Nonato Guedes
Reeleito, ontem, em segundo turno, ao governo da Paraíba, com 52,51% dos votos, ou 1.221.904, contra 1.104.963 votos, ou 47,49% do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), o socialista João Azevêdo agradeceu aos prefeitos que o apoiaram na rodada decisiva e mencionou, também, o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como fator relevante na vitória alcançada. “Somos um governo municipalista (…) Essa vitória não foi minha, foi dos municípios que estiveram comigo”, ressaltou o governador, nas primeiras palavras durante entrevista no comitê central da campanha em João Pessoa. Lula voltou a derrotar Jair Bolsonaro na Paraíba, ampliando a votação para 66,62%, ou 1.601.953, contra 33,38%,, equivalentes a 802.502 votos de Bolsonaro (PL).
Em seu primeiro pronunciamento após ser eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva adotou um tom conciliador. Sem citar nominalmente o adversário, Jair Bolsonaro, o petista criticou o atual presidente e prometeu que vai governar para 215 milhões de brasileiros e não apenas para aqueles que votaram nele. “É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam e nós escolhemos a vida”, enfatizou Lula. Com 100% das urnas apuradas, o petista tinha 50,90% dos votos, ante 49,10% para Bolsonaro. É o primeiro a ser eleito presidente da República pelo voto direto três vezes – antes, venceu em 2002 e 2006. No discurso, Lula acrescentou: “Nós não enfrentamos um adversário; nós enfrentamos a máquina do Estado brasileiro colocada a serviço do candidato da situação para evitar que nós ganhássemos as eleições”. Bolsonaro entra na História como o primeiro presidente não reeleito desde que a reeleição foi instituída, em 1998.
Na Paraíba, a vitória de João Azevêdo teve um simbolismo: ele se firmou como líder político no cenário local. Em 2018, quando foi eleito para o Palácio da Redenção, o resultado foi atribuído, em grande parte, ao prestígio do então governador Ricardo Coutinho, que o lançou à sua sucessão. Desta feita, João Azevêdo comandou pessoalmente as decisões ligadas à campanha e ao projeto de reeleição, tendo autonomia para montar sua chapa, que teve como candidato a vice Lucas Ribeiro, do PP, filho da senadora Daniella Ribeiro, e como candidata ao Senado a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), que foi expressivamente votada mas não logrou êxito no final. João enfrentou a concorrência direta do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), no primeiro turno, na questão do apoio do ex-presidente Lula. Somente no segundo turno, o ex-presidente declarou João como seu candidato. Não obstante, Azevêdo apoiou o petista desde a primeira hora. Ele vê chances de parceria mais sólida, depois de ter enfrentado hostilidade por parte do governo Bolsonaro no primeiro mandato.
A eleição de João Azevêdo contra Pedro Cunha Lima confirmou, na média, pesquisas de institutos especializados em apurar intenções de voto. Na véspera do pleito em segundo turno, a pesquisa do Ipec, contratada pela TV Cabo Branco, apontou o governador com o mesmo índice da primeira pesquisa, ou seja, 53% dos votos válidos, e o adversário com o mesmo patamar, isto é, 47%. Tecnicamente, de acordo com a metodologia do instituto, os dois estavam empatados no limite da margem de erro, de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Na fala de ontem, em cima do resultado final, João Azevêdo frisou que sua reeleição representa uma missão e que vai procurar cumpri-la “da melhor maneira possível”. Uma análise do mapa do Estado revela que o governador obteve desvantagem na Grande João Pessoa e em Campina Grande, mas consolidou situação de favoritismo em regiões influentes do interior do Estado, o que o levou, certamente, a imprimir o selo de “governo municipalista” à sua gestão.
No primeiro turno, João Azevêdo teve como adversários, além de Pedro Cunha Lima e de Veneziano Vital do Rêgo, o comunicador Nilvan Ferreira, do PL, candidato oficialmente apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, e a professora Adjany Simplício, do PSOL. Veneziano, no segundo turno, declarou apoio à candidatura de Pedro e se engajou ativamente em eventos e na programação pelo Estado, mas Nilvan Ferreira declarou neutralidade em relação aos dois candidatos que se enfrentaram. Por outro lado, Pedro Cunha Lima, que no primeiro turno hipotecou apoio à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência da República, ficou neutro no segundo turno. O governador João Azevêdo Lins Filho tem 69 anos, nasceu em João Pessoa e é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba, tendo ocupado secretarias como a de Recursos Hídricos e Infraestrutura e outros cargos técnicos relevantes.