Nonato Guedes
Com mais de um milhão de votos alcançados na disputa ao governo da Paraíba, no segundo turno que o confrontou com o governador João Azevêdo (PSB), afinal reeleito, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) credenciou-se, naturalmente, a liderar a oposição nos embates futuros que já envolverão eleições municipais em 2024, sobretudo em colégios eleitorais influentes como João Pessoa e Campina Grande, nos quais o filho do ex-governador Cássio Cunha Lima foi, inclusive, expressivamente votado. Mas, no pronunciamento que fez ontem para avaliar o saldo do pleito, Pedro não assumiu de modo enfático posição de comando ou de liderança no contexto, preferindo dividir o espaço com outros expoentes do que ele chamou de “coletivo”. Foi vago quando se definiu como “fiscal do governo”, disposto a apontar erros para que sejam corrigidos, e abstrato em considerações sobre a conjuntura nacional, que demanda clima de acirramento no pós-eleitoral, entre lulopetistas juramentados e remanescentes bolsonaristas desesperados.
Na verdade, o deputado Pedro Cunha Lima parece ter a compreensão nítida de que constitui um enorme desafio liderar a oposição no cenário político paraibano, sem broche no Parlamento ou no Executivo e, por via de consequência, sem tribuna para expressar opiniões e antagonizar com adversários que o combateram, dentro do esquema governista mas, também, na própria seara oposicionista. A oposição, na Paraíba, está fragmentada desde o período eleitoral que transcorreu em 2022, com nichos autônomos à direita e centro-direita, campo em que Pedro Cunha Lima atua, e à esquerda, onde o parlamentar nunca teve maior receptividade, embora, possivelmente, tenha sido tomado de empréstimo, no voto secreto, no segundo turno, para a revanche contra João Azevêdo por parte de ex-aliados que com este romperam.
Um recorte do cenário local mostra que candidato de expressão, como o comunicador Nilvan Ferreira (PL), que ficou em terceiro lugar no páreo ao governo e foi o candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro no Estado, recusou-se terminantemente a formar no palanque de Pedro no segundo turno, embora este fosse o grande adversário do governador João Azevêdo, que Ferreira combateu com veemência no primeiro turno. Apenas o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), posicionado em quarto lugar no confronto, apoiou Pedro decididamente, engajando-se em eventos políticos, promovendo adesões de lideranças que no primeiro turno estavam no seu entorno e engrossando o mutirão para tentar desgastar a imagem do governante reeleito. A presença de Veneziano no palanque de Pedro ficou turvada, de certa forma, pela sua adesão irrestrita à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. Cunha Lima, como se sabe, declarou-se “neutro” na corrida presidencial, atitude que foi muito criticada, sobretudo, por bolsonaristas, que ainda tinham uma ilusão da reprodução do cenário polarizador no Estado.
Alguns analistas políticos acham que a flexibilidade de Pedro quanto à sucessão presidencial, foi estrategicamente correta para atrair votos das mais diversas herdades políticas, fossem elas de inspiração bolsonarista ou de carimbo lulopetista. Em relação a este último segmento, há que se registrar comentário feito pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PT), adversário visceral de Pedro e aliado incondicional do presidente eleito Lula, elogiando a postura do tucano paraibano que, a seu ver, facilitaria atração de apoios para derrotar o projeto de reeleição de João Azevêdo. Mas é preciso ressalvar que avaliações desse tipo não produziram mobilização efetiva por parte de expoentes da esquerda lulista no Estado para reforçar o cacife de Pedro, por causa de divergências históricas bastante conhecidas. Além de Veneziano, o fiel escudeiro de Cunha Lima foi mesmo o senador eleito Efraim Filho, do União Brasil, que assumiu sem destemor seu perfil bolsonarista no ambiente conflagrado que não possibilitava tibieza ou meio termo. Seja como for, Pedro somou mais votos, o que tornou acirrado o derradeiro embate com Azevêdo.
Do ponto de vista da performance do deputado Pedro Cunha Lima como candidato a governador da Paraíba não há maiores reparos por parte de aliados ou de adversários. Avalia-se que ele cumpriu seu papel à altura, dentro das limitações impostas, e deu trabalho ao governador João Azevêdo, fazendo com que, em algumas fases do segundo turno, a campanha fosse tida como tecnicamente empatada. Ou seja, não foi um concorrente decorativo – e para isto contribuiu, sem dúvida, o seu estilo, bem como sua autenticidade como adversário do governador reeleito. Em inúmeras oportunidades, nos debates públicos, Pedro foi ofensivo na iniciativa da abordagem de temas polêmicos, aqui e acolá encurralando o chefe do Executivo nas lacunas delicadas da administração que ele empalma. Isto lhe deu a sonhada identidade própria pela qual lutou com denodo para se apresentar como expoente da mudança, como intérprete da renovação geracional em que baseou seu discurso de candidato a governador. A perspectiva de que Pedro não venha a disputar mandatos em 2024 ou em 2026 pode rifá-lo, definitivamente, da política. Seu pai, Cássio, depois da derrota em 2018, fechou-se em copas quanto a novas disputas – e é quase certo que tenha concluído seu ciclo na política paraibana. A diferença é que Pedro é muito jovem, ainda, para se afastar de uma cena onde poderia brilhar cada vez mais, segundo todos os prognósticos agitados em círculos políticos do Estado.