Nonato Guedes
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deverá ter maioria tanto na Câmara Federal quanto no Senado para garantir a governabilidade a partir de 2023. Foi o que asseverou, em entrevista à Globonews, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos principais coordenadores da campanha vitoriosa do candidato do PT à Presidência da República. Randolfe informou que já deu partida às conversas com alguns senadores e está otimista em relação à construção de uma base parlamentar que vai permitir a Lula concretizar os projetos de governo que foram prometidos durante a campanha. A sua expectativa pessoal é que o governo Lula possa ter 60 ou mais senadores e 300 ou mais deputados na Câmara.
Randolfe acredita que o núcleo ideológico ligado ao presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL) não teria capacidade para se tornar majoritário na oposição ao petista. “O que é núcleo ideológico que pode vir a fazer oposição ao governo, na prática, não é grupo majoritário, não é maioria que foi formada, é grupo minoritário. Eu me dedicarei para que possamos ter a maioria necessária. Estou otimista que a construção dessa maioria necessária é possível de se viabilizar”, acrescentou Randolfe, cotado para um ministério na gestão de Lula, ainda sem qualquer definição. O senador frisou que não está no radar do presidente eleito o interesse de se envolver nas eleições de Mesas Diretoras do Congresso Nacional, porque Lula está focado em resolver os problemas enormes do país. O contencioso começa a ser levantado pela equipe de transição chefiada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), que já abriu canais de interlocução no Palácio do Planalto.
Em paralelo, integrantes do “Centrão” já sinalizaram ao presidente eleito que ele pode contar com uma base parlamentar sólida se não criar obstáculos à tentativa de reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara. No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) também deverá tentar a reeleição, entretanto, ao contrário de Lira, que é aliado de Bolsonaro, Pacheco mantém maior proximidade com o petista. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, admitiu que deve negociar um apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e uma das condições será o apoio dos petistas à reeleição de Rodrigo Pacheco. “A recondução de Pacheco tem naturalidade, porque dois terços dos senadores continuam. Só renovou um terço. E o trânsito de Pacheco é muito bom, ele é muito respeitado pelo seu equilíbrio. Não vejo por que o governo Lula teria interesse em criar uma disputa no Senado”, afirmou Kassab ao UOL.
Para o presidente nacional do PSD, é possível acabar com o orçamento secreto no Congresso, como foi cogitado pelo ex-presidente Lula durante a campanha eleitoral, em debates e entrevistas. “É possível, mas a mudança deve acontecer aos poucos, em meio a um entendimento para que gradualmente se estabeleça condições para ter outra forma de destinação de recursos provenientes de emendas parlamentares”, traduziu Gilberto Kassab. O dirigente nacional do PSD enfatiza que os parlamentares têm que deixar de ser despachantes de prefeitos e governadores para debater o Brasil e sugeriu que o presidente da Câmara, Arthur Lira, tem uma oportunidade ímpar de liderar esse processo, que pode ser de transição. Sobre Arthur Lira, a propósito, apurou-se que o presidente eleito recomendou a interlocutores mais próximos que adotem uma postura de diálogo, não de hostilidade, ao dirigente da Câmara dos Deputados. Lula, no final das contas, é o regente do projeto que se propõe a viabilizar um “novo Brasil”, e demonstrou jogo de cintura ao agregar apoios na campanha.
O presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), que controla uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, com 59 parlamentares em 2023, revelou que está disposto a conversar com o PT para integrar, inclusive, a base aliada do governo Lula, e garantiu que não estará na oposição. Apesar do aceno feito agora a Lula, a maioria da bancada eleita do União Brasil apoiou Bolsonaro nas eleições. Luciano Bivar, que há quatro anos cedeu o PSL para que Jair Bolsonaro fosse eleito presidente da República, hoje declara que é um “radical do Estado de Direito” e quer concorrer à presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem. A movimentação favorável aos primeiros passos do terceiro governo de Lula não surpreende ao senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que foi candidato a governador da Paraíba em aliança com o PT. Para Veneziano, o próprio “amadurecimento político” demonstrado por Lula em negociações colabora para que seja fomentado um ambiente auspicioso para a instalação da nova gestão. Veneziano enfatiza: “Eu sou otimista com as perspectivas que estão vindo”.