Nonato Guedes
Derrotado nas urnas em segundo turno, convertendo-se no primeiro presidente da República a não ser reeleito no Brasil desde que foi adotado o instituto da reeleição, Jair Bolsonaro (PL) manteve durante todo o dia de ontem a postura de não reconhecer a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que já teve o aval de presidentes de Poderes, de adversários políticos e de chefes de Estado de vários países, alguns dos quais estão agendando encontros com ele para a discussão de pautas comuns, dada a importância do Brasil no contexto internacional. Bolsonaro foi a Palácio, evitou contato com jornalistas, largou as redes sociais e cancelou reuniões com aliados de confiança para debater o cenário, num comportamento que gerou estranheza e preocupação entre os mais próximos.
O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, revelou não ter conseguido conversar com ele mas que acreditava que ele fará “o melhor possível” para o país até o final do mandato. Comentando a demora do mandatário em se pronunciar a respeito, inclusive, oferecendo uma satisfação aos seus eleitores, Tarcísio de Freitas ressaltou: “Eu compreendo a situação agora do presidente, mas eu tenho certeza que ele fez o melhor pelo Brasil, pegou crises muito duras”. E emendou: “Tenho certeza que ele vai fazer o melhor possível até o final do seu mandato”. Para Tarcísio de Freitas, Bolsonaro é o grande líder da direita, “tem um legado aí de 59 milhões, fez senadores, fez governadores, fez deputados federais. Então, realmente, ele tem uma grande força política. Eu acho que a gente não pode considerar esse resultado como uma derrota de forma nenhuma”.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou viagem a São Paulo, já agora, para se encontrar com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou Jair Bolsonaro em disputa acirrada. O peronismo governante da Argentina comemorou o resultado da eleição por ter afinidade política maior com Lula do que com Jair Bolsonaro, com quem Fernández mantém uma relação tensa. Declarou em mensagem que a vitória de Lula abre um novo tempo na história da América Latina. “Um tempo de esperança e de futuro que começa agora”. A vitória de Lula pode implicar na retomada da relação bilateral com um importante parceiro comercial, após a posse do presidente eleito em primeiro de janeiro. “Argentina e Brasil representam um altíssimo nível de produto bruto sul-americano”, disse Fernández, definindo Lula como um “líder realmente singular e impactante”. Estadistas como Joe Biden, dos Estados Unidos, já se posicionaram parabenizando Lula pela vitória e manifestando intenção de dialogar com ele sobre problemas da conjuntura internacional.