Nonato Guedes
Há quatro anos, o governador João Azevêdo (PSB), que postula a reeleição amanhã contra o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, fez sua estreia na carreira política e foi vitorioso ao Palácio da Redenção em primeiro turno, com 1.19.758 votos, equivalentes a 58,18% do total de votos válidos apurados no Estado. O segundo colocado foi Lucélio Cartaxo, que concorreu pelo PV e obteve 23,41%, ou 450.525 votos. Em terceiro lugar ficou o então senador José Maranhão, que concorreu pelo MDB e alcançou 17,44%, ou 335.604 sufrágios. Participaram daquele pleito, ainda, Tárcio Teixeira, do PSOL, que ficou com 15.522 votos e Rama Dantas, do PSTU, a quem foram conferidos apenas 3.146 sufrágios. O pleito foi realizado no dia sete de outubro e João apoiou à presidência da República o candidato Fernando Haddad, do PT, que no final das contas perdeu o páreo para Jair Bolsonaro (PSL), que havia se apresentado como “outsider”, apesar da militância no Parlamento. A decisão em segundo turno constitui a principal diferença na jornada atual encetada pelo governador, acrescida do fato de que, este ano, ele enfrentou adversários mais competitivos, como Nilvan Ferreira e Veneziano Vital do Rêgo, além de Pedro Cunha Lima.
Azevêdo contou com declaração de voto da parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então enrolado em demandas judiciais e processuais e que, por causa disso, foi substituído na disputa por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação e Cultura na Era petista. O “grande eleitor” na Paraíba, assim considerado pelos analistas políticos, foi o então governador Ricardo Coutinho, que era filiado ao PSB e praticamente escolheu o nome de João do bolso do colete. Na época, Ricardo vivia o auge da sua liderança e do seu prestígio na Paraíba, tanto que se deu ao luxo de não concorrer ao Senado, apesar das projeções otimistas de que tinha tudo para conquistar uma das duas vagas. Coutinho obstinou-se em ficar no exercício do mandato até o último dia, com dois objetivos, segundo confessou depois: o de eleger João Azevêdo e de contribuir para derrotar o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que pleiteava reeleição ao Senado. As duas metas foram atingidas.
Irmão gêmeo do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, Lucélio havia estreado em disputa política em 2014 como candidato ao Senado, em aliança com Ricardo Coutinho, que buscava reeleger-se ao governo. Só havia uma vaga em disputa – que acabou sendo conquistada pelo ex-governador José Maranhão, que morreu no exercício do mandato por complicações da Covid-19. A vice de Lucélio em 2018 foi a doutora Micheline Rodrigues, mulher do então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que era filiado ao PSD. Por sua vez, o candidato João Azevêdo acabou optando por adotar como companheira de chapa a doutora Lígia Feliciano (PDT) que estava como vice de Ricardo Coutinho. A articulação demandou sucessivos entendimentos políticos e Lígia foi confirmada praticamente na undécima hora das definições, com a condição de manter a representatividade política de Campina Grande no cenário de poder estadual, como reconhecimento à importância do segundo colégio eleitoral do Estado.
Na verdade, a formação da chapa Lucélio-Micheline foi uma consequência do jogo de empurra entre os então prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e de Campina Grande, Romero Rodrigues, sobre qual deles representaria as cores da oposição ao esquema liderado pelo governador Ricardo Coutinho. O senador José Maranhão ainda tentou se oferecer como candidato de consenso na faixa das oposições, mas não encontrou espaço junto às correntes que se preparavam para o enfrentamento contra Ricardo Coutinho. Diante do impasse e da urgência de definições, Maranhão, que comandava sem contestação o MDB e por ele já disputara o governo do Estado, decidiu testar seu próprio prestígio junto ao eleitorado e assumiu o desafio da candidatura. A divisão das oposições ensaiava-se no horizonte, mas não havia mais recuo e o confronto foi inevitável dentro das condições reinantes de temperatura e pressão.
A performance de João Azevêdo nas urnas, inclusive, sendo eleito em primeiro turno, surpreendeu os meios políticos paraibanos, que não relutaram em atribuí-la ao potencial de liderança de Ricardo Coutinho, combinado com sua capacidade, naquele pleito, de transferir votos para um neófito em política. Mas, conquanto estivesse fazendo sua estreia nessa carreira, Azevêdo já acumulava vasta passagem pela administração pública, no exercício de cargos de secretário nas próprias gestões de Ricardo Coutinho, o que lhe possibilitou desenvoltura na abordagem dos problemas da Paraíba e na proposta de soluções para os desafios mais urgentes. De lá para cá, o registro que se tem é o do rompimento político entre Ricardo Coutinho e João Azevêdo, o que motivou o atual governador a procurar uma sigla para sobreviver (caso do Cidadania) diante da hostilidade que o antecessor lhe movia dentro do PSB. Na sequência, Ricardo acabou migrando de volta para o PT e João logrou ser readmitido nas hostes socialistas. Mas não havia mais clima para reconciliação. A partir daí, João investiu na formação do seu próprio esquema, com o qual comparece neste domingo ao segundo turno que será um xeque-mate para as suas ambições e seus projetos futuros.