interesse da Paraíba e, também, abordando problemas da conjuntura nacional. A desenvoltura de Veneziano dentro da campanha de Pedro foi o grande fato novo da história política da Paraíba nas últimas décadas, junto com a aproximação entre MDB e PSDB. No dizer do ex-senador Cássio Cunha Lima, constitui “grandeza, espírito público, discernimento e compromisso”. Em alguns setores, reinava dúvida sobre o grau de engajamento de Veneziano que, no final das contas, revelou-se acima das expectativas.
É fora de dúvidas que o comportamento do senador emedebista sensibilizou profundamente o ex-governador Cássio Cunha Lima, que vislumbrou, então, a chance de uma união política mais duradoura entre grupos que têm expressão política na Paraíba e no país. Foi todo esse clima que levou Cássio a deixar claro, de forma enfática, que Veneziano terá o apoio de Pedro, o seu e o de outras lideranças engajadas no atual processo, em “embates futuros”. A respeito desses embates, Veneziano não tem falado. Ele tem a possibilidade de vir a ser prestigiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se este for vitorioso na finalíssima do próximo domingo. O nome do senador paraibano circula com boa cotação, tanto junto ao núcleo diretamente ligado a Lula como junto ao “staff” que o deputado Pedro Cunha Lima comanda como candidato a governador da Paraíba. A atitude de Pedro, declarando neutralidade no páreo presidencial no segundo turno, facilitou acomodações com o esquema de Veneziano. “Nós mostramos que é possível fazer política com “P” maiúsculo e com espírito público em defesa da Paraíba”, asseverou Cássio, reforçando a expectativa quanto aos desdobramentos da aliança que está firmada.